Lethycia Dias 31/12/2020Histórias mal desenvolvidas"Noite Infeliz", como o nome sugere, é uma antologia de contos natalinos dos gêneros terror, horror e suspense. Todas as histórias se passam no Natal porém trazem para seus personagens, ao invés de alegria, medo, violência e morte. Eu adoro histórias temáticas e adoro terror, então tinha expectativas altas com esse livro, ainda mais por saber que inclui o conto "O duende da Rua Baker", de Henrique Morais, que eu já tinha lido e sabia ser bom.
Infelizmente, o conto de Henrique me pareceu o único realmente bom nesse livro. Algumas das histórias giram em torno de casos policiais, com assassinatos e desaparecimentos. Outros, nos apresentam a situações cotidianas como reuniões de família, extravagantes como jantares, ou ainda situações típicas de filmes de terror, como jovens entrando numa mansão misteriosa. Alguns usam elementos profanos, com personagens que acreditam ser profetas e estar destinados a uma missão "divina" ou que prestam devoção a seres maléficos.
Quando cheguei a certa parte do livro, comecei a achar algumas das histórias mal desenvolvidas e com plots preguiçosos. No conto "A toca da coelha", por exemplo, coisas ruins acontecem apenas pela burrice dos personagens, que sequer desconfiam quando tudo parece estranho. Já "Amigo Secreto começa contando um caso do passado do personagem que nada tem a ver com a história principal.
Em "Presépio", a maior coincidência do mundo faz com que a protagonista encontre o assassino de seu pai, e me pareceu uma saída extremamente fácil a forma como isso aconteceu. Esse conto, aliás, usa estupro como uma motivação para uma das personagens, e no fim, abusa do drama para evocar a imagem da palavra presépio. "O Envelope" tenta encenar o terror que é, para uma mulher, viver um relacionamento abusivo, mas é cheio de falas que não soam naturais para os personagens, parecendo artificiais ou exageradas.
Senti que vários dos contos tentam emular cenas de filmes de terror, de lendas e histórias que se contam por aí, sem encontrar boas saídas para fazer isso na literatura. "A toca da coelha", já citado anteriormente, termina relatando os boatos que se contam sobre o fim que teve uma de suas personagens, mencionando que "Algumas pessoas dizem", "Outros dizem", "Sua família relata". Seria bem mais interessante se isso fosse mostrado ao invés de "dito" dessa forma. Outro caso é o de "Natal Sepulcral", que parece reproduzir um episódio de seriado policial, em que um detetive cheio de si quer desvendar um crime a todo custo, sem sequer ter um motivo para isso. Ao afirmar que seria "uma questão de honra" descobrir quem estaria assassinando moradores de rua que se abrigavam em uma casa abandonada - tipo de crime normalmente ignorado pela polícia e pela mídia -, o policial do conto parece apenas um mocinho falsamente nobre, que não convence tanto quem lê.
Eu esperava mais do livro, porém tive a impressão de que a maioria dos autores tentou apenas reproduzir aquilo que consumia. As historias não me cativaram nem me empolgaram, e eu nem mesmo me importei com os personagens enquanto lia.
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