O fantasma da máquina

O fantasma da máquina Gabriela S. Nascimento




Resenhas - O fantasma da máquina


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Henrique Vaz Martins 08/09/2023

Um livro surpreendente e profundo... um perfeito exemplo daquele livro que você começa a ler sem pretensão nenhuma e sem nenhuma expectativa, mas que que no final te entrega algo inesperado.
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Paulo 28/04/2019

O que faz de uma pessoa senciente? O que nos dá uma alma? Vários autores de ficção científica como Isaac Asimov e Brian Aldiss já se debruçaram sobre esta pergunta para falar de robôs e se eles poderiam ou não ter uma consciência humanas. Gabriela S. Nascimento vai trabalhar esta pergunta, mas sob um outro ponto de vista. Vamos ao lado de sua protagonista Alex descobrir o que faz dela tão diferente de outros robôs do mesmo modelo. O que faz dela um indivíduo, se é que robôs podem ser enxergados como indivíduos.

Logo no início da narrativa Alex é colocada diante de um dilema. Ela presencia o suicídio da pessoa a quem ela foi incumbida de acompanhar. Às portas da morte, Kris desperta em Alex o desejo de viver. Presenciamos em seu dono a angústia que cada dia significava e seu suicídio não é nenhuma surpresa. Sua fobia social era bem grave e, inicialmente, eu imaginei que a história seria sobre a relação dos dois. A autora nos dá uma rasteira logo nas primeiras páginas e tira o nosso chão completamente. Ela emprega um recurso de escrita que é lindo, e acaba se encaixando muito bem com a sua proposta. O narrador da história é Kris, que tinha acabado de se suicidar. Ele vai nos acompanhar até o final da história, relacionando suas experiências com as de Alex e contando um pouco sobre o pouco tempo que ele e a robô tiveram juntos. Um recurso semelhante ao que Markus Zuzak usa em A Menina que Roubava Livros. Kudos total para a autora por escolher esse tipo de narração.

Podemos dizer que a odisseia de Alex é quase como um conto de fadas porque ela precisa superar obstáculos para conseguir chegar ao final e descobrir quem ela é. Essa abordagem em trios se passa em três momentos distintos: ao lado de Ana, no Pinóquio e depois ao lado de Júlia. Para mim, o momento com a dra Borges já é um encerramento e eu não incluo necessariamente nesse trio de obstáculos. Quando Alex chega para ficar com Ana e Elias, temos uma personagem confusa sobre o que fazer. Ela comete uma ação terrível que a coloca em fuga e ela não entende por que está correndo. Qualquer robô apenas esperaria para ser reprogramada ou reciclada. Surge nela uma estranha vontade de viver. É com essa mentalidade que ela segue rumo a outro lugar. Mas, quando ela chega lá, sua cabeça é muito infantil e inocente. Ela não sabe o que fazer com sua súbita liberdade. Para alguém que nunca havia experienciado o mundo, tudo parece ser muito grande. E Ana percebe isto na personagem. Ao tentar tomar as decisões por ela, Ana retira novamente a liberdade de Alex. O que vamos ver é o livre-arbítrio sendo desenvolvido nela. Mas, peraí.... robôs tem programação ou livre-arbítrio?

A autora não vai se debruçar muito em determinados meandros e especificidades da história. O que eu achei uma pena porque tira um pouco da amplitude do que ela poderia conseguir. Por exemplo, a gente entende que os Tristonhos estão em busca de uma suposta liberdade. Mas, não fica bem claro que liberdade é essa. Seria uma igualdade social? Seria uma revolta por espaços iguais? O que eu entendi dos Tristonhos é algo mais filosófico e tem a ver com a personalidade de Ana. Por ter deixado alguém para trás, a personagem ficou com remorso. Este remorso se transformou em algo além. O estar lutando por algo acabou por perder a importância com o tempo e tudo o que ela desejava era voltar para casa. A máscara representava apenas o que a personagem sentia em seu interior.

O momento no Pinóquio significa a busca da personagem em entender qual é o seu lugar no mundo. Para isso ela precisa descobrir que está viva. E ao se colocar buscando alguém que compartilhe dos mesmos desejos e anseios que ela mesma, ela embarca em uma jornada que, por mais infrutífera que seja o resultado final, a ajuda a crescer. Nem sempre encontrar pessoas iguais vai nos ajudar a entender a nós mesmos. Se somos indivíduos, não devemos buscar a homogeneidade, mas a diferença. É nessa diferença que está a faísca de vida que Alex tanto necessita. É muito legal perceber que a autora solta pequenos easter eggs sobre aonde ela quer chegar. Seja na ideia de uma boneca que queria ter vida ou em um lugar chamado Pinóquio. Afinal, se formos pensar, este é o grande tema da história. Se a personagem vai conseguir isso ou não já é algo completamente diferente.

A ideia de inserir poucos personagens secundários na narrativa tem a ver com a própria dificuldade de Kris e de Alex de se relacionar com os outros. Achei isso coerente e distinto. Tem até alguns momentos no Pinóquio em que percebemos a personagem lutar contra si mesma para poder falar com um grande número de pessoas. Mas, por outro lado, senti falta de um trabalho maior com os personagens. Como o narrador era onisciente, era possível caracterizar e aprofundar melhor os mesmos. Isso em um sentido de dar a eles plots a serem resolvidos. Alguns destes plots apenas ficam no ar, abrindo espaço para o leitor formular suas próprias ideias sobre o que aconteceu a eles. Quase no final, Gabriela até dá algumas dicas sobre o que aconteceu com eles, mas nesse momento eu já estava em um sentimento de fechamento e não queria saber tanto sobre eles.

Quando é que percebemos que estamos vivos? Quantos de nós já não nos perguntamos se isso é um sonho ou é real? Tem todo um momento da trajetória de Alex que não sabemos se aconteceu ou se se tratou de um erro de configuração. A autora aproveita para colocar mais uma dúvida em nossa cabeça: robôs podem sonhar? Em momentos quase oníricos, Alex desperta a percepção sobre si. Entender sua própria existência no mundo a partir do óbvio: o que eu vejo no espelho é um objeto ou uma pessoa? Então pouco a pouco a personagem vai se dando conta de que a individualidade é formada por nossas ações no mundo que nos cerca. São as experiências que vivenciamos que nos torna mais reais. Ela nos difere uns dos outros.

Para um romance de estréia, O Fantasma da Máquina é acima da média. Tem alguns problemas aqui ou ali, mas a obra se supera ao nos propor questionamentos. A escrita da autora tem uma leveza e suavidade incrível. As páginas passam como o vento passando em nossos rostos ou o som de folhas farfalhando ao fundo. Dá para você ler o romance com aquelas músicas de documentário sobre a natureza ao fundo apenas para dar vazão ao momento. Eu gostei muito do romance, e a Gabriela me trouxe de volta o prazer de ler uma boa ficção científica, daquelas reflexivas, escritas por um autor nacional. Termino a minha resenha com esta citação linda:

" - Eu li um livro uma vez, sobre um viajante do espaço que passa a vida procurando uma caixa com todos os segredos do universo em montanhas feitas de pó de mundos distantes, só para se dar conta de que ela estava enterrada no quintal da própria casa."

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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Wes 20/04/2019

Ela foi criada pra fazer companhia pros humanos, mas os humanos estariam preparados pra ela?
Por mais que a Alex tenha sofrido no começo com a perda do principal companheiro e único amigo que ela tinha, ela se encontra meio perdida depois de tudo isso. Sei que ela é um robô que não sabia lidar muito bem com o que estava acontecendo. Mas o livro meio que ficou sem rumo com a personagem e com o próprio narrador, até ela acabar encontrando uma mulher misteriosa que a leva pra sua casa, pra aí começar a ter mais ação.
O que não me contagiou foi justamente nessa parte, onde descobrimos um lugar que serve de prostituição,justamente esses bonecos que são parecidos com humanos e que são tratados com um certo apelo sexual,esse tema remete um pouco a Blade Runner e até com o conto de A testemunha daquela série de animação da Netflix.
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Artax 18/03/2019

Vivos, incompletos.
Alex, exemplar da mais moderna geração de robôs criada pela Herón de Alexandria, sentiu que algo mudava dentro de si ao presenciar a morte de Kris. Quebrada? Defeituosa? Sem compreender de forma lógica o que a morte despertara em sua programação, Alex parte em busca do desconhecido para preencher aquele estranho vazio que surgira dentro de si.

A jornada de Alex em busca de explicações para sua centelha de vida, acompanhada e narrada por Kris, contrapõe a sociedade de Esfera, cuja própria humanidade parece se perder rapidamente entre desigualdade social, poluição, dependência da tecnologia, vigilância e autoritarismo.

É nesse mundo estranho e desumanizado que Alex conhece e se despede de pessoas, histórias, lembranças, ilusões e expectativas. O Fantasma da Máquina, pelos sentidos de Alex, nos convida a relembrar o que nos torna humanos. Somos frágeis, defeituosos, incompletos e sempre em busca de algo que nos falta. Estamos vivos.
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Shin 11/03/2019

Um romance inesperado
Não sou um grande leitor de ficção científica, mas ao ler O Fantasma da Máquina me surpreendi porque os caminhos tomados pela autora, como também por Alex, personagem central do livro, são inesperados e dão uma luz bonita e profunda ao todo. Recomendo muito a leitura!
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regi @bookiane 07/03/2019

Um tipo de robô arquitetado para parecer com um ser humano em todos os aspectos possíveis, encomendado para ter o design que você quiser ou precisar, para fazer o que você quiser ou precisar, em troca de boa quantia de dinheiro. Esses são os robôs da série Laika, tipo da personagem principal, Alex, que a princípio foi encomendada por um pai para fazer companhia a seu filho introvertido, depressivo, solitário, que acaba se matando na frente dela, fazendo a sentir algo diferente em si. A partir daí, Alex precisa buscar seu próprio caminho, agora que já não “pertence” a ninguém, não quer ser devolvida e ter a memória apagada e nem quer morrer (ou ser desligada). Todos que ela encontra em seu caminho ajudam-na de alguma forma a entender o que é aquele “defeito” que ela sente por dentro.
Em O Fantasma da Máquina, percebi uma mistura de ficção científica, distopia, realismo mágico, e sabe-se lá o que mais, e que funciona perfeitamente. E de repente você se vê dentro da história e tudo que acontece, mesmo o “impossível”, se desenvolve de uma forma bem natural. Inclusive algumas coisas ali podem muito bem acontecer num futuro próximo (muito Black Mirror).
Uma coisa que gostei muito é a estrutura da narração, que muda sutilmente em alguns momentos, meio que dando a sensação que uma história está sendo contada dentro daquela história.
Há personagens gente como a gente (além de robô como gente); faz referência a transtornos como ansiedade e depressão, de forma discreta, sem definições técnicas e sem apontar o dedo; apresenta uma realidade político-social que, apesar de não ser necessariamente o pano de fundo da história, de uma forma geral, mostra um panorama de desigualdade social, severa crise ambiental, conflitos políticos, grupos de resistência, discussão do papel dos robôs – da tecnologia - naquela sociedade.
Uma diversão à parte é ir reconhecendo várias referências à cultura pop, mas não vou entregar nenhuma por aqui, sem spoilers.
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