Carmen

Carmen Prosper Mérimée




Resenhas -


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Eduardo 03/02/2021

(Uma pequena observação inicial: li esta novela na versão publicada pela Editora Zahar).

Novela bastante impressionante e com uma estrutura bastante diferente com relação a outras novelas que eu havia lido. A primeira e segunda partes contam a história de um narrador bastante erudito que está fazendo algumas pesquisas sobre Roma antiga. Em meio às suas pesquisas ele irá traçar contato com um homem preso e condenado à morte que irá contar sua história de amor com a cigana Carmen na terceira parte do livro, consideravelmente maior que as outras partes. Na quarta parte o narrador nos apresenta uma espécie de estudo sobre os ciganos.

O livro me parece ter dois grandes apelos ao leitor: o primeiro, a história trágica de amor e violência que me lembrou bastante o sensacionalismo dos programas policiais de fim de tarde; o segundo, o modo como é feita a representação do amor romântico de um homem e a representação de uma mulher que foge ao ideal das heroínas românticas.

É uma leitura que nos faz ficar divididos a apreciar a leitura COM o livro e CONTRA o livro. Os valores morais que estão tanto na fala do narrador que se confunde com o autor assim como do narrador secundário, José, que conta sua história de amor, aos olhos contemporâneos não podem ser considerados menos que machistas no trato com as mulheres e eurocêntricos no trato com os ciganos. Sobre o machismo, ele está explícito na epígrafe da novela: "Toda mulher é como o fel; mas tem duas horas boas: uma no leito, outra por ocasião da sua morte". É difícil não tender ao anacronismo e avaliar o livro de acordo com os valores de hoje.

Ainda assim, apesar da narração que a todo tempo julga Carmen através de comentários, é difícil não perceber que algo escapa ao controle da narrativa e Carmen surge como uma personagem admirável na sua expansividade. Por outro lado, José acaba por se mostrar como um personagem que reluta em assumir a responsabilidade por seus atos, sempre colocando-se como alguém que deixa-se levar pela manipuladora Carmen. Se isso é utilizado como estratégia para incriminar Carmen (e os ciganos, por extensão), por outro lado, coloca também José, um fidalgo espanhol, como um personagem de caráter fraco e que não sabe ter força para gozar de sua liberdade.

Talvez seja um livro que chame o leitor a contrastar os seus valores com os valores expressos nos comentários dos narradores porque é um livro que possui um caráter fundador da figura da femme fatale e essa representação ainda povoa a nossa visão de mundo. Nesse sentido, não há anacronismo e sim percepção de uma possível contemporaneidade entre meados do século XIX e o início do século XXI. É como uma pixação feita em uma avenida movimentada da cidade onde eu moro, feita provavelmente por uma militante feminista: "o amor romântico mata".
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LidoLendo 04/02/2020

Uma grata surpresa! Verdade!
“Carmen” de Prosper Merimee – 112 páginas @grualivros – Coleção “A Arte da Novela”.

Primeiro, porque a orelha do livro me contou que a belíssima ópera “Carmen de Bizet” é baseada nesta novela. Eu nunca vi, mas a ouvi bastante quando criança; lá em casa tinha um LP de um coral de mil vozes cantando a ópera. E era a coisa mais linda do mundo! Aquele coro enchia a casa, era de arrepiar.
Segundo, porque as primeiras páginas já me deixaram bem curiosa... e depois que a Cigana Carmen apareceu, eu não consegui mais parar de ler.
A novela começa bem morna, com um arqueólogo procurando o sitio da Batalha de Munda, na Espanha. Até que pelo caminho ele encontra Don José e Carmen, um contrabandista e uma cigana... linda, sedutora, perigosa.
“Ergui os olhos e a vi. Era sexta-feira, e nunca hei de esquecer”.
Aí, por um “acaso da vida” (evitando spoiler rs), Don José é preso e na cadeia, conta toda sua história ao arqueólogo e os motivos que o levaram àquela condição deplorável. Alguém adivinha o motivo? Carmen.
Carmen é linda, sensual, sedutora. Dissimulada, inteligente, ardilosa. Forte. E usava tudo isso para conseguir o que queria. Porém, a história é narrada por Don José, ou seja, Carmen não tem como se defender e contar o seu lado da história... mas senti Don José bem sincero ao narrar a ruína de sua vida por causa de uma mulher. Quem é o culpado aí? A mulher sedutora ou o homem possessivo? Possessivo, porém, totalmente passivo aos caprichos de Carmen. Em quem acreditar?
Eu me apaixonei por Camen, mas também fiquei com raiva dela... bicha tinhosa rs e confesso que fiquei com pena de Don José, e ódio também.
Enfim, já deu pra perceber o quão “treteiro” é esse livrinho, né? Eu adorei a leitura. E agradeço a @grualivros que me mandou de presente.

@isavichi

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site: @isavichi
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Carolina CM 01/05/2019

Girl Power das antigas
Quem diria que a ópera de Bizet foi baseada em uma novela! A informação me veio em forma de livro concreto nessa coleção da Grua Livros chamada "A Arte da Novela" que encontrei passeando em uma livraria imensa em São Paulo. Amei ler a história original dessa cigana linda, vivaz, inteligentíssima (no livro ela sabe falar basco ?) e extremamente charmosa. Carmen é forte, independente, politicamente incorreta...é impossível não se apaixonar por ela. 1830 e essa mulher já liderava um bando de homens, e da melhor forma possível, fazendo eles acharem que estavam na liderança ? Vou deixar um ditado cigano em homenagem ao dia do trabalho: "Cachorro que anda, sempre encontra um osso."
É interessante pensar também, que a história é narrada por Dom José, assim, conhecemos a história e a própria Carmen através de seus olhos. O que nos faz lembrar de Dom Casmurro, inclusive a descrição de Capitu é muito parecida com a descrição da Carmen! Sim, a cigana obliqua e dissimulada talvez tenha suas raízes na novela francesa...talvez.
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