Eduarda Graciano do Nascimento
25/09/2022Se Vestida Para Casar fosse um thriller psicológico... Korede é uma enfermeira de classe média que vive em Lagos, na Nigéria, com a mãe e a irmã mais nova, Ayoola. Esta, de uma beleza incomum, está acostumada a ter suas vontades satisfeitas e, por vezes, age com inconsequência. É após uma dessas vezes que Korede se vê no apartamento da irmã, certa noite, ajudando-a a se livrar do corpo de mais um namorado, que se encontra caído em uma poça de sangue, sem pulsação e com uma faca enfiada no abdômen. Ayoola jura que foi sem querer, como das vezes anteriores, e Korede passa a refletir intensamente sobre a verdadeira personalidade da irmã e o perigo que corre cada rapaz que se envolve com ela.
Acompanhamos a história dessas duas irmãs pelos olhos de Korede, a mais velha e sensata das duas. Ayoola, na verdade, de sensata não tem nada. Ela é imatura, caprichosa e muito inconsequente. Senti raiva dela quase o tempo todo. De Korede, o leitor sente pena, e um pouco de vontade de sacudir, já que ela parece cega aos óbvios problemas psicológicos da irmã. Mas conforme vamos avançando na narrativa, passamos a entender exatamente o que acontece com Ayoola, com Korede e com o poderoso sentimento fraterno que une as duas. As coisas começam a sair um pouco do controle quando a caçula desperta o interesse de Tade, um dos médicos residentes no hospital em que Korede trabalha e por quem nutre uma paixão secreta. Korede havia, até então, feito o possível para esconder a irmã de Tade, já que sabia do poder dela de despertar o desejo instantâneo de qualquer homem. Parece piada mas, toda a dinâmica desse triângulo me lembrou o filme Vestida Para Casar (Anne Fletcher, 2008) haha, se fosse um thriller, claro.
"Meu telefone acende e olho para a tela. Ayoola. É a terceira vez que ela liga, mas não estou com vontade de falar com ela. Talvez ela esteja ligando porque mandou outro homem para a cova prematuramente ou talvez queira saber se posso comprar ovos quando estiver indo para casa. De qualquer forma, não vou atender."
Esse é o primeiro romance de Oyinkan Brathwiate, autora nigeriana de 34 anos. Pelo título, ou até pela sinopse, podemos achar que se trata de um romance policial, mas está mais para um thriller psicológico, e um não muito pesado (uma pena). Como irmã mais velha eu me identifiquei com a Korede em alguns momentos, que parecia amar a caçula como se fosse sua mãe e parecia querer protegê-la de qualquer situação ruim. Apesar de, é claro, um sentimento de inveja e ciúme de Korede para com a perfeita Ayoola se sobressair durante a maior parte da obra. Psicanálise à parte, gostei bastante da escrita, da história, das personagens – inclusive de passar raiva com elas – e espero ler mais coisas da Oyinkan no futuro. O defeito do livro, pra mim, é ser curtinho. Não que fosse necessário, mas eu queria mais!
"Perguntava-me o que aconteceria se Ayoola fosse pega. Se, pela primeira vez, ela fosse responsabilizada por suas ações. Imagino-a tentando usar sua lábia para sair dessa, mas sendo considerada culpada. O pensamento me deixa tentada. Aproveito por um momento e depois me forço a deixar a fantasia de lado. Ela é minha irmã. Não quero que ela apodreça na cadeia e, além disso, sendo Ayoola quem é, provavelmente convenceria o júri de que era inocente. Suas ações eram culpa de suas vítimas e ela havia agido como qualquer pessoa sensata e maravilhosa agiria nas mesmas circunstâncias."
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https://donaguardia.tumblr.com/post/696400753463525377/minha-irm%C3%A3-a-serial-killer-oyinkan-braithwaite