Neylane Naually 18/03/2022O sonho da vida da felicidade naturalVirginia Woolf sempre me surpreende, e aqui não foi diferente. Essa coletânea reúne ensaios da autora, que abordam principalmente a relação entre o patriarcado e o militarismo, além do papel mínimo da mulher na sociedade do século XX e o grande desejo da autora de acreditar numa sociedade onde a diferença entre os sexos e a misoginia estejam extintos, sociedade essa que ela chama de "a vida da felicidade natural."
"A sociedade é muito menos satisfatória para nós, mulheres, que temos partilhado, em comparação com vocês, de pouquíssimos de seus bens, de muitíssimos de seus males."
O ensaio principal da coletânea (título) é uma versão resumida do livro Três Guinéus, onde uma mulher escreve uma carta em resposta a um pedido feito por um homem, que pergunta o que as mulheres podem fazer para ajudar a acabar com a guerra (contexto: segunda guerra mundial). A partir desse ponto, a moça traça toda uma perspectiva de como esses conflitos são, em sua essência, masculinos, e que mulher alguma se vê numa posição de patriotismo o suficiente para matar ou morrer em nome de seu país (na realidade Inglesa ao menos) ou de apoiar ver seus filhos e maridos irem para a luta.
"Seja como for, um fato é indiscutível – raramente, no curso da história, um ser humano foi abatido pelo rifle de uma mulher; os pássaros e os animais foram e são, em sua grande maioria, mortos por vocês, não por nós."
A autora mostra, nessa carta fictícia, que a guerra é uma profissão para os homens, "fonte de felicidade e grandes emoções", eles voltam como veteranos e morrem como heróis. Nem todos são a favor da guerra, mas esses acabam sendo exceções.
Além desse ensaio, temos alguns outros que deixam a leitura ainda mais interessante. Virginia passou a vida inteira tendo que ver as guerras na Europa e os horrores dela eram parte de sua rotina. Ela era pacifista e crítica do militarismo e ela acreditava que somente a abolição do sistema patriarcal poderia garantir uma mudança real na sociedade e então tornar possível um mundo sem conflitos armados.
"Devemos criar felicidade."