renata pamplona 03/03/2020Resenha - Em silêncioEntão... Eu terminei o livro há alguns dias e não sei exatamente como começar esse post, então vou respeitar o guideline da parceria e vou postar minha opinião sincera do livro.
Admito que estava muito curiosa quando a Cherish anunciou porque ele tem boas notas no goodreads e já era apaixonada pela capa gringa, aí eu li o livro e tenho que falar que foi uma decepção. É nisso que dá ir com as expectativas lá em cima.
Bem, vamos seguir os caminhos de Killian e Rylee desde a infância. Ela é uma menina curiosa de 10 anos, que vê seu vizinho pulando a cerca para a floresta atrás de suas casas. Ao encontrá-lo sentado e sozinho no escuro, ela logo se dá conta que o jovem não fala e só se comunica escrevendo em um caderno que sempre carrega. Rylee se torna a única amiga de Killian, que mora com sua jovem tia após o assassinato de seus pais há anos atrás.
Os encontros dos dois se dão na floresta e no quarto da Rylee, à noite, escondidos dos pais da menina. Bem importante ressaltar que a jornada dos dois se dá por 12 anos e eles se conhecem quando a Rylee tem 10 anos e o Killian, 11. Em algum momento, Killian confia o suficiente em Rylee e ela é a única que ele consegue se comunicar por anos e anos.
A razão pela qual ele não fala tem relação com o assassinato brutal de seus pais e seu silêncio segue pela maior parte do livro. Ele não encontra confiança em si e sua voz.
Os dois crescem juntos, e passando pela puberdade, vemos eles descobrindo seus corpos e sexualidade, mas chega um momento que Killian, já com 18, não aguenta mais e decide ir embora da casa da tia e abandona Rylee, então com 17 anos, na cidadezinha.
Corta para cinco anos depois...Rylee está vivendo em outra cidade, trabalhando com assistência social (devido ao seu convívio com Killian), graduada e namorando Josh. Josh... Bem, ele é um babaca. Convencido, mal deixa Rylee se expressar, se achando dono dela. Você, leitora, percebe que ali não tem coisa boa e após ler o primeiro encontro dos dois, você percebe o porquê. Rylee fala várias vezes após o primeiro encontro encontro com Josh que ele nunca bateu nela, mas aí é que está: a autora obviamente liga abuso somente à violência física e a realidade não é essa, mas guarda essa informação.
A gente não sabe muito bem o que está acontecendo, mas em uma virada do destino, Josh é um lutador de luta-livre (mas ilegal) e Killian aparece como seu oponente. Killian cinco anos depois é o bonitão que você vê na capa lá embaixo: Puro músculo, kit instalado (barba grande e cabelão), mistério e tatuagens.
Rylee vira um iôiô na mão dos dois: entre o menino (nem tão menino) com quem cresceu e sua atração por ele e Josh, que não lembra o seu primeiro amor, mas parece estável (ênfase no PARECE). E fica nesse triozinho até um plot-twist que você fica pensando "da onde diabos isso veio?". Infelizmente o que vem daqui pra frente eu não posso contar. A autora tentou dar um final feliz, mas já estava estragada a minha experiência como leitora porque...
Todos meus contras:
Primeiro problema com o livro: Quando se tem um livro com pontos de vista de crianças, se espera uma escrita diferente de adultos, menos eloquente, mais inocente e curiosa. Me senti extremamente incomodada em alguns PDVs dos personagens enquanto crianças sendo sexualizadas demais.
Segundo problema é que Killian só se comunica com Rylee em voz e com a tia e demais adultos, somente escrevendo em seu caderno, então como ele aprende mais sobre puberdade e sexualidade? Internet e pornografia. A fusão desses dois é fatal e nada saudável para ninguém nesse mundo aprender sobre sexualidade, então daí começou a pulguinha na minha orelha que a coisa não ia acabar muito bem e eu estava certa. O livro PRECISAVA de um gatilho de Abuso Sexual, mas eu sinceramente não sei se a autora ou suas leitoras sequer sabem que escreveu / leram uma cena com tal conteúdo. Então fica aqui o meu ANUNCIO DE UTILIDADE PÚBLICA: NÃO É NÃO. TUDO depois do NÃO é abuso.
Se seu parceiro lhe força com chantagem emocional à fazer coisas que você não quer, também é abuso.
Se ele tenta controlar por onde você anda, com quem você fala e se relaciona, também é abuso.
Se, aos beijos, você percebe que não quer prosseguir e diz NÃO em algum momento, NÃO é para prosseguir e pronto. Seu parceiro (a) deve respeitar sua decisão. Não é porque seu corpo responde à estímulos sexuais que ele está dizendo sim.
Se você diz NÃO, mesmo depois de estar despida na frente do parceiro, e mudou de ideia sobre transar, você deve e pode dizer NÃO.
Terceiro problema é a não-evolução dos personagens: Parece que os atos de Rylee e Killian mudaram: da infância e conversas, para a juventude e descoberta sexual e como adultos que podiam colocar em cenas de sexo. É isso. Vazio. Sem conexão. O que é uma pena... Porque eu pensei que ia ler uma evolução deles e me conectar mais assim como rolou em outro livro já resenhado aqui no Pausa sobre um casal e sua jornada de anos e anos.
Quarto: A completa irresponsabilidade psicológica com seus personagens. Os pais da Rylee são problemáticos, fica uma insinuação de abuso emocional, e isso é deixado de lado como se fosse a coisa mais normal do mundo. Aí entra também a relação de Killian e sua tia, ela como adulta, tinha toda responsabilidade de colocar o sobrinho, obviamente traumatizado por ter testemunhado o assassinato dos pais, em um terapeuta e acompanhamento psicológico e isso é deixado de lado. Ficou meio "deixa que isso sara sozinho".
Quinto: O livro é quase picotado. Há fatos que são jogados de uma maneira lá no começo e depois mudam, como se a autora completamente descartasse o fato prévio. Há problemas de continuidade entre cenas. Aff...
No fim, eu só queria terminar de ler para fazer a resenha e não pelo prazer de ler. A sinopse me deixou na vontade e o livro, na mão.
Adendo, as citações acima são ótimas, mas sem contexto mesmo.
Se alguém discorda, vamos por parte em tudo que eu pontuei acima. e se acha que eu problematizei demais, eu adoraria conversar com você.
site:
http://www.pausaparaumcapitulo.com/2019/03/resenha-em-silencio-de-leddy-harper.html