Úrsula

Úrsula Maria Firmina dos Reis...




Resenhas - Úrsula


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Alê | @alexandrejjr 04/10/2020

A ficção que não se apaga

O romance necessário. Creio que essa seja a melhor definição para quem pergunta por que se deve ler Maria Firmina dos Reis. Pelo menos foi assim que pensei quando terminei a última página do livro.

Não é à toa que “Úrsula” tem hoje a posição que lhe foi negada em seu tempo. Maria Firmina, mulher, negra e educadora, não teve vez no mundo literário - e na sociedade - extremamente racista e machista em que viveu. Entrou no portal do esquecimento e de lá foi resgatada muitos anos depois por um bibliófilo e por pesquisadores que lhe devolveram o devido lugar histórico. Seu livro, é preciso lembrar, respira a plenos pulmões o romantismo em cada linha escrita. No entanto, não é no estilo ou na forma que reside sua força, pois ela está presente na inovação que trouxe consigo, aquela que ninguém queria saber: a de dar voz às minorias, aos marginalizados.

A professora Maria Firmina possuía uma consciência plena dos objetivos que pretendia alcançar. Engana-se quem busca na leitura deste livro uma joia rara da prosa brasileira. E nem era essa a intenção. A história em si é bem quadradinha e às vezes tortuosa devido aos encontros entre a princesa prometida e o príncipe benevolente. O que salta aos olhos é a impressionante coragem da autora em ser abertamente abolicionista e entregar ao leitor escravos humanos, não escravos objetos, como gostavam (gostam) de ler os homens brancos com poder. Para não fugir do clichê, “Úrsula” foi, é e será um romance de resistência, ainda que artisticamente seja imperfeito, nada pode tirar a bravura de seu pioneirismo.

Apesar da minha atenção ser desviada em alguns momentos pela quantidade de mesóclises que remetem ao nosso recente ex-presidente vampiresco, ou dos melosos encontros entre nossa personagem título e o mancebo Tancredo, casal condutor do romance, a leitura de “Úrsula” é extremamente satisfatória. Isso, é claro, pode ser potencializado pela edição que você escolher ler, como foi meu caso ao optar pelo e-book disponibilizado temporariamente pela Companhia das Letras, que trouxe uma quantidade de informações auxiliares importantes. Portanto, leia Maria Firmina dos Reis e faça mais do que isso: leia mulheres, leia mulheres negras.
andrea weber 05/10/2020minha estante
Parabéns pela resenha...amei.Já quero ler ??


Alê | @alexandrejjr 05/10/2020minha estante
Obrigado, Andrea, a leitura vale o tempo! ?


Locimar 24/01/2021minha estante
Lendo e me deliciando com o linguajar de época. Lendo mulheres, escritoras negras, de ontem, de hoje... Uma prosa abolicionista.


aliuscha 26/05/2021minha estante
Resenha foda, abalô


Alê | @alexandrejjr 26/05/2021minha estante
Obrigado pelo elogio! ??


Samantha.Ultramari 25/03/2023minha estante
Vou ler, com ctz! Qt às mulheres negras, comecei por Carolina Maria de Jesus e me apaixonei. Obrigada pela bela esenha.


Alê | @alexandrejjr 07/04/2023minha estante
Eu que agradeço a leitura, Samantha!




Glétsia 29/05/2017

Maria Firmina dos Reis, mulher corajosa.
É uma pena não poder cadastrar a edição FAC-Similar que li, pois ela não possui o código ISBN.
Maria Firmina, uma poetisa. Lê-la é deleitar-se a partir da introdução de seu livro. Extasio-me logo no início com tanta riqueza. Pergunto-me: “Como pode alguém com o pouco conhecimento que existia no século XIX e ainda do que lhe foi negado, por ser mulher, pobre, bastarda e negra, escrever tão bem e tão eloquente, com metáforas a nos fazer a imaginação fluir descontrolada e a causar arrepios de tanta sensibilidade? Estou falando da minha leitura de Úrsula, escrito em 1959, considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil e, apesar de alguma existente controvérsia, é considerado o primeiro romance escrito por mulher brasileira. Esta mulher é nada menos do que Maria Firmina dos Reis, maranhense, ludovicense, mas que viveu e passou boa parte de sua vida até o seu falecimento em Guimarães, também município do Maranhão. Demorei tanto nessa leitura porque ela me levou para outra época e também a estudar a história
Ela descreve a natureza de uma forma apreciativa, denuncia a situação horrenda dos escravos e das mulheres diante dos maridos déspotas Dessa forma fica evidente a mulher corajosa que foi, pois falar de tais temas nesse período, principalmente por uma mulher, era algo inconcebível.
Ela faz algumas intertextualidades ao fazer referência à mitologia grega, às histórias bíblicas, ao personagem Otelo de Shakespeare e à obra de Bernardim de Saint Pierre (Paulo e Virgínia).
Demonstra ainda conhecimentos geográficos quando faz referência aos Andes.
Relata os sofrimentos da vida e sobre as questões universais que permeiam o homem, dentre outras, questiona se os males findam após a morte. Se preocupa e dá conselhos sobre bebida alcoólica. E ainda, só a partir da leitura de Úrsula compreendo porque tantos seres humanos já foram subjugados por outros de índoles tão perversas e cruéis, pois os subjugados não seriam capazes de fazer qualquer mal a outro ser humano, mesmo ao mais terrível algoz. Enfim, amei tudo...Virei fã de minha conterrânea.


“São como notas de uma harpa eólica, arrancadas pelo roçar da brisa, ou como o sussurrar da folhagem em mata espessa”. (pag.8. Úrsula)
Clarissa.Pires 14/06/2017minha estante
Oi Glétsia, a edição fac-similar está disponível online? Onde posso ler?


Laine 12/08/2017minha estante
Oi Glétsia. Também compartilho a dúvida da Clarissa. Não consigo esse livro. Está disponível em formato digital ?


Michely Looz 11/11/2017minha estante
Li uma matéria sobre esta incrível mulher na Cult hoje e, -depois desta sua resenha, impecável diga-se de passagem, - com certeza irei ler o romance assim que tiver a oportunidade.


Glétsia 12/11/2017minha estante
Fico imensamente feliz de ler esse seu feedback e saber que contribui para sua busca por essa leitura.




Angie - @livros_libras 04/01/2023

Quem foi o primeiro escritor brasileiro da história?
Foi uma mulher: Maria Firmina dos Reis.

Que livro magnífico! A busca por liberdade traçada ao amor romântico e as tramas do Brasil escravocrata, que desfigura todo e qualquer ser humano.

Este livro é um belo recorte da nossa literatura, da nossa potência entre as páginas! Leiam, leiam, leiam.
Heloisamarina_ 04/01/2023minha estante
Li esse livro e alguns contos dela. Achei um absurdo as obras dela não serem mais divulgadas.


Angie - @livros_libras 09/01/2023minha estante
Vou ler os contos em breve também.


Heloisamarina_ 09/01/2023minha estante
Eu gostei muito, espero que goste tbm.




Jess 02/03/2017

Primeiro romance afrodescendente brasileiro
Tive o prazer de conhecer Maria Firmina dos Reis na disciplina de Modernidade I da Graduação. Mulher de fibra, maranhense, educadora, escritora e poetiza, é admirável a sua criticidade para a época em que viveu. O romance me cativou bastante por retratar a realidade vivenciada pelos escravos no Brasil em 1859 com esse tom abolicionista e defesa da igualdade entre branco e negro. Sem dúvidas, a influência religiosa na vida de Maria Firmina dos Reis colaborou com esse sentimento de tristeza e insatisfação em relação ao sistema escravocrata. Para além disso, a autora constroi uma narrativa incrível e torna-se uma leitura indispensável para todo aquele que quer saber um pouco mais sobre esse período vivido no Brasil.
Laine 12/08/2017minha estante
Nossa Jess. Que emoção deve ter sido conhecer a Maria Firmina. Sou louca pra ler Úrsula. Sabe como conseguir o livro, físico ou digital? Obrigada!


Oliveira 17/03/2018minha estante
ola, caso alguem precise do livro, tenho ele digital, consegui num curso que fiz. me procure no email eireann.ely@gmail.com que envio ele.




laxxal 02/12/2021

Úrsula é um livro que deveria ter muito mais reconhecimento, esse é o primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher, uma mulher negra e nordestina que escreveu justamente sobre questões raciais vivendo em uma das províncias mais escravistas do Brasil. Fiquei completamente impressionado depois dessa história e da aula absurda de literatura nos posfácios desse livro.

Essa história possui dois focos: o romance central e o outro, que é o principal, e aparentemente conta a história dos personagens coadjuvantes, mas que são os verdadeiros protagonistas. Achei ambas as histórias admiráveis, a primeira me lembrou bastante de "O Morro dos Ventos Uivantes" (um dos melhores livros que já li) com romances de muita intensidade com amor, violência e melancolia, já a segunda, mostra como as pessoas escravizadas viviam, pela primeira vez, mostrando seus pontos de vista com suas individualidades, questões pessoais, objetivos e protagonismo de alguma forma nas lutas abolicionistas.

Esse livro, como aprendi durante a leitura, possui muitos pontos inéditos para a literatura e para o seu contexto, é fenomenal a qualidade e profundidade desse desenvolvimento, onde ao ler qualquer parte, você consegue aprender ou interpretar algo diferente.

Certamente se tornou um dos meus favoritos, infelizmente só fui conhecer Maria Firmina agora, mas não vou perder mais tempo para ler outras coisas da autora e com certeza farei releituras dessa preciosidade que é Úrsula.
Duda mota 02/12/2021minha estante
Obrigada por ter aparecido em meu feed e me apresentar a esse livro que somente pela sinopse tão espetacular, já me fez querer lê-lo imediatamente. Com certeza ele será uma das minha próximas leituras.


laxxal 02/12/2021minha estante
aah que ótimoo, fico feliz! muito obrigado, leia mesmo que vale super a pena. espero que vc goste dele




Luciano 04/01/2021

Empolgante!
Essa reunião das obras da Maria Firmina dos Reis é espetacular. "Úrsula" é considerado o primeiro romance de autoria feminina e negra no Brasil. Apesar de ser centrado em um triângulo amoroso branco, são os personagens negros que dão o frescor que as obras em prosa dessa época tanto precisam. Eles são explorados em profundidade pela autora, ganham capítulos próprios e são importantíssimos no desenrolar dos acontecimentos da narrativa. "A Escrava" é um conto revolucionariamente abolicionista. E ainda há "Gupeva" (conto indianista) e "Cantos à Beira-Mar (livro de poesias). Uma escritora romântica pra ninguém botar defeito!
César 04/01/2021minha estante
Sensacional


Luciano 04/01/2021minha estante
Muito bom




Thamiris.Treigher 28/01/2024

Essencial na literatura brasileira
Aqui está um clássico que deveria ser muito mais lido e conhecido. Não só por sua história, mas também por sua autoria, significado e representatividade.

Antes de falar sobre o enredo de "Úrsula", é muito importante comentar sobre a autora da obra, Maria Firmina dos Reis, mulher maranhense, negra e uma das primeiras romancistas brasileiras. Tudo isso já explica muito sobre sua invisibilidade e anonimato por tanto tempo.

O romance, escrito em 1859, escandalizou a sociedade da época. Ele trouxe uma abordagem crítica à escravidão e à sociedade escravista e patriarcal, além de destacar personagens africanos e afro-brasileiros escravizados, escancarando aquela realidade injusta e tirana.

Úrsula foi um dos primeiros romances abolicionistas brasileiros. Por meio de um estilo ultrarromântico (que eu amo!), conhecemos a história do par romântico Úrsula e Tancredo, que se apaixonam perdidamente mas logo veem esse amor cercado de obstáculos e desafios.

Outros personagens em destaques são Túlio e a velha Susana, ambos escravizados. Túlio ganha sua liberdade ao salvar a vida de Tancredo, mas Susana não tem o mesmo destino. Conhecemos sua longa e sofrida vida, que nos sensibiliza fortemente.

O monstruoso comendador P., tio de Úrsula, também se apaixona pela moça, e isso leva a uma sequência de acontecimentos intensos, dramáticos e revoltantes, enfatizando o terrível sistema patriarcal e senhorial da época. Esse é realmente um romance repleto de emoções e complexas tramas familiares.

Um destaque dessa edição maravilhosa da @penguincompanhia é sua introdução, contando muitos detalhes sobre a obra e a vida de Maria Firmina dos Reis, o que é importantíssimo para entender o lugar único que esse romance representa para a literatura brasileira.

Amei muito! Todos deveriam ler! ?
Fabio 30/01/2024minha estante
Belíssima, resenha, Thamiris!


Thamiris.Treigher 31/01/2024minha estante
Muito obrigada, Fabio. Fico feliz que tenha gostado!




Vinicius39 25/11/2022

Um marco na literatura brasileira!
Um dos melhores livros que eu já li na vida! É um livro nacional,escrito por uma mulher preta e praticamente o primeiro romance de que uma mulher escreveu no Brasil,tudo isso com temas necessários,forte e mesmo tendo mais de 150 anos,é tão atual...

Esse livro aborda a vida de uma mulher preta escrava e dos escravos que moram por ali,aborda o romance de um homem branco e uma escrava,em uma época tão complicada como aquela,aborda a luta dos escravos e principalmente a resistência. A autora escreve tudo isso de uma forma e com uma história tão legal,um romance cheio de plots,cheio de mensagens e lições que as pessoas necessitam ler urgentemente nos dias de hj.

É uma leitura cheia de significados,de mensagens,de luta,de humanidade... Isso deveria ser leitura obrigatória nas escolas e em todos os lugares,todo mundo deveria ler essa obra. Eu não conhecia até pouco tempo atrás e eu me pergunto,como uma obra desse nível,é esquecida no tempo? Bom,a gente já sabe a resposta né...

Só leiam e compartilhem para que essa obra não se perca no tempo.
Jakee 27/11/2022minha estante
Essa leitura é extremamente importante e necessária. Infelizmente, como você disse, esquecida no tempo. Eu amei esse livro! A experiência foi incrível é apaixonante. É muito bom ver como nossas leituras conjuntas tem nos ajudado a encontrar livros incríveis assim como esse. ????


Vinicius39 27/11/2022minha estante
@Jakee SIM!!! tô amando muito,a gente descobre cada coisa maravilhosa...




Paloma 20/12/2021

Havia um total desconhecimento da minha parte sobre a existência desse romance, da autora e da representação social e histórica que ele traz. Diria que isso, por si só, já fez a experiência de leitura da obra ser incrível, porque me engrandeceu de muitas formas ter contato com um livro tão potente e que passou tanto tempo sendo invisibilizado.

A trama e estilo de escrita da autora fazem jus ao movimento romântico em que a obra se insere. Há um excesso de descrições das paisagens, dos sentimentos dos personagens, o que pode tornar a leitura inicialmente monótona e cansativa. O ritmo do livro muda a partir da segunda parte, especialmente com a participação ativa de Susana na narrativa.

É arrebatadora a forma como Susana, escravizada, tem lugar de destaque, com sua própria voz, histórias, tradições dentro da narrativa. Assim como também o são Túlio e Antero, um ex escravo e um ainda escravizado que tem todo um poder de agência na construção dessa trama toda. Nunca tinha lido nenhum livro que desse tanto lugar de destaque e de voz ativa a personagens escravizados como Maria Firmina dos Reis faz em seu romance. Esse, para mim, foi o maior dos encantos com a obra.

Os imbróglios do romance entre Úrsula e Tancredo, apesar de serem o cerne da narrativa, acabaram sendo secundários para mim. A crítica à escravidão, ao autoritarismo dos senhores, ao patriarcado é o que esse romance tem de mais interessante e engrandecedor. Vale super a pena se enveredar pelo livro de Maria Firmina dos Reis, primeira mulher negra a ter um romance publicado no país, a precursora do abolicionismo na literatura brasileira.
Jéssica 20/12/2021minha estante
Uma pena a escritora não ter tido seu dedivo reconhecimento em vida.


Paloma 20/12/2021minha estante
Uma pena mesmo, Jess. Mas fico feliz que nos últimos anos tem havido esse resgate da obra para dar visibilidade a ela, é importante.




Everton 14/07/2021

Leia pela importância
O romance Úrsula trata de temas sociais importante como a crítica à escravidão, patriarcado, violência contra a mulher, moralidade e obsessão amorosa. No entanto, por se tratar de uma obra do Romantismo, faz tudo isso por meio de uma idealização da realidade, sem aprofundar nenhum desses temas, que usa somente como plano de fundo para uma história "mamão-com-açucar".
É claro que precisamos considerar o contexto de produção e a inteligência da autora ao tratar destes temas com respeito às convenções literárias da época, mas se visto hoje, com base nas conquistas sociais que já alcançamos, pode haver a expectativa de um romance mais complexo.
Por isso, é um romance muito importante, dado o contexto de produção e sua autora, mas se o leitor procurar uma estrutura narrativa mais bem trabalhada e com temáticas sociais densas, pode se decepcionar com esta obra. Então, leia pela importância!
Amanda 11/10/2021minha estante
Parabéns, você fez uma observação perfeita.


Everton 11/10/2021minha estante
Obrigado ?




Maria.anamariaprof 12/04/2020

Lindo
Me agradou muito.
Eu não me incomodo por ser um romance. Até gosto sabe... Mas o prêmio final fica para as questões abolicionistas!
OgaiT 13/04/2020minha estante
Eu sou doido para ler esse, pretendo trabalhar ele dentro da sala de aula


Maria.anamariaprof 08/05/2020minha estante
Eu amei, vc vai gostar tb




Henrique Fendrich 06/01/2022

Uma preciosidade esse livro, seja pelas improváveis condições para que fosse publicado por uma mulher negra em plena época da escravidão, em 1859, seja pela riqueza de conteúdo e de linguagem que esse mesmo contexto histórico é capaz de oferecer ao leitor contemporâneo.

Em termos de estilo, tem-se um texto romântico e carregado de sentimentalismo, como eram usuais à época, mas mesmo nesse ambiente a autora oferece algo novo, como, em geral, todos os estudiosos destacaram: o fato de dar voz a escravos para que refletissem sobre a sua própria condição, inclusive em uma cena da qual branco nenhum participa.

Trata-se, contudo, de reflexões incidentais, já que a trama principal envolve um par romântico de brancos, vindos de famílias escravagistas, mas que, mesmo assim, destacavam-se pela pureza e nobreza de espírito, o que se refletia inclusive no tratamento que dispensavam aos escravos. Nesse sentido, o "mocinho" Tancredo emite juízos abertamente antiescravagistas.

Além dessa escravidão de fato, o livro tem como tema principal outro tipo, que é a escravidão dos seus desejos e dos seus apetites. Fernando, crudelíssimo proprietário de escravos, era ele próprio escravo dos seus impulsos, deixava-se facilmente dominar por eles e, agindo dessa maneira, matava, perseguia, torturava, fazia o possível para satisfazer a sua cobiça.

Também o pai de Tancredo e a ex-amada Adelaide cederam a caprichos momentâneos e com isso perderam o controle das suas vidas, atraindo sobre si desgraças e sofrimentos. Por outro lado, o escravo Túlio, se bem que tenha levado uma vida de muito sofrimento físico, tinha a consciência de que possuía a liberdade da mente e, com sua atitude, provava ser muito mais digno e valoroso do que aqueles que tinham o poder de subjugar outros seres humanos.

Não que, no fim das contas, isso tenha evitado o terrível desfecho, que, inclusive, parece ter sido estendido a todo mundo (pessoalmente, eu gostei que o desfecho não fosse feliz como talvez seria de esperar de um romance que fosse puramente sentimental). Há, de todo modo, um claro apelo a virtudes e boas condutas que, nitidamente, não contemplam a escravidão.

O livro se mostra atual mesmo em nossa época, pois todos os dias lemos sobre homens que, se bem que possam dispor livremente de seus corpos, estão escravizados à ideia de que não podem ser rejeitados por mulher alguma, sob pena de promoverem verdadeira carnificina. O comportamento de Fernando em relação a Úrsula, assim como o do pai de Tancredo em relação a mãe dele, ainda são comuns e estão por trás de tantos casos de feminicídio.

Em relação à linguagem, especificamente, há aqueles exageros líricos próprios dos livros românticos, mas me chamou bastante a atenção o uso da palavra "transporte" com o sentido de "arroubo", que Maria Firmina usa com muita, muita frequência mesmo: "num transporte de íntima e generosa gratidão", "os virtuosos transportes do seu coração", "correu para ela com indefinível transporte", "no primeiro transporte de alegria", "abraçou-me com transporte", e por aí vai.

Também frequente é o uso de "embalde", forma menos comum para "debalde" (que, contudo, também já está em franco desuso há muito tempo). Um livro escrito há mais de 160 anos certamente terá notáveis diferenças de linguagem e felizmente essa edição da Penguin parece ter mantido grande parte delas, o que torna a leitura igualmente interessante.

Sem dúvida, um livro que deve ser conhecido por todo brasileiro que gosta de ler.
Alê | @alexandrejjr 18/02/2022minha estante
Mais uma formidável análise, Henrique, parabéns! Esse livro era - talvez ainda seja, pra falar a verdade - uma joia perdida da nossa literatura, justamente por tudo que tu apontasse no teu texto e pelos inteligentes paralelos que fizesse com a nossa contemporaneidade.




Isrrael Reis 19/08/2020

Úrsula, a mulher que chora do começo ao fim.
A mulher chora tanto que dá pra encher o Rio Jaguaribe todinho só com as lagrimas dela e do amante dela.

O livro apesar de ter muitas palavras que nem sabiam que existiam (por causa do modelo de escrita da época) não foi uma pedra no meu caminho já que li no kindle. E, cara, a bicha chora do começo ao fim. Tem hora que dá vontade de entrar na história e falar: "bicha, se acalme, se quizer fazer show aluga um palco". Os pontos fortes do livro: já que estamos falando do século em que negros era escravizados, temos aqui personagens negros com voz, só que a passagem é rápidinha vaptivupt.

Aaaaaah o que falar desse final que você fica o próprio meme da Nazaré Tedesco.
Ananias 19/08/2020minha estante
Lkkk adorei seus comentários




Gabi 11/07/2021

Leiam "Úrsula" de Maria Firmina dos Reis!
Primeiro quero dizer que recomendo bastante a leitura do livro. Primeiro porque se trata de uma autora mulher escrevendo num contexto em que mulheres não só não eram publicadas como não eram consideradas capazes de escrever (vide o comentário da própria autora se justificando antes da história começar). Segundo, porque se trata de uma obra que faz da liberdade uma temática recorrente ao longo da narrativa.
Maria Firmina fala sobre a incoerência da manter pessoas escravizadas ainda no século XIX. Talvez ainda por uma lógica conservadora, recorrendo a argumentos e estratégias religiosas como, por exemplo, a tentativa de redenção de Fernando através da religião no final do livro, mas ainda assim, denunciando as condições de desumanização que negros e negras vivenciavam em escravidão.
***
Pra mim, uma das passagens mais significativas e preciosas do livro não está ancorada no enredo principal (o romance branco, que tem seus "problemas de época"), mas a narrativa de Susana - uma mulher idosa ainda em situação de escravidão - quando, falando sobre a compra da alforria, Susana narra a sua compreensão de liberdade a partir de suas lembranças e história pessoal, anterior ao sequestro em África.
Não apenas por essa, mas em especial por ela, deixo minha opinião: leiam "Úrsula" de Maria Firmina dos Reis!
Taiane.Anhanha 11/07/2021minha estante
??????




Lorena 05/09/2021

Uma história por trás da história
Exatamente. O romance daquela que talvez seja a primeira romancista abolicionista do Brasil, 'Úrsula' - da maranhense filha de escrava liberta - conta uma história de amor entre um casal de brancos ao passo que, na verdade, conta a história Túlio e Susana, dois escravos. E assim o faz.
O segredo desta leitura é justamente se ater às falas e pensamentos desses dois personagens.
Kah Morais 05/09/2021minha estante
Que complexo, amei!!!




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