Tamiozzo 18/05/2022
O que é realidade?
Não tenho o hábito de escrever resenhas sobre todos os livros que leio, apenas faço para os mais especiais, aqueles que de alguma forma me tocaram ou me fizeram refletir profundamente sobre algo e esse livro com certeza foi um desses.
‘Como mudar sua mente’ é mais um título que entra pra lista dos meus livros inusitados e de temas completamente variados que gosto de ler às vezes.
Comecei a me interessar recentemente pelos psicodélicos por conta de um amigo que me falou sobre a micro dosagem dessas substâncias e como elas lhe faziam muito bem e que, inclusive, sua prática era recomendada pelo seu próprio psicólogo. Então, fui atrás do tema. Assisti diversos vídeos no Youtube sobre o tema e em grande parte deles ouvi falar sobre a obra de Pollan, então, fui lá e comprei o livro.
O livro mescla a visão do autor sobre o tema baseando-se em diversas referências científicas dos anos 60 e 70 principalmente. Mas, além disso o autor também descreve com fidelidade suas próprias experiências místicas com LSD, psilocibina e
5-MeO-DMT - sendo essa última substância a mais forte e que proporcionou a experiência mais significativa de todas, como mencionado pelo próprio autor.
No livro o autor foca mais na psilocibina que é uma substância produzida pelo cogumelo Psilocybe cubensis, popularmente conhecido como cogumelo mágico. Historicamente, sua utilização foi brutalmente reprimida pela igreja católica após a conquista espanhola e relegado à clandestinidade.
A partir da descoberta acidental do LSD-25 em 1943 pelo cientista suiço Albert Hofmann, outros cientistas e pesquisadores focaram em estudar os psicodélicos e sua utilidade em tratar casos como depressão, ansiedade, vazio existencial, vícios e etc. A partir daí vários programas, até mesmo governamentais, viriam a surgir para testar as substâncias em pessoas voluntárias. Após passarem pela experiência com psilocibina, as pessoas relataram melhoras no bem-estar, satisfação com a vida e mudanças de comportamento para melhor, mudanças essas que foram confirmadas por membros da família e amigos.
“Era como se dar conta de uma porta para um lugar conhecido - a sua própria mente -, mas que você nunca havia percebido; e ouvir de pessoas em quem confia que existe uma maneira totalmente diferente de pensar - de ser! - esperando do outro lado. Você só precisa girar a maçaneta e entrar. Quem não ficaria curioso? Eu podia nem estar procurando mudar a minha vida, mas a ideia de aprender algo novo sobre ela, de lançar um pouco de luz neste velho mundo, começou a tomar conta dos meus pensamentos. Talvez algo na minha vida, algo a que eu simplesmente não dei um nome.” - breve relato de um paciente sobre a sua experiência com o alucinógeno”.
Outras pessoas, pelo fato da experiência ser diferente de qualquer coisa já armazenada antes por sua massa cinzenta, tiveram muita dificuldade em descrevê-la: “Você precisa imaginar um homem das cavernas transportado para o meio de Manhattan. Ele vê ônibus, celulares, prédios enormes, aviões. Depois ele volta para a caverna. Como ele descreve a experiência? ‘Era grande, impressionante, barulhento’. Ele não tem vocabulário para ‘prédio’, ‘celular’, ‘avião’. Talvez tenha alguma noção intuitiva do significado e da magnitude da cena. Mas ainda não existem as palavras necessárias. Tudo o que temos são cinco pedaços de giz de cera quando precisamos de 50 mil tons diferentes”. Em outras palavras, as experiências podem atingir um estado tão místico, isto é, uma nova forma de ver tudo, realmente tudo, que não podem nem sequer ser explicadas, e é isso o que causa as mudanças relatadas pelas pessoas que passaram pela experiência - uma descrição utilizada por muitas pessoas é “a morte do ego”, e, a partir disso, você vê o mundo como se você fizesse parte do todo, parte da natureza, da vida, do universo, de Deus. O que deixa claro que a consciência é uma propriedade do universo e não do cérebro. Ela existe num campo externo a nós, algo como ondas eletromagnéticas; nossos cérebros, que ele o autor comparava a receptores de rádio, podem sintonizar diferentes frequências de consciência.
Apesar de comprovados todos os benefícios, os estudos com psicodélicos foram proibidos entre a década de 60 e 70 pelo 37º Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, com o argumento de que, após cair nas mãos das massas, os jovens não queriam mais ir para a guerra no Vietnã.
Comprei a versão para o Kindle deste livro, e após a minha leitura, fui pesquisar o preço do livro físico na Amazon e me espantei: 612 reais! Por que essa obra é tão cara? Seria o governo o responsável pelo preço absurdo? E se sim, porquê? Será que eles não querem que você leia? Que você descubra que você pode tratar a raiz dos seus problemas ao invés dos sintomas? Afinal, a indústria farmacêutica não lucraria tanto, não é verdade?
Deixando as teorias da conspiração de lado, esse livro abriu ainda mais a minha cabeça e renovou o conceito de duas palavras para mim: drogas e realidade! O que são as drogas que os governos criminalizam? O que é a realidade e porque a resposta da maioria das pessoas tem a ver com materialidade? A mecânica quântica confronta isso! Ela sustenta que a matéria pode não ser tão desprovida da mente como os materialistas nos fazem acreditar. Por exemplo, uma partícula subatômica pode existir simultaneamente em múltiplos locais, é pura possibilidade até ser medida - isto é, até que seja percebida pela mente. Só neste momento, e nem um instante antes, ela surge na realidade como conhecemos: adquire coordenadas fixas no tempo e no espaço. A implicação é que a matéria pode não existir como tal na ausência de um sujeito que a perceba.
Recomendo demais a leitura da obra. Sem dúvidas, uma das melhores obras de cunho psico-científico que já li.