rekizone 17/01/2023
Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido
Em um mar de resenhas preponderantemente positivas, eis aqui a minha ilha de negatividade. Mas estejam avisados: não gostei do livro, embora tenha tentado; se você gostou e não deseja se estressar com uma resenha que contraria o que você achou, recomendo apenas ignorá-la. Decerto nos poupará do estresse.
Sem mais delongas, vamos lá.
A Elite Dourada é um livro clichê, e essa é uma das poucas vezes em que digo isso sem ser um elogio. Os personagens são caricaturas de pessoas reais, com um único traço de personalidade que os mantêm seguindo em frente, e na maior parte do livro agem de maneira espalhafatosa e desprovidos de senso. Nenhuma atitude, neste livro inteiro, é tomada com o auxílio de um cérebro, e na maior parte do tempo cheguei a duvidar se os personagens realmente possuíam um.
No que concerne aos personagens, Luz, nossa personagem principal, provavelmente foi concebida com a ideia de uma garota engraçada, desengonçada e sem acanhamentos, que por possuir um passado diferente daqueles ao seu redor (nunca frequentou lugares chiques, recebeu treinamento ou foi "contaminada" pela ganância do mundo), é enxergada por todos como uma brisa de ar fresco em meio a um mundo abafado. O problema mesmo é que esse é um arquétipo que já é usado há tanto tempo que chega a ser cansativo. Ainda assim, tentei dar uma chance à personagem. Acredito sempre ser possível pegar algo que mil pessoas fizeram igual e dar uma roupagem diferente, fornecer aos leitores uma nova visão de mundo... mas não foi o que aconteceu aqui. As atitudes de Luz me faziam sentir como se estivesse assistindo um dos episódios de The Office. Seus jeitos, trejeitos, falas, todos eles me faziam passar uma vergonha alheia horrenda que despertava meus instintos mais viscerais de luta ou fuga (exemplo: toda vez que ela chamava o outro personagem principal, Nikolai, de Morcegão. Ou Príncipe das Trevas. Ou Ian Somerhalder cover. Simplesmente... não).
E já que falamos de Nikolai, vamos logo tratar dele para tirá-lo rapidamente do nosso caminho. Nikolai também é outro arquétipo batido dos livros de romance: o cara sombrio, com um passado obscuro, ganancioso e implacável até conhecer a personagem principal e mostrar para ela suas partes mais sensíveis. Ele e Luz só precisaram se encarar por exatos cinco segundos para sentirem uma atração forte e absurda surgida do além que me deixou revirando os olhos com tanta força que quase tive dor de cabeça. Admito que insta-love (quando os personagens se apaixonam imediatamente um pelo outro sem motivo nenhum) nunca foi algo que me apeteceu, e talvez por isso eu já tenha desgostado profundamente do relacionamento dos dois logo de cara. Some-se a isso o fato de que não achei o relacionamento bem desenvolvido e permeado de dramas desnecessários que você terá, para mim, uma receita perfeita para o desastre.
Por. Fim. Preciso. Falar. Que. A. Escrita. Não. Me. Agradou. L. C. Almeida usa muitas frases nesse estilo ao invés de conseguir transmitir ao leitor como o personagem está se sentindo, escreve quase como se eu estivesse lendo um volume novo de Querido Diário Otário e enche o livro com um número que beira ao absurdo de referências a cultura pop e memes (algo dentro de mim se retorceu quando li "Deus me dibre" e "Que mulher phyna" nele) que, creio eu, servem apenas para tornar seu livro mais palatável para pessoas mais jovens. E em que pese algumas pessoas certamente achem isso engraçado e descontraído, na minha opinião foi algo que empobreceu (e muito) a leitura.
Nesse quesito, é sempre bom pontuar que gosto de livros de humor, de verdade. Me divirto imensamente com narrações sarcásticas bem colocadas, com personagens com gracejos inteligentes, mas posso afirmar que esse não é o caso com A Elite Dourada. Tudo parece forçado demais, absurdo demais, se apoiando em cima de memes para arrancar risadas e quebrar a tensão. E justamente por causa disso teço outra crítica: memes são algo passageiro e extremamente datados. Um meme de 2019 não tem o mesmo efeito em 2023, e isso deixa a leitura insípida e, como dizem os jovens hoje em dia (e talvez não digam mais amanhã), cringe. Quando se está escrevendo uma fanfic online, uma AU no Twitter e derivados, não vejo problema algum usar um meme; mas em um livro publicado, bom... retorno ao argumento de que empobrece a leitura.
De modo geral, A Elite Dourada foi um livro que não consegui gostar. Tentei muito, inclusive por insistência de minhas amigas, mas não foi dessa vez. Me senti teletransportada para a época em que tinha 13 anos e lia fanfics no Wattpad, e, cá entre nós, prefiro sinceramente deixar certas coisas permanecerem no passado.