Carous 09/02/2019Hoje não é dia de Ação de Graças, e este feriado sequer é comemorado no Brasil, mas
- eu sou grata por Emily X.R. Pan ter escrito este livro e se empenhado tanto de forma que seu primeiro trabalho literário seja uma obra de arte;
- eu sou grata por todos os personagens do livro. Há muito tempo - muito mesmo - que eu não pegava um livro para ler que tivesse personagens falhos, mas não irritantemente falhos ou simplesmente odiosos.
Provavelmente o pai de Leigh seja o personagem que, à princípio,vá fazer o leitor crer que vai odiá-lo; ele não respeita a vocação da filha de querer ser artista. Ele critica o tempo que ela gasta desenhando e pintando. Ele não conversa com Leigh sobre a depressão da mãe dela. Finge que está tudo bem mesmo a filha sabendo que tem algo errado. Ele larga a filha com os avós. Ele viaja muito.
Mas não há nada o que odiar nele. Não é um pai ruim, ama sua esposa. Sequer posso dizer que se redime porque isso não acontece. Nos dias que se seguem após o suicídio da esposa, ele apenas reavalia sua vida e ajeita as arestas.
- eu sou grata pela autora ter escrito uma obra tão sensível e delicada de tal forma que uma pessoa grossa como eu pode sentir essa sensibilidade e ser cativada página após página. Eu confesso que tive minhas dúvidas se ia gostar/entender a história quando Leigh começou a descrever sias emoções usando tons de cores. E havia uns tons de que eu nunca tinha ouvido falar.
- eu sou grata pelas relações de amizade e familiares do livro. E por Emily ter trabalhado tão bem todas elas.
Houve briga, desentendimento, mal estar, alegria e não pareceu raso demais ou forçado.
Leigh é apaixonada pelo melhor amigo, mas a apresentação da amizade deles foi além desse amor secreto. Confesso que fiquei meio triste que o sentimento tivesse saído desse campo e indo pro romântico, pois sou sempre #teamamizade. Mas foi legal de ler.
Leigh tinha outros amigos que não foram esquecidos ao longo da história.
- eu sou grata pela sutil crítica aos elogios de brancos acham que fazem a quem é POC. E sou grata por Emily ter incluído personagens de diferentes etnias e nacionalidades.
Leigh pode ter apenas 14 anos e nunca ter saído da cidade, mas ela sabe que é americana, apesar da ascendência chinesa da mãe e irlandesa do pai estar estampada no rosto,cabelo e corpo dela. Ela não é "exótica", ela não aceita que lhe perguntem de onde é ("dos Estados Unidos como você"). Não importa quem for, se a pessoa for indelicada, ela chama atenção.
- eu sou grata por Axel não ser um boy lixo que a personagem principal morre de amores, a autora deseja que o leitor goste, mas o leitor não compreende como uma garota se interessa por alguém medíocre.
Tem muito mais a agradecer pelo livro. Ele é estupendo e me odeio pela incapacidade de resenha livros que viraram meus favoritos. Sempre fica a sensação de que não expliquei direito por que me atraiu tanto, como me deixou tão feliz.
Há uma nota da autora no final do livro que me trouxe muita felicidade. É sobre depressão e sobre a linha que Emily decidiu adotar ao abordá-la. É tão verdadeira... gostaria que outras obras, mesmo não literárias, começassem a falar do assunto dispensando clichês de razões que leva o depressivo a se suicidar, as cartas que deixa pros familiares.
Este livro tem uma pegada fantástica e outra menos de fantasia. E conseguem se misturar muito bem.
Todavia, a parte de revisão decepcionou. Comprei na pré-venda por 15 reais, o que, na verdade, não me daria direito de reclamar de nada. Porém o livro agora está sendo vendido a 50 reais. Preço alto para uma revisão tão porca.
Espero que a editora conserte isso ao imprimir a próxima tiragem do livro.