Lívia 30/10/2021
Um Natal® diferente...
Uma história sobre um Natal® distópico foi algo que eu jamais imaginei, mas nem por isso foi menos prazeroso. A escrita é realmente muito boa e tudo parecia instigante e caótico, o tipo de experiência que você não iria querer ter na vida real, mas que não consegue parar de ler porque te prende desde o primeiro parágrafo.
Além disso, as ilustrações são lindíssimas e dão um toque à mais. ?
"Passei por um contingente de cristãos, todos carregando cruzes, cantando hinos natalinos. Bem à frente deles havia um grupo de gente malvestida vendendo exemplares de um jornal de esquerda e carregando cartazes com uma foto de Marx. Eles haviam sobreposto um chapéu de Papai Noel ao retrato dele. 'Eu sonho com um Natal vermelho', eles cantavam, e mal."
Vivemos em uma sociedade capitalista. Isso é fato. Tudo que vemos e usamos provém desses mesmo sistema. Até mesmo o Natal® vem se desvencilhando cada vez mais de seu verdadeiro propósito e significado, sendo soterrado por propagandas e tentativas de se obter lucro por cima de lucro. Okay, isso não é novidade.
Mas nessa história tudo tomou um rumo muito além. O Natal® virou, literalmente, um produto, uma marca. Algo que você precisa pagar para ter, e apenas determinadas empresas são licenciadas para vender produtos natalinos, e se você compra algo, como uma guirlanda, por exemplo, de uma empresa não licenciada, isso é considerado um crime e você pode ir preso. Aliás, se você mesmo faz sua própria guirlanda também estar cometendo algo ilegal. É muito doido!
Inclusive, tem uma parte que é citado a palavra "futebol", mas foi escrita assim: Futebol®. Com o símbolo de marca registrada. Então mesmo que não tenha se aprofundado nesse tema, já temos um vislumbre de que o Natal® não foi a única coisa que o sistema reivindicou para si.
"Estávamos cercados por natalinos radicais."
Radicais = pessoas cantando músicas natalinas sem permissão. ?
E com um governo tão opressor, temos o quê? Isso mesmo, os rebeldes. Pessoas que não concordam com a vida que são obrigadas a levar e por isso lutam por sua liberdade.
Durante o conto aparecem pessoas, partidos, grupos; todos com uma único propósito: "Lutar por um Natal do povo." Sem marca registrada. Sem licenciamento. Sem ter que pagar por isso. Sem ter que precisar de permissão governamental para montar uma árvore enfeitada e usar pisca-pisca.
Durante a história toda acompanhamos um pai com sua filha, mas fica notório que a intenção do autor é realmente nos mostrar esse mundo futurístico e alternativo, nos chocando com a loucura que criou e ao mesmo tempo, nos fazendo refletir sobre o significado do Natal para cada um e o que ele tem se tornado.
Ps. Só não fechei as cinco estrelas porque achei o final um pouquinho corrido, mas a história como um todo é muito boa e original!