Antonio Luiz 16/03/2010
Não há erros graves de gramática ou de estilo, mas a história e os personagens são fracos, a narrativa é monótona e sem graça, a trama é inconsistente e arbitrária.
Percebe-se que o autor tentou fazer alguma pesquisa histórica, mas seu entendimento da época e dos costumes é superficial. Dá, por exemplo, descrições detalhadas de trajes, armaduras, armas e equipamentos, mas não parece entender muito bem como são usadas. Nesse livro, em particular, ele não parece entender como se segura uma katana - pensa que ela é usada com uma só mão. Também faz um mestre japonês quebrar estupidamente a katana contra a claymore do escocês, muito mais pesada.
Argyll, o protagonista escocês, ensina os japoneses a usar uma arma em cada mão. Sendo que as armas de Argyll são o machado duplo e a claymore, ambas armas que exigem duas mãos para serem manejadas!
Numa batalha, Argyll, mata um cavaleiro mongol e apodera-se de sua montaria, logo em seguida descrita como "um cavalo enorme". Hem? Mongóis usavam pôneis, rápidos e resistentes mas pequenos, que teriam arriado com o peso de um europeu avantajado que usava uma armadura de placas completa (os cavaleiros europeus usavam cavalos muito robustos e pesados, ancestrais dos modernos cavalos de tração).
O escocês Argyll, tendo viajado ao império sino-mongol de Kublai Khan por razões não explicadas, tendo sido bem recebido e lutado ao lado dos mongóis contra os turcos, aceita engajar-se em uma traição ao império arquitetada por um chinês do qual é hóspede e depois ajuda os japoneses contra os mongóis - sabendo, provavelmente, que teria de atravessar novamente todo o vastíssimo império mongol se quisesse voltar para casa. Por quê? Por prazer? Julgou injusta a causa dos mongóis? Não se explica.
Imagino que os motivos do relativo sucesso desses livros estejam em primeiro lugar na edição chamativa e bem cuidada - parece um livro de RPG, cheio de ilustrações coloridas e anexos explicativos (nem sempre são historicamente exatos ou relevantes para a narrativas, mas impressionam).
Em segundo lugar, talvez, o idealismo religioso também tenha seu apelo, ao menos para cristãos sem muito senso crítico. Este livro, por exemplo, faz a apologia das "virtudes do cavaleiro cristão" - fé, esperança, caridade, temperança, prudência, justiça, fortaleza e do "código bushido" - justiça, bravura, benevolência, polidez, verdade, honra e lealdade.
Mas os atos não combinam com as palavras. Um camponês açoita um garoto que lhe roubou um cavalo e o perdeu - o "cavaleiro" Argyll passa, exige que o camponês detenha o castigo e como o outro o desafia com a vara de açoitar, amputa-lhe a mão! Isso é justiça? É benevolência?
Na batalha contra os mongóis, o conselho do estrategista cristão é arremessar cadáveres putrefatos aos navios mongóis para provocar a peste, pois "afinal é uma guerra". Honra? Caridade? Nenhum dos dois, mas seguramente uma tolice. Esse recurso cruel poderia devastar uma cidade sitiada e superpovoada a médio prazo, mas seria inútil em uma frota em movimento - os cadáveres seriam prontamente jogados à água, o contágio não se propagaria e, mesmo que se propagasse, isso aconteceria muito depois que a batalha estivesse terminada.
Vale notar, também, que historicamente a batalha de Hakata, descrita como vitória dos japoneses e escoceses, foi na verdade uma vitória mongol, que obrigou os sobreviventes inimigos a se refugiarem no castelo próximo. Os mongóis se retiraram vitoriosos para seus navios e só foram embora por causa da tempestade que à noite devastou um terço da frota.