Roberta 25/08/2020
Esse é um livro de contos do qual não é muito fácil falar. Tampouco é objetivo de compreender. Os contos me parecem mais prosas poéticas que às vezes enveredam-se para o fluxo de pensamento, ou o mundo dos sonhos. Alguns contos são divertidos, como é o caso em "Nosso gato vai para o céu", no qual Deus é (ou apresenta-se como) um gato (e tá certo. Gatos são deuses, afinal). Outros são confusos, difíceis de entender ou captar alguma ideia, talvez por falta de referência.
Mas a maior impressão que tenho é que, em grande parte, a compreensão depende muito mais da interpretação do leitor do que da intenção da autora. Na orelha do livro está escrito que no conto "Voz" Margaret Atwood fala da sua própria voz literária, ao passo que eu, quando li sem essa referência, imaginei o tempo todo uma personagem cantora e famosa, cuja voz se perde com o tempo e, com ela, sua essência.
Diversos contos do livro me despertaram sentimentos de acordo com as minhas referências de mundo. "Rei Tora no Exílio" é, para mim, o retrato perfeito do Brasil na linha do tempo desde meados 2016 até hoje.
"Casa da Tradição" nada mais é do que tudo aquilo a que nos apegamos, de tralhas, sentimentos, tradições que já não servem mais para nada e recusamo-nos a jogar fora.
Dentre tantas outras interpretações e divagações, é possível ir do totalmente nonsense ao profundamente reflexivo nesta leitura.