Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 13/06/2023Despretensioso e gostosoLogo no começo de Romance concreto me veio à mente se eu deveria continuar a leitura, se ela de alguma forma me atrairia em algum ponto. Mas a cada vez que a dúvida batia eu pensava “vou ler mais um pouco e qualquer coisa eu largo”. De repente, porém, eu não queria mais largar. Pelo contrário: queria ler mais e mais e sentia falta dos personagens quando não estava lendo (e sim, quando terminei, ficou aquele vazio de saudade também).
As minhas dúvidas iniciais se deram porque achei que a protagonista seria insuportável. Mas como ela mesma aprende ao longo desta história, não podemos julgar as pessoas sem conhecê-las.
Olivia Liveretti era influencer conhecida, mas seus dias de glória já não eram uma realidade. Ainda assim, a conhecemos justamente quando a curva do sucesso está em declínio e ela se recusa a aceitar isso. Então, a primeira impressão que temos desta protagonista é a de uma menina mimada e prepotente.
Django é o cachorrinho de Olivia, e por menor que ele seja, tem um papel essencial nesta história. É graças a ele que Olivia acaba esbarrando pela primeira vez com Jonas. E a partir daí o destino deles irá se cruzar de diversas maneiras.
De maneira extremamente leve, Romance concreto nos leva a refletir sobre o universo digital e o quanto muitas pessoas acabam deixando de viver o que realmente importa: o mundo aqui fora.
Aos poucos, a narrativa também vai pincelando o poder das escolhas e a importância de seguirmos os nossos sonhos, mesmo que, em algum momento, eles mudem. E eles vão mudar, cedo ou tarde.
Outra reflexão importante desta história é o valor da amizade, ainda mais num meio tão superficial quanto os das relações virtuais.
E ainda tem espaço para que conflitos familiares se façam presentes, nos mostrando que qualquer família está sujeita a cobranças sem sentido que apenas estragam o relacionamento entre os familiares.
Romance concreto se passa no Rio de Janeiro e, por mais que boa parte da história aconteça basicamente nos arredores da casa de Olivia, também temos a oportunidade de visitar, sob a perspectiva dela, a periferia. Chega até a ser surpreendente que Olivia não se incomode de ir para a periferia da cidade, de trem. Algo que eu jamais esperaria da protagonista do começo do livro.
O espaço central de todo o conflito desta narrativa, contudo, é a loja Kinki, uma loja de quinquilharias que, segundo a narradora (e protagonista) foi o berço de seus sonhos trabalhistas.
O livro começa justamente quando, levando Django para passear, Olivia descobre que a Kinki está sendo demolida e fica indignada com isso.
Um ponto que me chamou a atenção ao longo da narrativa, para além dos temas que foram muito bem introduzidos, foram os diversos jogos de palavras feitos por Olivia.
Uma história muito gostosa de ser lida para passar o tempo e que, apesar de parecer banal, pode trazer algumas interessantes reflexões (e lágrimas).
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