Márcia 01/10/2023
Malala e outras histórias de refugiadas - o horror.
Ser expulso do seu próprio país; ser forasteiro; ser privado da sensação de pertencimento. Malala Yousafzai já escreveu sua história em outra obra e nessa empresta o espaço para que outras refugiadas contem as suas. E elas doem, dilaceram a alma de quem lê (ou deveriam). Confesso que senti um misto de sensações ao conhecer os detalhes delas: muita revolta (raiva mesmo) por aquelas pessoas terem sido obrigadas a enfrentar o horror por causa da violência e de governos opressores; e, ao mesmo tempo, me senti grata pela vida que tenho. Também me lembrei de que nosso belo país quase cruzou a linha rumo a um fundamentalismo religioso que por pouco não nos destruiu. E o perigo continua à espreita.
Resolvi resumir aqui uma dessas história, a de Marie Claire, refugiada do Congo, que, com sangue, suor e muitas lágrimas consegue chegar a Lancaster, Pensilvânia. Malala conheceu Marie em um evento na cidade.
Ainda criança (4 anos), a família de Marie Claire foge da guerra do Congo para a Zâmbia, país também hostil, com a ajuda de pastores e padres. Porém, refugiados não eram bem-recebidos ali. Foram parar em uma tenda plástica em um campo de refugiados. Apenas depois a família passa para uma casa simples com um único quarto para sete pessoas. Escola? Começa a frequentar uma apenas com onze anos. Além de ser maior que os colegas, não falava a língua local e permanece dois anos no terceiro ano. Um dia, sua mãe soube que a família poderia conseguir vistos de refugiados por meio da ONU. Só que a espera poderia levar anos. Mas o pior ainda estava por vir. Um grupo de justiceiros, munidos com facas e facões, cerca a residência da família. A mãe é a primeira a ser atacada, levada para fora da casa, nua, e esfaqueada na cabeça na frente dos filhos. O pai sobrevive, mas leva meses para se recuperar. Quando Marie faz 17 anos, a ONU entra em contato e pouco tempo depois a família chega na Pensilvânia. Jennifer, americana que fazia trabalho voluntário, assessora a família. Marie Claire consegue se formar e a voz da mãe sempre ecoou em sua mente: ?Marie Claire, com uma boa educação, você pode fazer o que quiser?. Uma sinopse tão rasa não consegue captar as nuanças de tais histórias.