Isabella.Wenderros 10/10/2022“No fim, é só mais uma história. Sobre o amor entre garotos e irmãos”. Tudo começa com uma antiga máquina de escrever, os esqueletos de uma serpente e de uma cadela. Porém, antes disso, houve outro começo: a visita de alguém há muito esquecido, uma proposta inacreditável e uma partida surpreendente. Para isso, é necessário voltar ainda mais no tempo e falar como os destinos de duas pessoas se cruzaram, formaram e balançaram uma família. O passado é remexido, uma história precisa ser contada e um irmão vai mergulhar nas memórias do caçula para narrar o que aconteceu com os Dunbar.
Eu sei, o que escrevi acima é um pouco confuso, mas a escrita – nas primeiras páginas, pelo menos – também é. No momento em que Matthew Dunbar decide falar sobre o passado, ele sabe que o protagonista precisa ser o quarto dos cinco filhos do casal Penélope e Michael, Clay. Seus pais, principalmente sua mãe, sempre gostaram de contar histórias e era Clay o mais interessado em ouvir o que eles tinham para dizer. A escrita exige foco nos capítulos iniciais justamente porque o narrador está indo e voltando em suas memórias, pescando coisas que só soube depois de acontecidas e que tiveram um impacto tremendo ou pensando nas consequências de tal atitude antes de chegar a hora de falar sobre elas.
Entrei nessa leitura sabendo apenas a sinopse, sem expectativas e é por isso que quero falar mais sobre a minha experiência do que qualquer outra coisa. Eu tinha lido em alguns lugares que a maneira que o autor escolheu para escrever esse livro era confusa e cansativa; é verdade, eu precisei me esforçar um pouco mais no começo, mas aquilo que era uma pedra no caminho se transformou na minha parte favorita. Não demorou até eu perceber que estava totalmente encantada. Foram poucos capítulos até eu olhar para as páginas na minha frente e notar que estava simplesmente amando cada linha, que estava envolvida e torcendo pelos personagens.
O foco é nos garotos Dunbar e na partida de Clay, mas foi o passado mais distante que primeiro chamou minha intenção: os caminhos percorridos por Penélope e Michael até se conhecerem e construírem aquela família caótica, permeada de música e literatura, cheia de amor. Logo de cara, assim que aquela mulher é apresentada enquanto uma criança nos confins de um país europeu sob um governo autoritário, sendo ensinada e cuidada por um pai estoico, vi que o potencial era muito alto para que eu me apaixonasse – estava absolutamente certa.
Se a escrita foi o recheio do bolo, os personagens – incluindo os animais maravilhosos – não ficaram esquecidos. Esses jovens me conquistaram enquanto mostravam suas próprias personalidades, vivendo altos e baixos – chorei em alguns momentos, vibrei em outros e sorri com verdadeiro afeto em muitos. Clay é o fio condutor, mas cada um ali tem seu destaque e sua importância para o desenrolar da narrativa. Foi natural criar um apego genuíno por esses meninos que sofreram perdas irreparáveis, mas criaram formas de continuarem unidos no meio do furacão. O Construtor de Pontes é, acima de tudo, uma história sobre o amor entre irmãos e sobre a continuidade de uma família lutando contra os problemas que a vida pode oferecer.
Cheguei ao final arrebatada e com a certeza de que encontrei uma das melhores leituras do ano. Tropecei no começo, mas valeu cada minuto. Eu recomendo demais!