spoiler visualizarSara 31/03/2023
Eu sentia atração pelo medo (e assim matei toda a minha família)
Pessoalmente, thrillers e livros de suspense não costumam compor a maior parte das minhas leituras. Na verdade, eu leio pouquíssimos durante o ano porque sempre penso que o final tende a ser corrido e mal explicado, e por isso me esquivo, mas definitivamente foi uma ótima decisão ler este aqui.
Em primeiro lugar: foi certamente a leitura mais fluida que fiz nos últimos tempos. Se não fosse o clube do livro, teria terminado em dois dias, porque toda vez que começava um capítulo era impossível parar e por muitas vezes esquecia que estava lendo um livro de fato, me sentia completamente imersa no conflito. Isso se deve ao excelente trabalho de ambientação que a autora faz: eu conseguia imaginar a casa, os comportamentos, os olhares, sentia a respiração e o cheio de sangue e de cloro, tamanha era a descrição.
E por falar em descrição, uma salva de palmas para quem me fez efetivamente acreditar que estava na cabeça de um psicopata: pode entrar, Yu-jin. Poucas vezes senti tanta raiva de um personagem como senti dele (e sendo essa a intenção da autora, agiu muito bem). No desfecho da história, queria TANTO socar a cara dele que inventei novos palavrões apenas para saciar essa vontade. Ele é quase desprovido de emoções humanas e nunca sentiu empatia, agindo sempre com o maior dos egocentrismo e visando apenas o seu próprio bem estar e prazer, que é a definição mesmo de um psicopata. A cada revelação feita sobre o personagem eu me chocava mais e mais, pensando “até onde esse louco pode ir?”, e no final descobrimos que nenhuma moralidade ou empatia próprias seriam capazes de pará-lo, e assim foi.
Quanto aos outros personagens: nunca desconfiei da bondade e inocência de Hae-jin, mas me surpreendi negativamente com a ingenuidade dele, jurando que esse cara que tinha matado três pessoas por puro interesse iria certamente se entregar para a polícia. Sobre a mãe, resolvi que não iria julgar suas atitudes, porque além de não ter filhos eu estava acompanhando da perspectiva de quem não conviveu com essa criança, e eu já odiava esse personagem desde o início, então logicamente ela não poderia se desprender desse filho (matando-o ou o internado num hospital psiquiátrico). Embora ela devesse ter feito isso se quisesse acabar viva, acredito que foi uma personagem coerente e que agiu sempre da melhor forma que pensava ser possível.
Por último, esse final. Me lembrou o final de O Colecionador, que eu odeio, e obviamente odiei o final desse aqui. Estava me sentindo tão furiosa que parecia que tinha colocado meu coração em uma panela de água fervente, e eu tinha me prometido que, se o Yu-jin se safasse de tudo no fim do livro, iria dar uma estrela e acabou. Mas nem eu acreditei nisso, e, como obviamente a intenção da autora era exatamente essa, ela acertou muito bem e escreveu uma ótima história, com personagens complexos, algumas facilitações misteriosas e um final agonizante digno de me fazer passar as próximas duas semanas morrendo de raiva toda vez que me lembrar.