Cómo desaparecer completamente

Cómo desaparecer completamente Mariana Enríquez




Resenhas - Cómo desaparecer completamente


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Nara 28/12/2022

Um personagem que vai ficar guardado pra sempre em mim.

Uma novela cuja narrativa é muito pesada e reverbera diversos ecos em nós.

Narrado em terceira pessoa, o leitor acompanha Matías um adolescente que tem uma família completamente disfuncional. Eles moram em um bairro periférico e afastado da capital Buenos Aires ali nos anos 90.

É angustiante e desolador o desamparo e a ausência de afetividade na vida de Matías.
Sabemos que ele tem cerca de 15/16 anos e é o irmão mais novo de 3 filhos. A irmã que foi lindíssima (Carla), se envolve com um traficante do bairro. Esse cunhado traficante é assassinado e, desesperada, Carla tenta um suicídio que falha e a deixa pra sempre deformada e acamada.

Christian o irmão mais velho, cuja presença será apenas os escritos em 3 cadernos deixados pra trás, parte pra Espanha.
Matías se apega aos cadernos e todo o tempo, é comovente como ele ama e esperava qualquer demonstração de afeto mínima desse irmão que ele admira e sente tanta falta. Talvez seja a ausência mais dolorida nele.

O livro toca na questão sensível e talvez pouco explorada do assédio sexual vivenciado por meninos. Aqui, Matías era assediado sexualmente pelo pai quando criança. Um homem alcoólatra e que também batia na esposa. Quando essa mãe toma consciência dos abusos(ela vê) a atitude é de uma completa irresponsabilidade parental.

Ela busca "ajuda" na Igreja e passa a obrigar o marido a ir. Sentindo-se tocado por "Cristo", ele para com a bebida e os abusos. Arranja outra esposa e abandona por completo essa família.

É absurda a cena em que Matías descreve como se sentiu exposto quando o pai deu o testemunho na Igreja e, falando "fiz coisas diabólicas com meu filho", ninguém supôs ou foi questionar o que poderiam ter sido essas coisas.

O título 'desaparecer completamente' acho que é uma ótima crítica, a forma como nós adultos costumamos enxergar os nossos adolescentes. E, como essa visão é muito latinoamericana, fruto da falta de estruturas básicas que forçam os nossos a abandonar escola e perspectiva de futuro, p/ uma vida de adulto cerceada de responsabilidades em torno do trabalho e sobrevivência.

Dolorido e visceral.

Eu também adoro como ela utiliza esses programas televisivos de auditório, também muito presentes nas programações latinoamericanas estilo (Casos de Família).. Para fazer com que a personagem se identifique com um dos participantes homem e também vítima de assédio sexual. Mas, sem perder a crítica a forma como esses relatos são utilizados como espetáculo do absurdo e não para chamar a atenção para uma questão tão delicada.

Sensacional o quanto de aspectos culturais nós encontramos em comum com nossos hermanos.
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Lethycia Dias 22/01/2019

Sobre inércia
Matías Kovac é um jovem sem muita perspectiva vivendo em um lar desestruturado. Na infância, sofreu abuso sexual pelo pai, que depois abandonou a família para se casar novamente. A irmã, casada com o maior traficante local, desfigurou o próprio rosto ao tentar suicídio quando soube da morte do marido. O irmão que foi para Barcelona e há muito tempo não manda notícias, e deixou para trás cadernos misteriosos. A mãe negligente, fanática religiosa. O sobrinho crescendo sem os cuidados de que necessita.
A realidade de Matías é uma realidade de falta de afeto e inércia. Ele odeia a casa e o bairro em que vive, a mãe, a irmã, e sonha em procurar pelo irmão Cristián. Mas ao mesmo tempo, parece entregue a um cotidiano repetitivo de não fazer nada. Até que um conhecido lhe deixa uma grande quantidade de drogas, que ele pretende vender para ter o dinheiro de que precisa para ir embora.
A narrativa é em terceira pessoa, mas nos permite mergulhar no mundo de Matías, conhecer sua timidez, seu ódio, sua raiva, sua insegurança e o humor negro com que as vezes encara as coisas. Esse é um livro de quebra de expectativas, como os contos da autora que li em "Las cosas que perdimos en el fuego". Não por me decepcionar, pelo contrário, mas porque decepciona os personagens.
Não é uma história feliz ou de superação, tampouco um romance de formação ou de descobertas, porque não há lugar para Matías, e ele erra, se engana e se frustra, e de repente chora e se envergonha. O mundo é cruel, as costas doem e é impossível dormir, mas a gente acredita em Matías e torce por ele. O final é otimista, porém condizente com a história.
Esse livro foi um presente de um conhecido que está morando na Argentina, e creio que está esgotado no Brasil, sequer tendo tradução. Para quem tiver a oportunidade de ler, recomendo. Para quem não puder, indico "As coisas que perdemos no fogo", único livro da autora traduzido para o português.

site: https://www.instagram.com/p/Bsuyk69AMap/
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