spoiler visualizarRosa Santana 19/01/2020
Os Dias Felizes, de Beckett!
Quando vi esse título para uma obra de Samuel Beckett já fiquei a imaginar como seriam esses dias, que hipérboles irônicas o autor me reservaria ali! Isso por já ter sabido, via Esperando Godot e Primeiro Amor, dessa sua capacidade de desconcertar o leitor com um conteúdo na contramão do título anunciado!
Pois sim: o velho Sam traz um casal na casa dos sessenta, Winnie e Willie, que estão encerrados em um deserto inóspito é só contam um com o outro. Literalmente dentro de um buraco, da cintura para cima, no primeiro ato, e até o pescoço, no segundo, a mulher se distrai com alguns poucos objetos que tira e recoloca dentro de uma bolsa! E fala: sobre versos, sobre acontecimentos, sobre a vida... e o marido não responde! Lembra-me Heiddegger com o seu: A linguagem é a casa do ser! Ela chega a dizer que não importa se não obtém resposta; conta, mesmo, é o fato de tê-lo ali para que tenha com quem falar, ainda que ele nem lhe dê atenção e se ponha a folhear um jornal...)
Esses são os dias felizes! Dá uma angústia ver como eles constroem essa felicidade; e que os dois (como nós!!) se consomem diante de objetos banais, tendo a vida tragada por coisas comezinhas, vulgares...
- Espero que a peça atue sobre os nervos da plateia, não sobre seu intelecto, disse o autor! Assim é! Assim foi comigo, lendo-a; penso-me na plateia: me rasgando por dentro!
Salve, Beckett!!