spoiler visualizarLulu 16/08/2023
Ao homem, tudo pode.
Quando comprei a ?Presença de Anita? esperava encontrar um erotismo na narrativa e tinha como maior interesse debruçar-me sobre essas cenas. Tais cenas não decepcionaram, são descritas lindamente, projetando de forma verdadeira os sentimentos estabelecidos entre Anita e Eduardo, os quais deferiam em suas intenções nesse relacionamento extraconjugal. Entretanto, fiquei surpresa ao me deparar com descrições explícitas de pedofilia no enredo, o que tornou a história ainda menos tolerável do que já me parecia.
Logo nas primeiras páginas considerava desistir do livro, o autor abusa de uma escrita rebuscada e bastante detalhada, a qual, ao invés de prender o leitor, acaba o afastando da história. Compreendo que a escrita deve-se, principalmente, a época em que fora publicado, porém, o desenvolvimento foi extremamente maçante e só comecei a afeiçoar-me com a leitura quando cheguei na parte dois.
Ao desenrolar da narrativa, só conseguia sentir pena das amantes de Eduardo, o qual sempre estivera projetando nas nelas a Cítia, a dona dos seus sonhos e no mais tardar, a que ocasionará seus pesadelos. Eduardo tenta encontrar em Anita, e falha inutilmente, a sombra dessa mulher, mas a convivência o faz perceber o seu erro fatal. Fatal para ela, infelizmente. Anita, impetuosa com era, amou Eduardo perdidamente ao ponto de se comprometer a tirar a própria vida com ele, pois não suportaria ser abandonada pelo mesmo. Ela morreu acreditando que o seu amor era correspondido com semelhante fulgor. Distante disso, Eduardo só carregava luxúria pela moça e quando atirou na fronte do seu rosto, ainda receoso da morte, fez isso por si. Jamais por eles.
No fim, apenas me surgiu raiva. Muita raiva de Eduardo e como as pessoas do seu ciclo não desprezavam as suas atitudes detestáveis de trair constantemente a esposa. Contanto que não sujasse o nome da família e mantivesse tais atos fora dos olhos mundanos, poderia gozar o quanto quisesse daquela realidade. E Lúcia, nunca vi uma mulher tão morta e coitada, acreditando que o marido mudaria e voltaria ser como na época do noivado. Além de não manifestar nenhuma raiva, além de frieza, ao compreender que Eduardo voltará a se engraçar por outra mulher. Achei terrível como Mário Donato colocou-a em uma posição de extrema passividade e conformismo, aceitando o esposo não importa como fosse.
Não me acho na posição de recomendar ou não um livro, mas saliento que há umas cenas que embrulham o estômago e o que deveria ser uma narrativa erótica, passa, na maior parte, apenas a imagem de um homem perdido na própria existência, buscando uma fantasia inalcançável.
Deixo a seu próprio risco ler ou não ?Presença de Anita?.