spoiler visualizarLeandro676 03/01/2014
Jimmy Corrigan – O Menino Mais Triste do Mundo
Em determinado momento da história, em meio a “desconhecidos”, Jimmy Corrigan se sente culpado e confuso... E diz aos prantos que só queria que as pessoas gostassem dele.
Voltando ao começo, mais precisamente à introdução de: Jimmy Corrigan – O Menino Mais Esperto do Mundo, a última coisa que o leitor poderia imaginar (com todas aquelas letras miúdas e tiradas irônicas e divertidas) é que tal obra – considerada por muitos a obra-prima dos quadrinhos – poderia de alguma forma lhe proporcionar tantas emoções.
Criação máxima e semi-autobiográfica de Chris Ware, Jimmy Corrigan – O Menino Mais Esperto do Mundo foi lançada originalmente em 2000 nos Estados Unidos, reunindo material editado originalmente na Acme Novelty Library, quando ainda saía de forma seriada nos anos de 1990.
Com influência do design gráfico, publicidade (onde o autor brinca com pequenas chamadas no decorrer da história) e arquitetura (em que o leitor é obrigado a parar e observar os belíssimos painéis e todos os seus minuciosos detalhes), Ware conseguiu levar a arte sequencial a um novo e mais elevado patamar. Junta-se a isso, claro, uma narrativa – não linear e com toques de surrealismo e delírios – espetacular.
Resenha:
Aos 36 anos de idade, Jimmy Corrigan, dono de uma timidez e uma tristeza que transparece através de suas feições, recebe uma carta de seu pai ausente por toda uma vida querendo enfim lhe conhecer.
Em meio à rotina de seu trabalho tedioso e às ligações de sua mãe dominadora e carente, e talvez no desejo impossível de amarrar pontas soltas ou até mesmo cansado de sua vida monótona, Jimmy resolve viajar ao encontro de seu pai. E como não poderia deixar de ser, o que vemos no decorrer da história são situações constrangedoras e silêncios intermináveis.
Paralelamente a isso temos a história de James Corrigan, avô de Jimmy, ainda criança no final do século XIX. E a partir daí, tomamos conhecimento que a origem de toda a tristeza e infortúnios da família Corrigan possuem raízes muito mais profundas do que até então fora apresentada.
Enquanto temos Jimmy que sofre as consequências de um pai ausente, na outra história temos os abusos e humilhações que o pequeno James sofre nas mãos de seu pai.
Ao final, nos damos conta que coincidências são umas das características que marcam a obra de Ware. Tanto dentro quanto fora. O autor ainda na fase de composição de sua HQ, recebeu o telefonema de seu pai que nunca tinha visto ou falado em toda sua vida.
Para o bem ou para o mal, Ware decidiu presentear seu pai com o livro quando este estivesse pronto, mas infelizmente antes disso acontecer, seu pai morreu vítima de um ataque cardíaco.
Particularidades:
Por ter me identificado com Jimmy Corrigan, entendo agora o porquê de algumas pessoas não terem entendido/gostado da obra. (E esse entendimento pode ser influenciado tanto pela história de vida ou o estado de espírito em que se encontra o leitor)
A HQ é uma das coisas mais tristes, angustiantes e belas que li nos últimos tempos. Chris Ware conseguiu emocionar até nos agradecimentos, um exemplo disso é quando diz que as 4 ou 5 horas que o leitor deve levar para ler o livro, foi o tempo em que ele teve com seu pai entre conversas por telefone e pessoalmente.
Jimmy Corrigan – ao que muitos defendem – não é complicado, é sim complexo em seus detalhes.
Creio que ler o material físico aumenta consideravelmente essa experiência e entendimento por parte do leitor.
Em tempos de pirataria (e porque não, acesso mais fácil à cultura), onde o mercado de quadrinhos se vê em desvantagem numa guerra contra os scans, nada como usar a criatividade como principal arma.
Boa (segunda) leitura!
Outras opiniões:
G1 - Zeca Camargo: “O ziguezague imposto pelos quadrinhos rigorosos e lúdicos de Ware quase – mas apenas quase – nos distraem da narrativa, que já não é das mais cartesianas. Como um acompanhamento perfeito para o fluxo do olhar, a história vai te levando por tempos e espaços imprevisíveis. Ele certamente não foi o primeiro ilustrador e cartunista a inserir a ideia do silêncio nos quadrinhos, mas eu não tenho dúvida de que Ware foi o primeiro a representar esse silêncio de maneira que você ouça tudo que não está na imagem.”
Universo HQ - Igor Toscano: “Utilizando-se de técnicas narrativas como flashback e histórias paralelas, misturando sonhos com realidade, Chris Ware cria uma obra profunda sobre os relacionamentos humanos, as responsabilidades da vida adulta, a infância, a família e o afeto.”
Desconcertos – Claudinei Vieira: “Jimmy Corrigan' é um livro que só funciona plenamente se for lido (e degustado) fisicamente, para se poder aprecia-lo com inteireza, para que se possa chacoalha-lo, na prática.”
Bravo – Carol Bensimon: “Trata-se, portanto, do clássico conflito entre pai e filho, mas Chris Ware dá a ele um tratamento muito particular, aproveitando toda a liberdade que as histórias em quadrinhos podem oferecer. Os delírios de Jimmy se misturam perfeitamente às conversas triviais que ele tem com o pai ou com a meia-irmã, criando uma trajetória onde imaginação e realidade se confundem.”
Portal Literal – Bruno Dorigatti: “A compaixão que nos invade não tem nada de superior, como se assistíssemos de fora. Na tragédia humana, estamos todos na primeira fila, e é difícil, para não dizer impossível, não se identificar com ao menos uma das situações pela qual passam os Corrigan. Demasiado humano, como diz o chavão.”
Zero Hora - Ticiano Osório: “Chris Ware conta essas desventuras com uma prosa carregada de lirismo e melancolia, adornada por um estilo gráfico único, e, sinceramente, indescritível (corra à livraria mais próxima para, pelo menos, folhear a obra). Bebendo dos quadrinhos do início do século 20, da arquitetura, do design publicitário, repetindo cenas e desconstruindo quadros, Ware faz poemas visuais que falam alto.”
Colherada Cultural - Martha Lopes: “Terminada a leitura, além da admiração pela estética primorosa do livro -- que brinda os leitores com páginas lúdicas, que convidam, por exemplo, a montar uma fazenda completa de papel e trazem diversos manuais --, fica a sensação de que, se alguém acha que tem uma vida dramática, não conhece a de Jimmy Corrigan.”
Cápsula de Quadrinhos - Kiadd: "Os detalhes deixam a história muito rica, a leitura é daquelas em que você mergulha mesmo e emociona pra caramba em vários momentos. Especialmente pelas expressões, que são tão bem feitinhas, apesar de ser quase sempre a mesma – aquela carinha de triste e constrangido – que é a marca registrada do Jimmy."
Tarja Preta - Luiz Jeronimo Atamboni: "Não espere por coerência, ou mesmo por um texto corrido, padrão. Chris Ware se apresenta como um mestre na arte de contar uma história sem fluxo definido, mas que se encaixa com perfeição mais à frente. E nem pense em baixar Jimmy Corrigan: O menino mais esperto do mundo, pois sua experiência se reduzirá a zero se você deixar de adquirí-lo da forma como deve, comprando um exemplar de qualidade, estética e autoral, praticamente únicas."
site: https://www.youtube.com/watch?v=41Nl84qnAUI