Zanini 16/03/2011
O Grande Tim e o Velho Lobo
Dois dos mais controversos e talentosos expoentes da música popular brasileira tiveram suas justas e bombásticas biografias lançadas nos últimos anos: Tim Maia (Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia) e, mais recentemente, Lobão (50 Anos a Mil).
Tim foi biografado pelo dispensa apresentações Nelson Motta. Já João Luiz Woenderbag – sim, é difícil de acreditar que o lobo mau do roquenrol tupiniquim tenha esse nome de almofadinha – escreveu sua epopéia a quatro mãos, em parceria do jornalista Claudio Tognoli.
Ambas são leitura obrigatória para quem curte música ou simplesmente uma história de vida interessante, que inclui envolvimento com seitas malucas, briga homéricas com gravadoras, shows e álbuns que marcaram época, altas tretas com a polícia, consumo exacerbado de entorpecentes, loucas aventuras amorosas, estrutura familiar decadente (avec elegance) e, claro, um repertório musical indelével no cancioneiro brasuca.
Depois de ler as duas obras, queria escrever algo. Mas não uma trivial resenha. Queria fazer algo diferente, condizente ao estilo Kangibrina. Pensei, pensei e decidi fazer uma brincadeira, criando uma competição envolvendo alguns quesitos dos livros, mas escolhidos aleatoriamente, sem nenhuma fundamentação teórica ou critério técnico, pela minha pessoa.
Nada sério. Just for fun, entenderam?
Abaixo, você confere o resultado:
Título: São do caralho. Fortes, bem sacados, definem com precisão o espírito da coisa. Resultado: empate
Capa: Ambas convencionais, ninguém quis reinventar a roda. O frontispício (hein?) da biografia de Tim abusa do vermelho e do amarelo, com fontes gigantes sobre uma foto sua sorrindo. Já o de Lobão é mais sóbria, um close no seu rosto com fundo negro, bem ao estilo das biografias norte-americanas. Cada um no seu quadrado, deu empate.
Texto: Aí é covardia. Não dá nem graça comparar a fina escrita do Nelsão com a esforçada dobradinha Lobão/Tognoli. Motta teve a proeza de organizar a dionisíaca vida do rei do soul brasileiro e transcrevê-la de forma linear e apaixonante. É quase impossível largar o livro. O texto de Lobão é enjoativo, pois tenta, em vão, transportar para o papel o seu jeito neologístico de de falar. Não deu certo. Resultado: vitória de Tim.
Sexo: Os dois gostavam bastante da matéria, intercalando muitos casos sérios com muito sexo casual. Mas, pelo que deu pra perceber, o Lobo do Rio se saiu melhor, pois passou a vara em quase todo meio musical (expressão com duplo sentido) nos anos 1980 e 1990. Resultado: vitória de Lobão.
Dorgas, Manolo: esse é um páreo dos bons. Lobão e Tim enfiaram o nariz e a boca (opa!) em tudo que era imoral, ilegal e engordava. Melhor sorte teve o primeiro, que conseguiu parar antes de se encontrar com o homem da foice – apesar de uma tentativa de suicídio no currículo. A vida desregrada e o consumo de tóchico (como dizem nossas avós) encurtou a presença de Tim entre nós. Mas o resultado não podia ser outro: empate.
Rock´roll: Êta vida louca, louca vida essa dupla teve. Dois roqueiros natos, praticantes do tudo ao mesmo tempo agora. Resultado: mais um empate.
Humor: O momento que mais ri no livro do Lobão foi quando o João Gilberto ligou para ele de madrugada e fez com que ouvisse as oito versões que ele fez para a música Me Chama. Detalhe: Lobão estava trincadaço. Na biografia do Tim tem vários momentos hilários, especialmente quando ele é extraditado para o Brasil vestindo…pijama. Resultado: vitória do Tim.
Bom, até o momento, o rei do soul está na frente. Mas como este é um post “working in progress” voltarei aqui outras vezes quando pensar em novos quesitos e aí o placar poderá se alterar.
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