Leila de Carvalho e Gonçalves 25/08/2018
Três Mulheres
poeta e escritor Gérard de Nerval (1808-1855) é um dos nomes mais respeitados da literatura francesa. Genial, teve uma vida conturbada, marcada pela esquizofrenia e durante um surto psicótico, acabou se enforcando num beco parisiense.
?Sílvye? ou ?Sílvia? é considerada sua obra prima e foi publicada pela primeira vez no periódico La Revue des Deux Mondes em 1853, e incluída no livro ?As Filhas do Fogo? no ano seguinte. Com poucas páginas, é um belíssimo exemplo do Romantismo por conta do lirismo, subjetividade e escapismo, mas também surpreende pela melancolia, característica do Simbolismo, e o uso da cor que lhe proporciona uma irrealidade tênue além de uma atmosfera onírica, precursora do Surrealismo.
Elogiada por Umberto Eco (?Seis Passeios pelo Bosque da Ficção?) e Harold Bloom (?O Cânone Ocidental?), não se trata de uma novela de leitura fácil mediante a complexidade temporal tecida pela memória. Confesso que quase abandonei o livro no início, mas resolvi insistir e, ao chegar ao fim, não me arrependi. Acabei sequestrada pela loucura de Nerval...
Sua história apresenta traços autobiográficos e gira em torno de tres mulheres por quem o narrador, jamais nomeado, foi apaixonado. A primeira é Silvia, uma jovem camponesa, que se apresenta como a antítese da nobre e altiva Adriana cuja lembrança é evocada por Aurélia, uma atriz de relativo sucesso.
Resumidamente, será que ao amar alguém, não estamos amando o que amamos em outras pessoas ao longo de nossas vidas? A perspectiva desta pluralidade é algo absolutamente inédito na literatura do século XIX e aí está a festejada importância da narrativa.
Finalmente, é inegável a influência de Nerval em ?La Recherche?, de Proust, e como sugestão de leitura, recomendo ?Contra Saint-Beuve?.
?Não conheço narrativa mais encantada em nossa língua." (Julien Gracq, escritor francês)