nicolasramos 10/11/2021
É de tamanho infortúnio observar um material se transformar por completo, indo de uma trama promissora a um baita desperdício de criatividade em questão de páginas. Esse é o caso de ?Um Conto de Natal? de China Miéville, conto no qual a mercantilização da grande celebração do fim de ano vira (ainda mais) alvo do capitalismo, abrindo uma vasta gama para reflexões e doses de humor creditadas pelo absurdo, cujo viés, entretanto, não está muito longe da realidade atual.
O que pode soar como genial durante os primeiros atos, acaba por se configurar em um roteiro pedante de acontecimentos corridos com um único intuito: exibir bagagens políticas com trocadilhos toscos e um cenário limitado de autonomias cansativas. Miéville não está interessado em se aprofundar nas injustiças sociais sofridas por um sistema que engoliu tudo o que pôde colocar suas mãos sobre, inclusive o Natal, mas sim em apenas lançar fragmentos de lutas que já existem, convertendo toda a composição de sua atmosfera em um suco descartável. De bônus, o autor ainda consegue transformar pautas sólidas em meras chacotas, uma vez que não se tem acesso as seus estímulos e desdobramentos no universo proposto.
Por fim, termino dizendo que me decepcionei demais com o desenrolar dessa obra. Como marxista, adepto ao comunismo, vejo a jogada de China como um desleixo para a profundidade do tema. O problema talvez esteja longe de ser seus personagens, a escolha de elitizar ainda mais o Natal ou mesmo seus trocadilhos, e sim, a profundidade de um pires desempenhada pelo escritor em decorrência das suas escolhas para elaborar essa tremenda asneira.