spoiler visualizarRonaldo Thomé 24/08/2021
"If you Listen the Fools/The Mob Rules"(...)
Desafiador, sombrio e intrincado; a primeira ideia que me vem à mente é a de um jogo de xadrez. No entanto, ao contrário de outras obras políticas, que discutem a estratégia com o fim de ensinar, o 18 de Brumário passa longe disso. Aqui, temos uma análise de fôlego sobre a tomada do poder por Luís Bonaparte na França do século XIX (e bota fôlego nisso).
É um livro muito denso e, se você não tomar cuidado, pode facilmente ficar confuso. Marx faz uma análise ora sincrônica, ora diacrônica do que aconteceu. Pelo que a história dá conta, é a primeira vez que uma análise e um detalhamento tão complexo foram feitos sobre esse tipo de assunto.
Eu apenas posso imaginar a surpresa e as longas discussões geradas pela obra desse autor na época. Usando-se de um tom sério, porém extremamente irônico, e usando-se de um sem número de referências a personagens antigos (sendo de ficção ou reais), Marx não deixa pedra sobre pedra ao desvendar os meandros do poder na França.
Praticamente todas (TODAS) as instituições políticas agiam de maneira arbitrária, utilizando as leis a seu bel prazer de acordo com interesses. Houve vários momentos em que as instituições listadas - a burguesia, as forças armadas, o congresso, a assembleia constituinte, os partidos organizados e até o proletariado, tanto industrial como liberal - usaram e manipularam as outras esferas, em muitos momentos.
Não fica tão claro se os políticos na França perceberam o risco do golpe que se ensaiava; o certo, porém, é que, desde 1848 (três anos antes de tudo acontecer), a coisa já não andava bem nos bastidores do poder desse país. Marx, ainda, faz um paralelo interessante que perpassa o livro: dois homens da mesma família e dinastia, com ideias e visões de mundo parecidas, tomando o poder, do mesmo jeito - e ninguém percebeu nada...? É daí que vem a frase inicial, que se tornou clássica: os grandes fatos e personagens da história ocorrem, primeiramente como tragédia, e na segunda, como farsa (vide 1964 e 2018 em nosso país).
É uma obra fenomenal, desafiadora e cansativa em muitos momentos (considero Marx MUITO mais difícil que Nietzsche, por exemplo); no entanto, ao menos prova que analisar o pano de fundo da política é árduo, exige muito estudo e perseverança. E sua recompensa é óbvia: entender que é possível evitar tragédias. E farsas.
Indicado para: conhecer o método de análise de Marx e como seu olhar arrebatador é capaz de esmiuçar acontecimentos que, infelizmente, se repetem há séculos (ou mais do que isso).
Nota: 9,5 de 10,0 (esse é o tipo de livro que exige releitura, dada a complexidade e a diversidade de assuntos que expõe).
Dica: leia ouvindo isso - https://youtu.be/xMsco5YkP5Y