Cynthia 18/11/2022Tesouro das crianças brasileirasMe sinto injustiçada por não ter tido contato com a obra de Monteiro Lobato na infância. Como ter sido criança sem me aventurar, sorrir e aprender com o Sítio do Picapau Amarelo? Só estou começando a reparar essa falha agora, já na idade adulta.
Monteiro Lobato é um escritor criativo na criação de enredos, um estilista riquíssimo da língua portuguesa e um professor pra lá de divertido. Sempre ouvia falar do racismo de sua obra e, de fato, essa marca maldita está presente de maneira vergonhosa, mas não é de longe o principal da sua obra, nem motivo para não lê-la.
Acredito que, se não fosse brasileiro, ele estaria sendo festejado no mundo no mesmo nível de um Hans Christian Andersen, por exemplo. Como ele consegue ser tão brasileiro e, ao mesmo tempo, tão universal? O que ele faz nessa obra é levar as crianças para passear no mundo da imaginação, da fantasia e da literatura. Impossível não sorrir com a festa para as personagens dos contos de fada, não se interessar pelas histórias da Carocinha, pelas fábulas de La Fontaine e de Esopo e não sentir curiosidade de saber quem é o barão de Munchhausen ou o Pássaro Roca.
Sobre o racismo, quando a leitura tem a mediação do adulto, há uma solução: suprimir ou modificar os trechos ao ler em voz alta. Nos trechos onde Tia Nastácia é chamada de maneira pejorativa por sua cor de pele, falar apenas "criada", "mulher" etc. Nos trechos onde a cor é mencionada como um castigo, o melhor é nem ler o trecho.
É estranho como Lobato pode ser tão racista em "Reinações de Narizinho" e tão antirracista no conto "Negrinha", por exemplo. É, sem dúvidas, uma figura controversa. O que não é controverso é a qualidade dos seus escritos.
Toda criança brasileira que não tem alguém que leia Lobato para ela pode se sentir roubada desse valioso tesouro que é a sua obra infantil. Pais e mães, professores, leiam Lobato para seus pequenos!