Bruno Hatzfeld 12/06/2024
Mais do que um livro
Todos conhecemos alguma versão ou mesmo partes da história de Drácula, mas ler o original é sem igual. Mais do que um livro, Stoker criou um mito, um personagem capaz de ser ressignificado, ressuscitado e recontextualizado. E esta é a sua maior, ainda que não propositada, contribuição.
Drácula possui uma construção de vozes que narram a história de forma brilhante. Diários, documentos náuticos, excertos de jornais se somam a criar uma espécie de "Bruxa de Blair" do século XIX. A todo momento o autor tenta nos convencer da fidelidade dos fatos e, quando os discursos não vacilam, ele o faz muito bem. Por outro lado, as marcas históricas e culturais, à luz dos dias atuais, por vezes nos afastam da obra, e por isso reitero que o personagem superou o livro que o trouxe ao mundo.
De forma mais técnica, as imbricações de gêneros literários às vezes acabam por arrastar demais os diálogos. Em certos trechos, fala-se muito para ações que mal duram uma ou duas páginas. Isso não seria um problema, afinal, a tônica do livro é essa e por vezes somos carregados para dentro da história de forma imersiva. Mas creio que, no momento mais importante, a conclusão da trajetória, esse ritmo é quebrado e tudo parece se resolver num passe de mágica, sem muitos obstáculos aos protagonistas.
Todos conhecemos alguma versão de Drácula, seja de filmes, livros, quadrinhos, videogames. Ler o original é uma obrigação, mas entender que o solo que o vampiro carrega é fértil para dar fruto a outras tantas histórias sobre o vampiro pode ser o maior entendimento que a história original traz.