Ercilia 04/04/2021
Jinga de Angola
Trata-se da história da rainha Jinga, nascida em 1582 no reino de Ndongo. O livro traz informações sobre os ancestrais de Jinga e nos apresenta algumas tradições e costumes entre os habitantes daquele reino. Os antecessores de Jinga lutaram contra a invasão portuguesa e se consolidaram como um poderoso reino na África central. Em 1483, quando os primeiros portugueses chegaram ao Congo, Ndongo era o segundo maior estado da África central (o primeiro era o Congo), o que corresponde hoje, boa parte da Angola atual . Seus habitantes eram chamados de Ambundos, era uma região de muitas montanhas e terras férteis, cortadas por inúmeros rios navegáveis. Jinga era filha de uma das concumbinas de seu pai, rei de Ndongo. Durante sua infância e juventude, foi a favorita de seu pai. Seu irmão foi seu antecessor no reinado de Ndongo. Com a morte dele, Jinga assumiu o reinado e lutou por ele em todos os anos de sua vida. Vestia-se homem e exigia ser tratada no gênero masculino, já que esse era o gênero respeitado pelos colonizadores. Era uma excelente guerreira, fez várias alianças entre os reinos vizinhos, enfrentou os exércitos portugueses em inúmeras batalhas sangrentas, promoveu fugas fenomenais, mas também exerceu sua diplomacia com maestria, o que é mostrado em várias cartas que enviara aos governadores colonizadores e ao rei de Portugal, D. João IV. Na época em que seu irmão era rei, foi enviada para uma missão diplomática a Luanda onde, numa tática para conseguir o respeito e a paz, ofereceu-se para ser batizada na religião católica. Fica evidente a ferocidade e o intuito dos colonizadores de franquear o tráfico de escravos na região que se expandiu para o interior do reino de Ndongo. A conversão dos nativos à religião católica era uma das táticas de colonização e causa espanto o quanto a igreja foi conivente com as práticas de humilhação dos nativos cativos, ao mesmo tempo em que ela se sentia no direito de moralizar e incriminar as práticas das religiões consideradas pagãs.
Trata-se de uma leitura linear e enfadonha já que a autora se atém muito às descrições geográficas difíceis de acompanhar, além da narrativa de inúmeras guerras que ocupam a maior parte do livro. Como antes desse livro eu havia lido “Escravidão” de Laurentino Gomes, essa leitura ampliou meu conhecimento a respeito de um mesmo tempo histórico, de um e outro lado do atlântico, rota dos navios negreiros. O pior que podia acontecer a um escravizado em Ndongo era ser enviado para as Américas. Dois lados do horror da colonização portuguesa.