O Eu profundo e os outros Eus

O Eu profundo e os outros Eus Fernando Pessoa




Resenhas - O Eu profundo e os outros Eus


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Arsenio Meira 01/08/2013

SEMPRE ELE

Estava lendo dois livros gigantescos: "LUZ ANTIGA", excelente romance do escritor irlandês John Banville (já perto do fim da leitura), e a antologia dos poemas ora resenhada, dele, sempre ele, Fernando Pessoa.

Em novembro do ano passado fez 77 anos que o Poeta português morreu. Ele, quase uma unanimidade, considerado o maior poeta da língua portuguesa(eu até hoje prefiro Drummond. Não adianta... Porém, penso em Pessoa como um ser de outra galáxia. Vai ver que era mesmo.)

E sobre Fernando Pessoa há tanto a dizer.

A grande razão da permanência do Poeta e do renovado interesse que ele desperta em todos os leitores, reside na maneira como enxergou ou desbravou a difícil harmonia entre sentir e pensar.

Esse paralelo entre a sensação com o conceito tem movido milhões de átomos pensantes entre os bambas da filosofia ocidental.

O que em mim sente, está pensando, decretou Pessoa.

Sua Poesia escancarou essas duas formas de conhecimento; experimentando todas as formas de lidar com essa dicotomia, trouxe-nos até mesmo a impossibilidade de lidarmos com ela: Ver é enganar-me,/Pensar um descaminho,/ Não sei.

Pessoa, como dizem, foi mesmo um meteoro que se abateu sobre nossas cabeças.

Ele tinha ascendência judaica. Daí, talvez, ter criado os seus alteregos gregos, os pagãos Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Aliás, dos seus heterônimos, múltiplos e variados, percebe-se, de plano, uma personalidade multifacetada e genial.

O mesmo se pode dizer do seu agudo senso de humor, fielmente retratado no famoso verso o poeta é um fingidor

Em determinado dia, Fernando escreveu Ah, poder ser tu, sendo eu!/Ter a tua alegre inconsciência,/ E a consciência disso! e, assim traduziu o recôndito desejo que vagueia em praias humanas há milênios: no palco da vida, nós almejamos o ser inconsciente, mas sem perder de vista o nó da lucidez.

Mas também pairam seus episódios trágicos, como o suicídio do seu melhor amigo, Mário de Sá-Carneiro (também grande poeta).

Em Paris, pouco depois de escrever ao próprio Pessoa, tranquilizando-o que não mais pretendia se matar, Sá-Carneiro vestiu um smoking e num quarto de um hotel de quinta categoria, deitou na cama com lençóis puídos, mofados e tomou veneno, consumando o ato (o contraste entre a indumentária escolhida por Sá-Carneiro e o cenário de sua morte é bem sintomática.)

Muito o que falar: como por exemplo, a sua inaptidão para os negócios (Fernando Pessoa perdeu tudo o que a avó Dionísia lhe deixara, com a bancarrota da gráfica Íbis).

Nesse período, viveu na penúria. Morava em cima de uma leiteria.

Em vida, como sabemos, publicou um único livro: "Mensagem." Concorreu a um concurso. Pra variar, perdeu para um poeta hoje mundialmente conhecido como anônimo ou ninguém.

Octavio Paz, referindo-se a Pessoa, escreveu com exatidão que nada em sua vida é surpreendente nada, exceto seus poemas.

No entanto, o notável Nobel mexicano não poderia deixar passar em brancas nuvens a angústia que levou Pessoa a escrever sua primeira carta de amor, tão somente aos 32 anos.

Não há como pensar em Fernando Pessoa, sem associá-lo à figura de um homem triste, malgrado o universo repleto de personas poéticas que ele mesmo criou.

Ronald de Carvalho e Cecília Meireles foram os primeiros poetas do modernismo brasileiro a conhecer profundamente a obra do vate lusitano.(Cecília era filha e neta de portugueses, e seu primeiro marido, também luso, foi contemporâneo do poeta.)

Imagino o deslumbramento de Cecília Meireles diante da descoberta do universo de Pessoa. Consta que ela tentou encontrar-se amistosamente com ele em Portugal, mas ele, antecipando o modus operandi "Tim Maia", marcou, deixou tudo certo, como local e hora, e não foi.

Drummond iria ao encontro de Cecília nem que fosse no Saara, e Quintana idem. Vinicius não só iria, mas tenho pra mim que se tivesse ido, casaria com ela até numa mesa de confeitaria

Ela sabia de tudo isso, e jamais deixou-se levar pela conversa deles, mas também permaneceu amiga de todos até o fim.

Todos se reconheciam e se respeitavam como membros do mesmo time e eram fiéis ao que entendiam sobre o ser humano e, sobretudo sabiam da missão literária que lhes fora incumbida.

Fernando António Nogueira Pessoa morreu em Lisboa, de hepatite alcoolica, em 1935, aos 47 anos.

Dele, transcrevo para o Skoob os versos abaixo. Demonstram bem a grandeza e o tormento desse ser humano, desse poeta inigualável, que um dia rogou a Deus:

Senhor, protege-me e ampara-me.

Dá-me que eu me sinta teu.

Senhor, livra-me de mim.
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13marcioricardo 21/12/2023

Pessoa é Pessoa.
Fernando Pessoa é único. Esta obra é uma seleção dos seus melhores trabalhos. Como um dos gigantes da literatura de língua portuguesa e do mundo, ler este génio é indispensável.
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Bruno Oliveira 17/02/2023

O PESSOA É TIPO UMA ESFINGE, SABE?
Este O eu profundo e os outros eus, do célebre português Fernando Pessoa é, podemos dizer, um bom livro para se iniciar neste universo heteronímico (e bem particular, dramático) do poeta. O texto de apresentação da nossa querida Maria Bethânia é um charme à parte da edição. É, por meio dele, que criamos altas expectativas quanto aos poemas do Pessoa logo a seguir: nossa grande cantora transmite bem a sua admiração pelo poeta. Contudo, quando enfim encaramos os seus poemas, é que começa a nossa “briga” com a poética do poeta: Pessoa, o ele mesmo, tem bons poemas, Mar Portuguez, sem dúvidas, é o seu melhor aqui no livro, mas os outros, os que versam sobre a corte portuguesa, por exemplo, não empolgam tanto, não; os poemas do naturalista Alberto Caeiro, um dos outros, são bons, mas não nos impactam, não nos marcam; as odes de Ricardo Reis até nos instigam, mas há poucos poemas dele no livro e os poemas intermináveis do sensacionalista Álvaro de Campos são os mais expressivos, porém, nos maçam até certo ponto... Dito isso, o livro até que dá um apanhado geral da produção do Fernando Pessoa, entretanto, talvez, não “encantará” totalmente os que forem lê-lo: Pessoa nos exige um esforço igualmente heteronímico para o ler.
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Vick.Stocchero 20/04/2024

O falso do Fernando Pessoa
Então, livro muito chato.
Pensei que o livro era de poesias profundas, sentimentos... sei lá, qualquer coisa que refletisse o interior de uma pessoa, mas não é.
O livro é literalmente poesias engrandecendo Portugal (Nada contra Portugal, assim, mas um título desse não tem como não pensar que é sobre sentimentos). De 50 poesias, 50 era sobre a grandeza de Portugal e seu império lindo. Ah, tá bom. Chato, ruim, não gostei. Primeiro livro de poesia que eu não gosto.
E sim, Paulo Leminsk tava certo, Fernando Pessoa é chato.
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Nalia 09/06/2020

Carinho em forma de poesia
Na obra, Fernando Pessoa introduz diversos de seus poemas sobre variados assuntos, sem grandes pretenções de um desfecho final ao conjunto de todos os textos, facilitando a leitura e fazendo com que o leitor se sinta instigado e tenha uma catarse atrás da outra, a cada linha escrita.
Particularmente, já não considerava mais ler poesia, pois acreditava que não faziam parte do meu universo, e que não possuía a sensibilidade para tal leitura. Após ler esse livro, me sinto renovada, e totalmente redescoberta no mundo da leitura, aonde vou explorar com grande intensidade, todos os poemas que eu puder ler.
Esse livro é fantástico, Fernando Pessoa é um gênio, e eu garanto, que qualquer um ao ler, vai se transformar.
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Rangel 01/02/2019

Seleção Poética Profunda de Pessoa
O livro "O eu profundo e os outros Eus" de Fernando Pessoa é uma seleção poética que menciona inicialmente "navegar é preciso, viver não é preciso", mostrando que viver não seja necessidade, mas criar, sim. Ele quer deixar a humanidade a expressão da sua criatividade do que a própria vida. Ele faz da poesia algo intrínseco na sua vida. Na primeira parte da obra, ele fala de si mesmo, do brasão, dos campos, castelos, quinas, de Ulysses, de Viriato, de Conde Dom Henrique, de Afonso Henriques, de Dom Diniz, de Dom João I, de Philipa, de Dom Duarte Rei de Portugal, de Dom Fernando, o infante, de Dom Sebastião, de Dom Pedro, De Dom João Infante, da Coroa e do timbre. Na segunda parte, retoma sobre o infante, o horizonte, o padrão, o monstrengo, o epitáfio, os colombos, o Ocidente, Fernando Magalhães, Vasco da Gama, Mar Portuguez, última nau e prece. Na terceira parte, menciona sobre os símbolos, os avisos, os tempos de todo o encoberto. Aborda posteriormente sobre o V Império e depois sobre o cancioneiro (impressões do crepúsculo, hora absurda, Além-Deus, a queda, o braço sem corpo, plenilúneo, saudade dada, Pierrot bêbado, minuete invisível, hemal, autopsicografia e o Isto. Depois, Fernando Pessoa poetiza sobre o outro, ou seja, o outro dele mesmo, com ficções do interlúdio, poemas de Alberto Caieiro, odes de Ricardo Reis, poesias de Alvaro de Campos, com odes, saudações, soneto e outras poesias. Considero a melhor obra de poesias da língua portuguesa. Um verdadeiro êxtase para ler!!!
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Brenda675 30/09/2010

T É D I O !

Isso que achei '-'
Bruno Oliveira 30/01/2023minha estante
Eh, acontece... Até o tédio vira prédio e desmorona quando lemos algo que nos ouça. :)




capitu 07/04/2023

"Eu sonho e por detrás da minha atenção sonho comigo alguém..."


Achei um pouco diferente, mas interessante.
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DayanePrincipessa 01/02/2024

O Suicídio da Alma
Ler Fernando Pessoa depois de tantos anos (parece-me séculos) foi até meio estranho. Gostava bastante de ler poesias quando era adolescente e me recordo de sempre compreender os livros, mas atualmente sempre quando leio parece que é tudo loucura, não consigo entender nada (o que aconteceu comigo? rs).
Do pouco que pude compreender da obra (ou penso ter compreendido) gostaria de falar da questão da idealização.
Parece que os personagens estavam todos extremamente depressivos por não terem vivido a vida que imaginavam, idealizavam. Então os dias presentes eram só martírio e dor, não conseguiam ver a beleza de nada, a vida passava diantes dos seus olhos, mas eles não viam nem sentiam, como se estivessem mortos.
Penso que a idealização é uma forma de suicídio da alma, onde tudo que é você morre, só fica o corpo vagando pela terra, pois as pessoas que idealizam a vida deixam de vivê-la. A idealização pode ser de dois tipos: recordações e sonho.
A idealização do estilo “recordações” é quando a pessoa cria uma loucura na cabeça a partir de uma memória que ela tem. Por exemplo, a pessoa teve um relacionamento amoroso que acabou por algum motivo e na época que a pessoa vivia esta relação, era algo monótono, pode ser que nem se conectava tão bem a tal pessoa etc., que não tinha a certeza se amava mesmo, se era a pessoa certa, que não havia respeito, nem consideração, mas depois que tudo acabou, selecionou essa memória para ser sua idealização.
Por meio dessa memória a pessoa cria uma ilusão absurda de que todos os momentos que teve junto do tal ser amado eram perfeitos, únicos, esplêndidos, que o mundo girava ao redor, que flores de sakura caíam do céu, que o som das vozes era pura melodia, etc. Mas na realidade nada foi assim, a pessoa se ilude, e a partir dessa ilusão ela começa a odiar o presente, desejar morrer, ficar obcecada pelo tal ser amado, mas caso tenha a oportunidade de uma segunda chance com a pessoa verá toda a ilusão desmoronar e terminará o relacionamento em menos de um mês.
O segundo tipo de idealização é do estilo “sonho”. Essa é mais absurda ainda, é aquela onde a pessoa cria uma ilusão a partir do nada, da pura imaginação mesmo. Vou dar um exemplo bem esdrúxulo, digamos que alguém idealize que é casado com Angelina Julie. A partir disso a pessoa escreve uma novela na mente, deixa de viver o presente porque acredita que a vida ideal seria ser casado com a Angelina. Normalmente as pessoas não idealizam com alguém tão inacessível assim, obviamente, o mais comum é que seja alguém conhecido, como um colega de classe da infância, alguém do trabalho, faculdade, etc com quem nunca teve absolutamente nada.
Dei exemplos de idealizações de relacionamentos românticos porque é o que normalmente as pessoas mais idealizam.
Voltando a minha ideia central, os personagens odiavam a si mesmos, odiavam suas vidas, devido a essas idealizações, e como eu disse, é uma espécie de suicídio da alma, você rejeita viver a vida real.
Diante disso, acredito que o desafio de cada ser humano, que almeja viver de verdade, é lutar com todas as forças para abrir os olhos e conseguir enxergar o que é real e o que não é. O que é real e o que é idealização.
Penso que temos que aceitar a vida como um presente, não buscar escolher como se tivesse um catálogo na mão.
Talvez eu tenha devaneado mais do que o autor kkkkkkk.

E assim finalizamos janeiro, bem filósofos e nada poéticos kkkkkkk

Lido em 30/01/2024


Camila Heiderick 04/02/2024minha estante
???????


Camila Heiderick 04/02/2024minha estante
???????




Wesley Taciturn 29/12/2010

Da Lit. portuguesa à heterônimia a conceitos interdisciplinares...
A literatura Portuguesa do início do século vinte teve um grande embate com o surgimento de um grupo que tinha propostas inovadoras, contrárias ao que até então havia sendo feito em relação às artes na “Renascença Portuguesa” e nas vertentes da “Águia” e do “Saudosismo”. Tal grupo, empolgado pelo contexto ao qual estava inserido (a proclamação da república em Portugal no ano de 1910, o “Vanguardismo artístico” que estava muito vivo em toda a Europa, a instabilidade político-social e a emergência das forças cosmopolitas progressistas, inquietações da Primeira Guerra Mundial), propunham algo que fosse além do Decadentismo, Simbolismo e todas a manifestações da época. Buscavam algo inovador, atual, que tivesse a cara do momento em que eles estavam vivendo; buscavam algo “Moderno” tanto no ideal ideológico como no ideal estético, e por essa razão fundaram em 1915 a revista Orpheu, onde temos como inauguradores ninguém mais ninguém menos que Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. A revista serviu de núcleo para todo o movimento chamado de orphismo e tem em suas características várias semelhanças com ideais vanguardistas: A poesia em versos livres, a idéia de velocidade, de “apagamento” do sujeito, o “hermetismo”, a mescla do material com o metafísico, do consciente com o inconsciente, do sonho com a razão, etc.

Em contraposição à Revista Orpheu, surgiu, em 1927, a revista “Presença”, dirigida por Régio e com ideais bem mais subjetivos. Se Orpheu com seus dois grandes poetas buscavam introduzir na arte o que havia de mais modernos em relação ao mundo e a vida, tendo, por isso mesmo, em seu ideário ideológico influências de filósofos e pensadores da época tais quais Schopenhauer, Nietszche, Freud e Jung, a Presença busca uma “contra-revolução modernista” por propor um retorno às características românticas de individualismo narcisista. Por isso Teresa Cristina Cerdeira em seu artigo intitulado Fernando Pessoa: A aventura suicida na modernidade usa muito bem a metáfora do espelho de Alice e o espelho de Narciso. Enquanto Orpheu foi o espelho fantástico no qual os escritores buscavam mergulhar e perderem-se conscientemente dessa perda dentro dele, Presença foi o espelho narcisista onde a vaidade de seus integrantes não acrescentaram muita coisa nova e que, no final das contas, acabou por “apagá-los” sem que deixassem muitos traços valorosos que pudessem perpassar os tempos seja pela originalidade, ou pela atitude revolucionária.
Toda a ciência oriunda do humanismo, da crença em Deus, da subjetividade da arte e da tão mesquinha burguesia, tudo tão fortemente em voga na época, caíram por terra com o teocida Nietzsche e todos os outros pensadores de cunho existencialista e/ou niilista. Isso teve reflexo no pensamento artístico da época e no individuo como ser cada vez mais a parte de seu vínculo consigo mesmo, cada vez mais sendo um “não-ser”, sendo nulo e perdido em meio à dissolução causada pelo caos e, muita vez, falta de esperança e fé do mundo moderno. Em outros países europeus esse sentimento já havia sido manifestado através das vanguardas e seus movimentos revolucionários Em Portugal tal espírito surgiu principalmente graças às inovações da revista Orpheu e das manifestações heteronímicas de Fernando Pessoa.
A dualidade da personalidade individual sempre foi muito bem expressa por vias literárias. É o que vemos desde o clássico “Dr. Jekyl & Mr. Hide” até os contos de Edgar Allan Poe, e tantos outros escritores antigos e até mesmo atuais. A fragmentação do sujeito se faz necessária em meio a um “grande deserto de almas desertas”, e a “persona” tende a ter diversas faces; várias são as mascaras que usamos corriqueiramente em nosso dia a dia, e a psicologia/psicanálise confirma tal situação múltipla do individuo, como claramente vemos na idéia dos arquétipos do inconsciente coletivo, sugerido por Jung sob o aparato dos estudos freudianos sobre o inconsciente, as repressões, e as manifestações dos desejos e impulsos instintivos e característicos de todos os seres humanos. Segundo Jung, todos temos características primitivas que nos acompanham desde a gestação à maturidade; nascemos já com impulsos (arquétipos) que nos impulsionam ao sentimento de grandeza (arquétipo de herói), ao sentimento de melancolia (arquétipo da morte) e alguns outros mais. No meio conturbado moderno o homem sábio se vê inevitavelmente preso à necessidade de “ser plural como o universo”, para talvez assim aceitar e confrontar com certa naturalidade as exigências do fardo pesado que a sabedoria impõe, pois, como diria Byron no séc. XVIII, “a arvore da sabedoria não é a mesma da felicidade”. Assim sendo, Pessoa desde muito jovem cria suas múltiplas faces, a começar pelo Chevalier de Pás, aos seis anos, passando por Alexander Search (uma espécie de arquétipo de procura) até chegar aos heterônimos mais famosos, dos quais estudaremos poemas de Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Vale ressaltar que Fernando Pessoa se multiplicou mas nunca se afastou de si próprio e, como bom místico que era, chegava a uma espécie de “alquimia psicológica do eu” ao se encontrar exatamente na espiritualização multifacetada de sua arte. Como muito bem diria Nietzsche, “temos a arte para que não morramos com a realidade”, e Pessoa não se deixou morrer (tanto artística quanto fisicamente) através do amparo heteronímico espiritual e do uso do álcool; o mesmo não aconteceu com o outro fundador da Orpheu, Mário de Sá-Carneiro, que acabou por aniquilar-se (isso pode ser notado em seus poemas) pela impossibilidade que tinha de se fragmentar, “quebrar-se como um vaso” e tornar cada caco como elemento essencial para a constituição do total. Mário suicidou-se em sua “loucura”; Pessoa soube misticamente sobreviver a ela, porém ambos, pelo viés horaciano de vida, continuam a viver latejantes e intimidadores a ‘pertubar” a razão dos que pensam ser algo mais que um pedaço de ‘nada” preso a um imenso “nada”.

Álvaro de Campos

O heteronimo Alvaro de Campos é um de seus mais famosos por abordar temas diversos em seus poemas, carregando características do Simbolismo/Decadentismo, influências de Vanguardas, principalmente a vanguarda futurista de Marinetti quando exalta a modernidade, violência e velocidade, além de ser, algumas vezes, sensacionalista por querer "sentir tudo de todas as maneiras", ultrapassar a fragmentaridade numa "histeria de sensações". Em "vida" o heterônimo foi educado vulgarmente no Liceu e depois partiu para a Germânia afim de estudar Engenharia com enfoque em enfermaria, a principio, e depois Naval. A. de Campos foi admirador e recebeu assumidamente influências do escritor inglês Walt Whitman, talvez pelo fato dele, o heterônimo, ter tido educação inglesa e o forte sentimento de ser estrangeiro onde quer que esteja. Um de seus poemas mais célebres, "O Opiário", foi escrito enquanto esteve em férias no oriente.
No poema que analisaremos "Tabacaria", tentaremos encontrar algumas das peculiaridades desse heterônimo e contextualizar com a ciência e filosofia da época. Começando pela primeira estrofe, notamos explicitamente a força da sensação de ser "nada" tendo em sí "todos os sonhos do mundo", o que nos sugere que a questão quimérica da vida é a única coisa que faz com que não nos percamos em meio ao absoluto nada, não nos percamos parcialmente pois sonhos são manifestações subjetivas e, mesmo que fossem coletivas como os impulsos primitivos que todos os homens têm em comum, não representariam muita coisa, visto que na singularidade o individuo moderno é ignorado por haver tantos "singulares" tais quais ele ("Janelas do meu quarto,/
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é/
(E se soubessem quem é, o que saberiam?)"), e a sensação de nulidade, de solidão, se faz presente exatamente por causa da pluralidade exaustiva das massas. Aqui fica clara a questão de "mimetização" que o heterônimo faz, tentando através de seus versos demonstrar a sensação moderna de impotência perante a vontade de "ser" em meio a tantos outros que "são" exatamente como o individuo que acaba sendo diluído em meio ao caos.
A linguagem do poeta é repleta de traços marcadamente emocionais, porém sempre em embate com a frialdade do espaço real, lúcido e frio:

" Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida"

Não ter mais "irmandade" com as coisas a partir da morte. A casa, as carruagens, a rua, são elementos que marcam e traçam a subjetividade do sujeito e, em sentido mais amplo, o Estado, o meio em que a pessoa vive, marca a intersubjetividade. Ou seja, o espaço que vai sendo traçado no decorrer do poema expressa muito bem o choque de Álvaro de Campos com o universo, o choque do individuo, ser ínfimo e mortal, perante "a verdade" que o poeta diz ser possível apenas quando se está lúcido "como se estivesse para morrer". A verdade seria de que a subjetividade ou intersubjetividade, a "irmandade" do sujeito com as coisas e o meio, é coisa vã ou mesmo quimera. A anulação do sujeito se faz necessária para que ele saiba a verdade, ou o inverso: a anulação da verdade é crucial para que aja afirmação do sujeito, como vemos na seguinte passagem da próxima estrofe: o que reafirmamos na seguinte passagem da próxima estrofe: "À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,/E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro."; . Daí a "viagem" que é tema comum em outros poemas do heterônimo (por exemplo, "Grandes são os desertos", onde vemos objetos urbanos e a velocidade da cidade em forte contraposição ao sujeito). O individuo precisa "viajar" para encontrar a verdade; é preciso estar além da vida para se ter vida de verdade ("(...)é preciso ter vida e já não vale a pena haver vida [Grandes são os desertos];" "Navegar é preciso/Viver não é preciso [Mensagem]") como semelhantemente notamos no homônimo de Pessoa: ambos tratam da temática de transposição da vida para algo mais valoroso, A. de Campos é traçadamente mais melancólico e niilista em relação a isso.

A realidade é múltipla e o sujeito é apenas um. O heterônimo não quer abrir mão de ser sujeito e , por isso, se vê num beco sem saída por não encontrar uma realidade convincente. O que lhe resta? "Ter todos os sonhos do mundo". A ânsia em sentir de todas as maneiras é o que o difere dos outros heterônimos de Fernando Pessoa. E é nessa ânsia que o poeta desmistifica atitudes apolíneas e vangloria os excessos de Dionísio: "Fui até ao campo com grandes propósitos./
Mas lá encontrei só ervas e árvores,(...)" [ quinta estrofe]

"Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto." [estrofe 13]
A princípio ele tem "grandes propósitos", mas se frustra com a realidade externa fria e sem grande valorização. Depois, mais ao final do poema, ele encontra gozo no prazer do fumo e se liberta das angústias metafísicas e não sente mais vontade de canalizar sua insatisfação em versos. É o conformismo a única saída para o homem perdido que sabe e sente que ser fragmento ou tudo é o mesmo que ser nada.

O ritmo da poesia muda conforme a introspecção do poeta muda de enfoque:
“(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)”
A nostalgia, também constante em poemas de Álvaro de Campos, muda um pouco a intensidade dos verso; muda apenas momentaneamente, pois o eu - lírico como observador de uma garota comendo chocolates percebe que na inocência de um prazer estaria a superação dos males, assim como ele faz na estrofe 13 ao fumar um cigarro, e tem uma intensidade mais amena a principio,porém logo ele a trata como "suja" pela mesma inocência, o que nos remete à agressividade surrealista, e, novamente, há o choque entre sensações de vontade de se anular para "degustar" a vida em contraposição com o "degustar-se" masoquistamente para anular a vida, pois ele não é mais criança e já não crê, apesar de se interessar também por ela, na "metafísica do chocolate".

Não fazendo parte de nenhuma crença a qual esteja realmente convencido, o poeta sente-se cada vez mais estrangeiro: não foi na verdade que encontrou alento; falhou também ao tentar retroceder à infância; no deleite assume haver conforto; mas ciente está de que é conforto ilusório apesar de tudo; também não é diferente em relação ao ambiente físico em que está inserido:
"Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo."
(estrofe 8)
Tudo existe e é repleto de movimento, porém tudo está fora do poeta, numa realidade a qual ele sente-se como que não fazendo parte. Dinamicamente fazendo parte de tudo, faz parte de nada. Tal sentimento é frequente em cidades fortemente urbanizadas com problemas de superpopulação. A existência singular se dilui, os espaços se diluem e a permanência em determinado lugar é cada vez menor e, por isso, não há terra em que o ser pode-se dizer fazer parte; não há meio social em que sinta-se absolutamente confortável e tudo acaba realmente aparentando ser estrangeiro.

Sendo estranho a tudo o que o cerca, na consciência de saber-se desvalorizado pelos "entes vivos que se cruzam", Álvaro de Campos depara-se com a inutilidade de tudo quanto faz:
"Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada."
(estrofe 11)
Pouco antes desses versos lemos que "Vivi, estudei, amei e até cri,/E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.". Sabendo inútil em suas obras, o sujeito encontra-se tão inútil quanto elas, porém, pior, "calcando aos pés a consciência de estar existindo" e, assim sendo, desejando ser tal qual um mendigo em sua pobreza e parca educação que, por menos que possa ser, ao menos não tem o problema da angústia do saber-se como ser existente impotente perante o universo.

Para concluir, vejamos nos seguintes versos como se dá o desfeche quando o eu - lírico, observador, abre mão de suas divagações e entrega-se ao meio, gesticulando para um amigo e falando com o dono da tabacaria, mas antes se atendo ao ideal pessimista de finitude schopenhauriano:
"Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos."
(estrofe 12)
Tudo morrerá inevitavelmente e, sendo útil ou inútil, crente ou descrente o nada é certo e não há como remediar. Contrariamente a Ricardo Reis, Álvaro de Campos não crê que suas obras o farão eterno; antes crê que a tabuleta da tabacaria perecerá assim como os versos e, mais além, até a língua. O sensacionalismo nesses versos é bastante forte e o exagero do poeta poderia prosseguir dizendo que além da língua morrerão as nações, os continentes, os universos... Mas o bom senso de pensador que há no heterônimo não o permitiu tão grande exacerbação. Após acender o cigarro e acalmar os pensamentos, o poeta decide movimentar-se para, assim, fechar suas divagações sem chegar a nenhuma conclusão diferente da qual ele já conhecia:

"Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando."
(estrofe 14)

"(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.'
(estrofe 15)

"O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu."
(estrofe 16)

No encontro com a futilidade externa, sem metafísica, Álvaro de Campos interage mas não abandona seu lado profundo, metafísico ao dizer que "como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me". Interessante o nome do amigo do poeta que sugere-nos a posição passada do verbo estar. Esteves estava a acenar-lhe até o momento que o eu - lírico grita "Adeus". "Sem ideal nem esperança" é o modo que o poeta estava desde principiar as observações do outro lado da rua da tabacaria; e é o modo como termina. Não tão atormentado, graças à volúpia do prazer que encontrou no cigarro. Graças às possibilidades dionisíacas que a vida, boa ou má, tem para lhe oferecer.

- Wesley L. Santos -
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Pandora 10/07/2012

Palavras de Pórtico
Seguindo nossa fofa Wikipédia:

"... pórtico é o local coberto à entrada de um edifício, de um templo ou de um palácio"

Palavras de Pórtico é uma nota solta de Fernando Pessoa, escolhida para iniciar o conjunto de obras dele reunidos por Maria Aliete Galhoz em"O Eu profundo e os outros Eus", que em 1980 já estava em sua 9ª reedição, e justamente um dos volumes dessa reedição que está comigo desde 2002.

Vez ou outra eu topo com algum trecho dessa nota de Pessoa aqui e acula e esse encontro sempre me lembra meus dias de adolescente agarrada com esse livro para cima e para baixo, para um lado e para o outro. #BoaLembrança

Já faz uma década desde a minha primeira leitura desse livro e dessas palavras de pórtico... Me pergunto como parece ter passado tanto tempo e tempo nenhum ao mesmo tempo...

As vezes parece que os 25 anos são outra adolescencia, você é novamente velha demais para muitas coisas e jovem demais para tantas outras, está no caminho do meio, nem é a jovem de 20 anos entrando no mundo dos adultos, no início do curso universitário... querendo abraçar a vida com as pernas, trabalha-estuda-trabalha-namora-igreja, nem é a pessoa madura dos 30, que reza a lenda contada por minhas amigas balzaquianas, já sabe o que é e o que não é, o que quer e o que não quer e pode fazer o que quer \o/

A parte isso, em minha nova adolescencia observo as marcas que a velha deixou nesse livro, engraçado como os nossos livros mais antigos e queridos vão juntando dentro de si nossas histórias. Essa edição carrega uma história, não só a dos escritos do Pessoa, mas a minha vida com os escritos do Pessoa, as notas, os rabiscos, alguns marca páginas diferentes, verdadeiros moradores desse livro.

O senhor Koenma de Yu Yu Hakusho, foi feito por um amigo querido, acho que foi da época anterior ao vestibular; o desenho de uma menina fofinha também mora no livro, não lembro dela nem de que anime saiu, mas lembro do amigo que a desenhou!

A flor azul que deve ter saído de alguma decoração da Escola Dominical e marca o Pastor Amoroso e algumas de minhas passagens favoritas:

"O amor é uma companhia"

"Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela
Não sei bem o que penso, mesmo dela, e eu não penso senão nela."

"Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava com sensação nenhuma: acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações,
Não sei o que hei de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo."

Tem a marcação de Rafaela, sobre a qual eu nada sei... E até mesmo a marcação de um amigo querido a quem emprestei o livro, possivelmente outras marcações se juntarão a essas, possivelmente outros marcadores/moradores se juntem a esses, espero por eles, que venham se tiverem que vim, que cheguem em tempo, que esse livro seja repleto de histórias, as mais lindas e variadas enquanto eu e os meus nos encontramos e reencontramos com Fernando Pessoa e seus muitos Eus em nossas sucessivas adolescencias... Quanto tempo mais durará esta???

Ah, deixo aqui essa nota solta dele na integra, mesmo não trazendo ela na integra para os pórticos da minha vida, deixo ela inteira porque as pessoas costumam frisar pequenas partes do que em si já é uma pequena parte de algo que a gente nem sabe o que é nem tem como saber ao certo... Essa coisa de citar de pedacinho nem sempre é algo muito justo com a pessoa do Fernando...

Palavras de Pórtico

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso."
Quero para mim o espirito [d]esta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário: o que é necessário é criar.
Não canto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torna-la grande, ainda que para isso tenha que ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torna-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o proposito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Disponível também em: http://elfpandora.blogspot.com.br/2012/01/palavras-de-portico.html
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LiZ 05/07/2018

Apanhado
Excelente apanhado Pessoano. Um dos meus livros de cabeceira...
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Wagner 20/01/2019

MAR PORTUGUEZ

(...) ó MAR SALGADO, quanto do teu sal
São lágrima de Portugal (...)

in PESSOA, Fernando. O Eu profundo e os Outros Eus. São Paulo: Nova Fronteira, 1993. pg 57.
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Gabriel 17/10/2021

Ótima porta de entrada
Foi a primeira vez que conseguiu ter um bom panorama da poesia do Pessoa. Se o subjetivismo antes me parecia piegas, agora pude compreender como ele se articula em um projeto mais amplo e denso. Acho que este é o lugar certo para começar a entrar no seu universo.
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