Marcela 04/01/2024
Bon appétit
O romance Fome (Sult) de Knut Hamsun, autor norueguês abriu um caminho novo à literatura escandinava. A história é a de um jovem poeta que vagueia por Oslo morto de fome (e aqui, o termo toma todos os sentidos possíveis: fome moral, social, romântica, religiosa etc.). O romance é um longo monólogo interior, a vida e os acontecimentos miseráveis do personagem só são amenizados por conta de seu orgulho interior, trazendo ao livro passagens cômicas que beiram o grotesco. Orgulho esse também responsável por levá-lo à ruína. Os efeitos físicos e mentais da subnutrição levam o protagonista à loucura. A mudança de humor e euforia e a busca pela sobrevivência é o que move o livro. Aqui, vida e obra são indissociáveis. Knut realmente passou fome durante sua vida, foi criado no interior rural do país, começou a trabalhar ainda criança. Se aventurou em cidades maiores, foi para os EUA, retornou à Noruega. O Nobel de literatura veio em 1920, aos 62 anos. Apoiou abertamente o nazismo, o que fez com que muitas de suas obras fossem esquecidas depois dos anos 60. Hamsun é avesso á modernidade e ao materialismo da sociedade capitalista industrial, seus personagens são moralistas, não agem fora das regras e sim por impulsão, e ao adorarem a vida, insinua-se neles a angústia da morte, dando ao Romance o tom melancólico, claramente inspirado por Dostoiévski, von Hartmann, Schopenhauer, a noção de super-homem de Nietzsche, Freud, ao Romantismo Alemão e à poesia e simbolismo fim de século. Não é por acaso que o livro chamou tanta atenção e influenciou atores consagrados como Franz Kafka, Thomas Mann, Hermann Hesse, Henry Miller, Ernest Hemingway, Bertolt Brecht, André Breton, H. G. Wells, Stefan Zweig, Charles Bukowski, entre outros. Um clássico que merece ser redescoberto e ter seu espaço no cânone literário mundial.