Correntes de Sangue

Correntes de Sangue Luiz Felipe Asp




Resenhas - Correntes de Sangue


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Rafael.Ruivo 26/11/2018

Back to the 60's - with vampires!
Correntes de sangue é o primeiro livro de Luiz Felipe Asp. É uma história de época com pitadas de sobrenatural, mas que não se enquadra totalmente em nenhum dos dois gêneros. É um livro de época, com vampiros, monstros, mistérios e ação – mas a história se sustenta sozinha, sem se escorar em nenhum desses elementos.
O sobrenatural é analisado pelos seus ângulos práticos – como seres fantásticos se relacionariam com a sociedade e – mais importante – uns com os outros. Essa questão é explorada em todos os seus desdobramentos lógicos, mas sem sequestrar a narrativa.
Terry Pratchett dizia que somos todos feitos de histórias, e o autor joga com isso a seu favor. Os personagens são apresentados através de curtas biografias, onde conhecemos os fatos, alegrias, derrotas e traumas que construíram cada um deles. Quando o conflito principal é apresentado, a mitologia da história já está clara, definida e fora do caminho. As ações e decisões de cada personagem são extremamente coerentes com o que vimos cinco, dez capítulos atrás.
A ação é intercalada em três ou quatro “núcleos” principais, e avança em breves capítulos, sob a ótica de cada personagem. Cada capítulo é convenientemente situado no espaço e tempo, direto no título (“Carmel-Upon-the-Sea, 11 de junho de 1963”). Isso garante um ritmo ágil, mas conciso - e leitores mais atentos podem até perceber uma pista ou outra reparando na cidade ou data do momento.
A estratégia de avançar a história pelo ponto de vista de cada personagem tem um outro bônus – o protagonista do livro depende apenas da afinidade do leitor. Correntes de sangue pode ser um livro de libertação de um personagem, despertar de outro, redenção de um terceiro... a história funciona tão bem na elaboração do universo que qualquer um dos ângulos faz sentido.
A diversidade de protagonistas é outro ponto forte do livro. Sobre isso, vale notar a sensibilidade do autor em abordar temas delicados, como sexualidade, preconceito, identidade e abuso. A história trata de tais temas sem anacronismos, apresentando de forma sutil como era “não ser normal” nos EUA de 1963.
A época do livro, por sinal, é quase um personagem à parte. O autor faz valer sua pesquisa, com detalhes de época muito bem colocados. Carros, cidades, eventos, objetos e referências do período são muito bem distribuídos pelo texto – sem, entretanto, disputar com os personagens a atenção do leitor. Tanto o ambiente como o comportamento dos personagens contribuem para uma imersão completa no clima sessentista do livro.

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