Joao.Ricardo 23/04/2020
Ótimas visões de mundo de Vinicius de Moraes
Eu gosto bastante de Vinícius de Moraes, mas não sou seu grande entendedor e estudioso. Por isso, esse livro me susprewndeu por mostrar aspectos do autor que eu desconhecia.
"Para uma menina com uma flor" é uma obra que reúne textos de Vinicius publicados em revistas e jornais no período de 1941 até 1966, escolhidos por ele mesmo.
Iniciamos com o Vinicius de Morais bastante desapontado quanto aos dias em que vive, aborda questões sociais do próprio RJ e do mundo em guerra.
Há a citação da extinta Favela do Pinto que se localizava nas mediações do Leblon (quem souber de mais escritores que escreveram sobre essa favela me indiquem, por favor), há lucubrações sobre sobre a guerra, projeções sobre o fim da guerra em uma prosa poética particular de Vinicius; me marcou muito o texto "Meninas sozinhas perdidas no mundo e dentro de si". A primeira parte do livro é o momento de crítica e exasperação pessoal do autor.
Na segunda parte que reúne alguns textos de 1964 à 1966, Vinicius nos revela seu lado mais conhecido, um pouco melancólico, natural do poeta, aficionado pelo amor e levemente anedótico, em especial quando conta que em missão diplomática caiu em uma cova aberta em pleno cemitério de Los Angeles, ou descreve o racionamento de água ocorrido no RJ, em que foi liberado o uso da água por alguns poucos minutos.
Esse é Vinicius, ao meu ver, ao mesmo tempo que rumina questões da 2ª Guerra Mundial é capaz de nos trazer contos homéricos que habitam as ruas do RJ; ao mesmo tempo que lamuria a perda de amigos, nos toca com seu contato íntimo com a poesia e seus primeiros versos; ao mesmo tempo que divaga sobre o afeto e todos os seus desdobramentos é capaz de lidar com questões pontuais da ditadura civil-militar que já acobreava o Brasil na época; ao mesmo tempo que nos revela uma identidade brasileira é capaz de nos trazer referências músicas muito aprofundadas sobre crítica musical.
Esse é Vinicius de Moraes, embora atualmente para mim um pouco datado em algumas questões, é sempre um livre pensante nato e com um refinamento estético espantoso.
O título da obra foi dado em razão de Nelita Abreu Rocha, sua esposa na época e esse exemplar traz a capa original na contra-capa, entre outros documentos e fotos interessantes, por fim, temos uma entrevista com Vinicius feita por Odacir Soares, que em certo momento questiona a possível candidatura do autor na academia brasileira de letras, em resposta, desabafa Vinicius: "Deus me livre de ficar embalsamado dentro daquele fardão da Academia!"
Ótimo livro para conhecer um pouco mais de Vinicius, suas críticas, divagações, ter uma boa leitura.