morozovastag 20/10/2023
A persistência (ou não) da memória
Conheci esse livro através da indicação de uma gringa no tico teco. Uma capa com um ar misterioso (e um design cativante) me fizeram ir de cabeça num livro que eu nem sabia bem da história.
?A Polícia da Memória? é um livro de uma sutileza maravilhosa, com um decaimento gradual da humanidade dos personagens. Talvez, o mais curioso dessa narrativa seja o fato de que o único personagem nomeado nesse livro é ?R?, o único capaz de fazer o impossível: reter memórias.
E, sim, esse tem tudo. Uma pitada cativante de romance trágico, dor existencial, humanidade, sociedade e totalitarismo, tudo abordado com uma precisão que faz da leitura um acalento (ainda que doa um monte.)
As memórias são nossa matriz. São delas que somos feitos, e, sem elas, simplesmente desaparecemos. Quando as palavras, a vida, os arredores e os traços humanos da vida desaparecem (no caso da narrativa, com o auxílio de um Estado opressor), nós, por conseguinte, ainda que a forma orgânica permaneça, sumimos;
Sumimos pois a alma é feita de memórias.
Eu não sei vocês, mas esse talvez seja meu tipo favorito de livro:
Os que nos ressuscitam em meio à monotonia do dia a dia, como esse fez comigo.
Quando tudo parecia ter deixado de ser real, quando sequer me sentia, essa história me fez sentir.
E esse é o ato mais humanos que existe.
Um merecidíssimo 5/5.