Raphael 15/12/2020“O problema com Deus” de Bart Ehrman. Concluindo os estudos deste excelente autor (ainda publicarei outra resenha dele de um livro já lido), especialista no novo testamento, temos este livro que nos mostra seu processo de “desconversão” do cristianismo. Segundo suas próprias palavras “(...) o processo de desconversão não foi fácil ou agradável. Eu abandonei a fé esperneando e gritando”. Mas antes de entrar no mérito da obra, gostaria de registrar o excelente trabalho da editora AGIR em publicar no Brasil as obras deste grande estudioso da Bíblia, particularmente do Novo Testamento, uma das maiores autoridades internacionais sobre o assunto, Bart Ehrman, que acabou passando despercebido pelas grandes editoras do mercado brasileiro.
No mais, sobre a obra, vemos aqui os argumentos do autor que serviram de parâmetro para ele abandonar o cristianismo. O motivo é bem simples: o sofrimento que aflige o mundo. O livro gira em torno disso, da Teodicéia que, traduzindo, refere-se ao problema de como Deus pode ser Justo considerando-se o fato de que há tanto sofrimento no mundo em que ele supostamente criou e do qual é soberano.
Muitos diriam que o sofrimento no mundo tem algo a ver com o livre arbítrio do ser humano. Ehrman debruça-se também sobre isso e conclui que esta solução não resolve o problema. O mundo continua tendo sofrimento, apesar do livre arbítrio, e não por causa dele. O livro arbítrio é, na verdade, um mistério e não uma resposta. Se tudo é submetido apenas a ele temos que concluir que Deus nunca interfere no mundo. E isso diverge do texto bíblico que demonstra o contrário em diversas passagens.
A obra, em seguida, estuda as diversas formas como o sofrimento humano aparece no contexto dos escritos bíblicos. Basicamente, as escrituras relatam que o sofrimento ocorre simplesmente porque deus quer. Também pode decorrer para expiação os pecados, na forma de sacrifícios, como testes de fé (vide livro de Jó) ou em razão da prática de pecados. Existe, no mais, o sofrimento redentor, aquele ao qual Jesus submeteu-se. O sofrimento, por fim, pode decorrer, como já mencionado, do livre arbítrio dos seres humanos.
Se por um lado, não sabemos ao certo, a quem atribuir as causas do sofrimento e privações do ser humano, o inverso também é verdadeiro: Deus não enriquece ninguém materialmente. Ser rico, ou pelo menos ter comida em casa, depende de diversos fatores, aleatórios ou não, sendo em grande parte acidentais. Em outras palavra, se eu devo agradecer a Deus por ter condições de me alimentar, o que deve fazer quem passa fome?
Enfim, segundo o autor, o problema da Teodicéia é um problema insolúvel. Deus não interfere no sofrimento humano e o mundo é composto essencialmente de sofrimento. Se ele não faz isso, sendo justo e bom, por que não faz? E se você não acha que o mundo é, essencialmente, sofrimento, saia um momento da bolha que você vive e olhe um pouco ao seu redor. Eis, de forma sucinta, o motivo pelo qual o autor perdeu a sua fé. Fica ai o questionamento, lembrando sempre que a obra é muito mais profunda que esta singela resenha. Procure sempre o livro para uma experiência melhor e mais completa.