Modernismo

Modernismo Walnice Galvão




Resenhas - Roteiro da poesia Brasileira


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Arsenio Meira 03/03/2014

O CÂNONE POÉTICO BRASILEIRO
De um início um tanto quanto vacilante, com o que encasquetei ante a escolha de alguns poemas para mim pouco significativos - mas que podem ser significativos para inúmeros leitores - especialmente alguns versos de Jorge de Lima, Cassiano Ricardo e Menotti Del Picchia, a presente antologia dos poetas do modernismo pátrio, na verdade pretende revelar e revela os nomes que edificaram o nosso cânone poético moderno, sustentando-se a partir dos primórdios do movimento modernista (o que explica a ausência de um João Cabral, que só surgiria, timidamente, no início da década de 40). A organizadora Walnice Nogueira Galvão, além de assinar um excelente prefácio/ensaio, deu luz aos momentos mais significativos do nosso ideário poético.

Esse desejo de transformar o mundo através da palavra poética, não se dá pela violência do manifesto modernista e seu óbvio caráter de ruptura com o passado, mas através (num primeiro momento) do chamado poema piada, praticado por Oswald com grande tenacidade. Passados os primeiros arroubos da rapaziada, eis que se avulta uma poesia reflexiva, meditativa, investigativa, social, lírica e despudorada; esse fazer poético movimentou e gerou conceitos inéditos, e uma profusão de imagens sensoriais, reais ou lúdicas, irônicas, inflamadas até, a depender do animus de cada poeta.

O ato de escolher é um ato de consciência. O artista literário lida com a matéria-prima do mundo, que é retirada da natureza ou da sociedade, para a criação de suas representações. Assim, ao recolher o material para a sua escrita, o poeta elege seus dons para combiná-los, posteriormente, na rede do texto, outorgando-lhe legitimidade e eternizando o transitório pelo poder da palavra. E a palavra poética, capaz de “dizer o indizível”, imbuí-se de um propósito raro, que se dá através da criação, em imagens inesperadas, das súbitas aproximações entre objetos que destacam aspectos antes não percebidos pela consciência envolvida nas ações automáticas do dia-a-dia. Por isso mesmo, o poeta mobiliza imagens, que se constituem a partir de toda vertente verbal, frase, ou conjunto de frases, que o poeta inscreve no tempo e que unidas,geram o poema. Um texto poético oferece-nos elementos característicos que o particularizam na sua forma externa: a apresentação gráfica, a organização ou desorganização das frases em versos brancos e estrofes dilaceradas, o ritmo e a melodia que são produzidos ao sabor do poeta, que não se sente prisioneiro da métrica, rima, acentuação, aliterações e assonâncias entre outros recursos sonoros.

Mas o que confere ao poema sua qualidade lírica canônica é o tom ora intimista em monólogo, ora catártico, inflamados da rajada de vida imposta pelos poetas, que a essa altura buscavam o inesperado, um influxo, uma personalidade diversa dos tons cediços, inerentes aos poetas da belle époque; enfim, uma expressividade capaz de legitimar a marca de um estilo próprio e particular. E os dezessete poetas selecionados construíram a base em que se ergueria o encanto definitivo da poesia praticada pelos (outrora) novos poetas que surgiram para enterrar o neo simbolismo e um parnasianismo teimoso, resistente como um bacilo de Koch. Mas "ora direis, ouvir estrelas": que é afinal de contas o novo no fazer poético? O novo não é outra coisa senão a renovação de estilos, reinventados, atualizados através de invenções de linguagem e pelas fontes que são resgatadas: os remanescentes, as matrizes, os resíduos, as reminiscências deixadas pelas experiências pessoais. Mesmo os mitos de outras civilizações, que povoam a nossa imaginação e alimentam a fantasia, são realçados no espaço do texto poético, nos transportando para um mundo mais diverso e possibilitando o confronto de realidades e situações.

Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecilia Meireles, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinicius de Moraes (sim, o velho Vinicius era o caçula e e fez e faz parte deste time seletíssimo) souberam legar-nos uma identidade cultural inexpugnável ao Tempo; o Tempo, impiedoso juiz de todas as revelações.
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