Os anéis de Saturno

Os anéis de Saturno W. G. Sebald
W. G. Sebald
W. G. Sebald




Resenhas - Os Anéis de Saturno


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Icaro 22/07/2022

A marca da degradação sobre tudo aquilo que já foi belo
O fluxo ininterrupto da narrativa de Sebald te transporta para lugares de espaço e tempo distintos, ora você está em uma paróquia medieval na Inglaterra, ora no império Chinês do século XIX. É através desses lugares de memória que o autor nos conduz pela barbárie onipresente na história humana. Seja em uma mansão nobiliárquica inglesa abandonada ou nos pesados trajes de seda que cobriam as damas de classe no passado, o lado obscuro da nossa civilização sempre estará presente e permanecerá até quando não estivermos mais aqui.
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Ronnie K. 11/01/2012

Narrativas do desencanto
À primeira vista não se percebe muito bem do tratam as narrativas desse estranho livro. São 10 textos, ou narrativas, aparentemente aleatórias sobre as andanças do narrador por paisagens isoladas, devastadas ou degradadas; por edificações fantasmagóricas, arruinadas ou habitadas por verdadeiros espectros de pessoas vivas. Tudo motiva o autor a fazer reflexões sobre a decadência da civilização, a transitoriedade das coisas e das pessoas, a solidão, a pesca do arenque (!), o auge e fabricação da seda (!!), e em algum grau, sobre a loucura. Os assuntos são múltiplos e completamente inusitados, às vezes dentro de uma mesma narrativa, e não dá pra resumir tudo em um simples comentário. A veia ensaística, por conseguinte, dá a tônica do livro. No entanto dentro dessas reflexões, Sebald lança mão de sua extraordinária habilidade narrativa para entremear a pura contação de histórias, relatando casos estranhos, pitorescos, irônicos, tristes e por aí vai. E é justamente essa mescla quase imperceptível entre ensaio, crônica e narração, escrito numa prosa surpreendente e fascinante, e a visão absolutamente original com que o narrador caracteriza suas reflexões e suas peregrinações que fazem desse um dos livros mais extraordinários escritos em nossa época. Sem dúvida já um clássico!

TRECHO:

"As lembranças dormitam dentro de nós durante meses e anos a fio, proliferando em silêncio, até que são despertas por alguma ninharia e nos cegam para a vida de uma maneira estranha. Quantas vezes isso me fez sentir que minhas lembranças e a tradução delas em escrita faziam parte do mesmo negócio humilhante e, no fundo, digno de reprovação! E, no entanto, o que seríamos sem a memória? Não seríamos capazes de ordenar os pensamentos mais simples, o coração mais sensível perderia a capacidade de se afeiçoar a outro, nossa existência consistiria apenas numa sequência infinita de momentos despidos de sentido, e não haveria mais traços de um passado. Que tristeza não é nossa vida! Tão repleta de falsas presunções, tão fútil que pouco mais é do que a sombra de quimeras liberadas por nossa memória."


jota 06/12/2014

Fácil e difícil...
Temos nesta obra dez textos versando sobre diversos assuntos – que vão desde uma famosa pintura de Rembrandt, A Lição de Anatomia do Dr. Tulp, até a arte chinesa da criação de bichos-da-seda, sua introdução na Europa e a reviravolta que causou em determinados lugares – tudo com o característico estilo de Sebald, sempre juntando uma história com outra, como faz o narrador aqui em suas caminhadas pelo litoral e interior da Inglaterra em 1995.

Os Anéis de Saturno traz textos longos, com poucos parágrafos, que a editora brasileira diz que formam um romance (penso que são muito mais memórias do que ficção ou talvez um misto de ambas – memórias inventadas ou reinventadas, não sei), mas sendo um romance ou não, depois da leitura de dois de seus livros (o outro foi Austerlitz), concluo que é fácil ler Sebald e ao mesmo tempo é difícil ler Sebald.

Ele escreve claramente - ainda que algumas frases venham em holandês, inglês, francês ou alemão e sem tradução – mas é sobre lugares onde jamais estivemos (ou estaremos), pessoas que pouco conhecemos ou das quais nada ouvimos dizer ou se estende verbosamente – como também faz aqui - acerca da devastação de plantas e florestas, sericultura, Rembrandt etc. Tudo é escrito de forma a interessar o leitor e nada é confuso ou fica sem explicação, apenas aquilo que o narrador confessa desconhecer.

O problema é que terminada a leitura do texto - ou do livro - parece que tudo se evaporou de sua mente e pouquíssima coisa sobrou, por exemplo, daquela história de um senhor inglês, Alec Garrard, de um lugarejo chamado Moat Farm que construía há vários anos uma réplica em miniatura com peças de madeira do Templo de Salomão e que achava que iria morrer antes de terminar sua obra.

E daí o que eu faço com um livro como este que pode ser interessante (ou prazeroso?) enquanto você está lendo mas que depois de quase trezentas páginas acaba e você se esforça pela lembrança das coisas lidas mas elas esmaeceram ou desapareceram completamente? Uma coisa é certa: jamais terei capacidade de reler Sebald. Deficiência minha, claro.

Lido entre 23/11 e 05/12/2014.
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none 15/10/2020

Saturno é logo ali na estante
Os anéis de Saturno trata das viagens que o autor fez pela Inglaterra em cidades próximas de onde reside. Conhecemos um país de um jeito que é pouco discutido seja livros de história seja nos romances ficcionais sua geografia, seu clima, mas entre essas descrições Sebald traz reminiscências do que leu, de quem ele conheceu, o que registrou durante as viagens e traça comparações com outros países.
Talvez isso cause a impressão de que o livro fale sobre muitas coisas sem nexo. O que não é verdade. Ele começa por exemplo falando sobre o local onde se encontra, para depois tratar da biografia de alguém importante (Browne, Conrad, Casement) e volta a discutir o tema de início. Parece proustiano, mas é muito real e mais próximo de nós.
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Tainá Antunes 05/02/2023

Os Anéis de Saturno é um livro do escritor alemão Sebald, peguei a sua referência enquanto lia as margens da ficção, de Rancière, no momento em que ele falava algo sobre memória, ruminações e conexões. O livro é basicamente um diário de viagens não linear que passeia pela história dos lugares, personalidades e cultura da inglaterra (e algumas das suas colônias) além de alguns outros países que estão conectados de alguma forma a sua história, reunindo alguns relatos e minúncias sobre essas particularidades. As suas temáticas são: memória, viagem, morte, guerra, passado, solidão e história - todos eles bem entrelaçados com riqueza de detalhes que beiram a fofoca, mas que torna surpreendente o fato de que o autor recolheu e pesquisou todas essas entrelinhas para conectá-los com eventos grandiosos de forma filosófica e subjetiva, além de muito poética e lindamente escrita.
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Aguinaldo 12/10/2011

os anéis de saturno
Estimulado por don Fernando Landgraf e terminado o bom livro de ensaios "Guerra aérea e literatura" resolvi experimentar um dos romances de Sebald que tinha à mão. Escolhi começar por "Os anéis de Saturno", que tem o subtítulo "uma peregrinação inglesa", publicado em 1995. É um livro curioso, que enfeixa um conjunto grande de histórias, boa parte bizarras, irrelevantes, desconexas. São como anotações depositadas em uma caixa e esquecidas, notas de reflexão sobre temas variados, que Sebald rearranja literariamente e apresenta através de sutis paralelos e ligações. O que transparece ao final, como parte da tessitura do livro, perene e absoluta, são a selvageria, cobiça e vocação para a destuição que acompanham todos os atos humanos. Sebald usa procedimentos analíticos das ciências naturais para ordenar e classificar o que reuniu. Claro, ele não tem a pretensão de abarcar todas as ações humanas, seu livro funciona com um catálogo do que ele vê na parte mais oriental da Inglaterra (East Anglia, os condados de Norfolk e Suffolk), durante as longas caminhadas que faz pela região. Sebald não tem nada de simbolista, claro, mas há em "Os anéis de Saturno" muito do decadentismo que encontramos no "Às avessas", de Huysmans. É como se Sebald atualizasse, um pouco mais de um século depois, a terrível visão descrita por Huysmans. O homo sapiens sapiens pouco evoluiu, continua o mesmo animal condenado à decadência e destruição. O narrador de Sebald (que pode ser ele mesmo, ou um alter ego, ou um personagem, nada é trivial em um romance) convalece em um hospital da região. Ao visitar praias frias e desertas, hotéis e pousadas decadentes, castelos e mansões destruídos, envolvidos por vegetação, corrompidos por matéria orgânica, assim como ao conversar com as pessoas que encontra nesses lugares, ele lentamente constrói um mosaico de reflexões e digressões. Sebald inclui dezenas de fotografias em seu livro. Elas ilustram o que se lê, mas não há referência explìcita a elas no texto. Como há muito no livro daquilo que encontramos mais frequentemente na construção acadêmica de artigos, a fragmentação do texto pelas figuras até se justifica, mas eu acho que Javier Marías usa esse artificío com mais eficiência. Sobre Sebald don Hugo Crema escreveu: "tenho recalcitrâncias com Sebald, me soa o tipo de contemporâneo (tipo Roth e Auster) que autores de 20 anos lêem". Boa colocação a dele. Um sujeito que lê autores deste tipo, displicentemente, pode ser levado a usar das mesmas hibridizações, intertextualidades e fragmentações (e pior, de considerar-se um escritor genial e inovador, ao tentar emulá-los). Mas acredito que é a cultura enciclopédica de um autor como Sebald que garante algum valor a suas reflexões e ao resultado final. A ver. [início 23/09/2011 - fim 26/09/2011]
"Os anéis de Saturno", W.G. Sebald, tradução de José Marcos Macedo, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2010), brochura 14x21 cm, 292 págs. ISBN: 978-85-359-1723-9 [edição original: Die Ringe des Saturn. Eine englishe Walfahrt (Fischer Verlag) Frankfurt (1995)]
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