Daniella 13/07/2021tereza batista cansada de guerra. cansada da peleja, da dor, da violência, da aridez, mas não da vida. esse romance de jorge amado é antes de tudo doloroso de ler, pesado com as temáticas abordadas (violência sexual, doméstica e pedofilia que podem ser gatilhos), brutal com tudo que a personagem que dá nome ao livro enfrenta ao longo de sua vida.
tereza batista é vendida, aos 13 anos, para um capitão que vai cometer todo tipo de barbárie contra a criança. no interior entre sergipe e bahia tereza conhece a banda pôdre da vida, mas também tem seus momentos que valem a pena viver. é a resistência, é a coragem, uma determinação inabalável. ao chegar em aracaju, como dançarina, conhece januário, mas como todo bom romance tem seus conflitos, com toda a carga dramática e lírica comum aos romances amadianos.
dentre todos os (poucos) livros que li do autor esse é o que tem uma maior experimentação estilística, temos a narrativa com idas e vindas entre o passado e o presente, temos conversas do próprio amado com os personagens do livro e um abecedário da peleja de tereza.
tereza batista é um mito. mas um dos bons, aquele que dá rumo, forças, energia. um mito que dá um sentido de viver nesse mundo de meu deus. tereza é um mito habitando no imaginário popular, na literatura de cordel, nas conversas de bares. tereza é a cara do povo brasileiro, como tem no livro: "tereza batista se parece com o povo e com mais ninguém. com o povo brasileiro, tão sofrido, nunca derrotado. quando o pensam morto, ele se levanta do caixão".
duas partes me chamaram atenção no livro: a greve das "mulheres da vida", essas, presentes desde tempos imemorias, não são consideradas gente, sempre marginalizadas. mas quando elas se levantam contra toda hipocrisia social, vc vê como essas mulheres são necessárias para a ordem da família tradicional brasileira. outra parte é a presença das religiões afrobrasileiras, o livro é uma homagem às divindades ancestrais, deixando o texto muito mais rico e simbólico.