FellipeFFCardoso 15/11/2023
É uma experiência enriquecedora voltar a livros do Romantismo brasileiro em tempos de aprofundamento psicanalítico (mesmo que muitos de nós não sejamos psicólogos ou psicanalistas, vivemos numa época em que a informação, a velocidade com a qual ela nos chega, a qualidade e a reflexão crítica, nos deixa mais complexos na aventura humana, mas não menos sensíveis ao que ela nos provoca). O leitor mais desavisado pode considerar um enredo bobo, datado, um tanto irreal. No entanto, há nos livros românticos algo de primitivo que nos une a todos na construção sentimental de nossa formação enquanto indivíduos. Neste, em específico, escrito por uma mulher negra nos horríficos anos da escravatura brasileira, nos traz uma camada extra de contexto que, ainda hoje, é sensível na essência da existência de nossa cultura, aquilo que nos faz povo. Por mais fruto de seu tempo que o livro possa ser, mantém-se uma leitura que abre espaços para a subjetivação de seus personagens, por mais estereótipos que tragam em sua representação. Tais estereótipos, neste caso, ainda encontram espelhos nos dias de hoje. A autora foi muito feliz ao sopesar as inserções potentes de personagens secundários para dar a eles a dissonância do tipo de literatura que o Romantismo produziu, porque é pelo reforço da futilidade do enredo amoroso que reforça o protagonismo deles, sem deixar de apresentar, ainda assim, para além do racismo e do regime de tortura que se empregava à época (e ainda hoje), outras misérias de nossa formação, como o machismo, o elitismo, a conivência religiosa. Recomendo a leitura.