Coisas de Mineira 09/08/2021
Senhora do fogo é a finalização da trilogia Saga da Conquistadora, da autora Kiersten White, que traz um reconto com personagens e conflitos históricos durante a tomada de Constantinopla, com uma das personagens mais cruéis e carismática da literatura: Lada Dracul, livremente inspirada em Vlad, o Empalador.
Por se tratar de um terceiro livro, pode conter spoiler dos livros anteriores.
Lada finalmente está em sua terra mãe, a Valáquia, e está no poder, assumindo o trono de Príncipe. Claro que, em se tratando da Lada, uma trilha de corpos ficou para trás. Ela está se tornando verdadeiramente o Dragão da Valáquia, como sempre sonhou.
Enquanto isso, Mehmed está desfrutando da conquista de Constantinopla, e se torna o homem mais poderoso do seu tempo, consolidando seus sonhos. Mas ele sente falta de Lada… como ela não aceita ser sombra do Sultão, ele manda buscar Radu, já que sempre soube dos sentimentos do rapaz, de verdadeira adoração. Entretanto, a fila andou…
“Você sempre foi implacável na busca de pessoas que o amem.”
Radu está em busca de sua esposa, Nazira, que acabou se separando dele junto com Cipriano durante a batalha para a tomada de Constantinopla, e só resta a esperança de encontrá-los vivos. Radu teme esse reencontro com Cipriano, já que o rapaz descobriu a participação de Radu no conflito, e sente não poder finalmente vivenciar um amor correspondido!
E voltamos para Mehmed, que não aceita um não… decidido a ter Lada a seu lado, envia uma delegação para chamá-la a discutir os novos termos da vassalagem, uma prática comum durante a idade média, que consistia em um compromisso de fidelidade entre nobres e que implicava direitos e obrigações – evidentemente Lada não se julga mais obrigada a baixar a cabeça para o sultão. Por isso, mata todos os embaixadores, mandando os corpos de volta para ele. E, para se confirmar como o Sultão mais poderoso da história, Mehmed sabe que não poderia deixar os assassinatos e a rebeldia de Lada passar uma imagem de fraqueza, decidindo que enviará seu exército para reconquistar a Valáquia.
Mas Lada é destemida, e números não fazem frente a toda a sua ferocidade, e só resta esperar por mais um banho de sangue… Falta saber de que lado Radu estará, e o que acontecerá no embate de duas forças tão obstinadas, e ao mesmo tempo, que se amam na mesma proporção?
“Ela parou numa curva do rio, onde uma caverna escondida camuflava uma passagem secreta para as ruínas da fortaleza da montanha. Entretanto não havia mais ruínas. O que ela encontraria por lá não era a solidão. Lada encontrava os cinzéis, os gritos dos homens, o clangor das correntes de metal. Enfim, uma promessa estava sendo cumprida: ela havia voltado para reconstruir sua fortaleza.”
Por se tratar de uma ficção histórica, ao finalizar os livros anteriores corria para buscar informações sobre os fatos e os personagens representados, e isso me deixou bem angustiada, porque, mesmo sabendo que não era um retrato fiel, era muito próximo, e imaginava o que deveria acontecer com Lada. Mas a autora construiu Senhora do Fogo de uma forma que me deixou muito satisfeita.
Lada e Mehmed são dois lados de um cabo de força, e sempre tiveram Radu para intermediar esse jogo de amor e determinação, mas ele se vê às voltas com as buscas à Nazira, sua esposa, já que ele prometeu à verdadeira companheira dela que a traria de volta – trata-se de um casamento de aparências, mas Radu ama fraternalmente sua esposa, a quem vê como uma amiga valorosa. Ao mesmo tempo, anseia por reencontrar Cipriano, seu verdadeiro amor, mesmo acreditando que ele pode não perdoar a traição durante o conflito de Constantinopla.
Os personagens têm seus caminhos construídos em tempos diferentes: Lada é uma força desde pequena, nunca vacilou e nunca trocou seus objetivos por conta de boy – se todos aprendessem com ela… Mehmed vai crescendo na história, mas nunca sem deixar de lado seu objetivo de se tornar o grande conquistador de seu tempo – mesmo que para isso passe por cima do coração.
Radu é o que mais se desenvolve, porque nunca teve um objetivo claro, esteve à sombra da irmã, depois à sombra do sultão, descobrindo sua força devagar ao longo de sua trajetória. A relação dele com Nazira é linda, a amizade e a fé dela possibilitam o amadurecimento de Radu. Passando a imagem de fraco ao longo da história, ele se torna cirúrgico nos momentos finais. Nunca imaginei que os irmãos seriam colocados em lados opostos, e doeu, porque sabemos que Lada ama o irmão, mas ele não sabe…
“Era o destino mais cruel possível para Lada. Ele sabia que ela iria preferir morrer lutando. Mas não teria essa opção. Radu sentiu uma resolução aguda e ressentida se cristalizando dentro de si enquanto pensava em como sua irmã ficaria destruída ao se ver impotente e prisioneira outra vez.”
Eu estava em um grande conflito sobre o caminho desses personagens em Senhora do Fogo, e a autora conseguiu de uma forma brilhante dar um final digno para todos eles. O livro teve várias reviravoltas, e é perfeito na descrição do momento histórico – mais uma vez, temos mapa, glossário e lista dos personagens. Podia visualizar os embates de tão perfeitamente descritos.
Vale ressaltar o brilhantismo com que a autora retratou os personagens homossexuais, de uma forma delicada e tão plena, que dá gosto de ler suas passagens. Kirsten brilhou na construção da diversidade em seus personagens.
Enfim, Senhora do Poder chega a uma conclusão esperada, de uma forma doce e com a perspectiva de futuro no epílogo: um final de trazer lágrimas, mas de ficar em paz!
Por: Maísa Carvalho
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