Yuri Ikeda 29/07/2020
Como todos provavelmente sabem, esta é a continuação direta de Kalciferum, que foi o primeiro livro do autor. A primeira coisa a observar é que O Martelo das Feiticeiras tem pelo menos um dos elementos essenciais de uma boa continuação: explorar com mais profundidade o universo apresentado no volume introdutório e acrescentar algumas camadas de complexidade ao enredo, o que se reflete no número de páginas bem maior que o do primeiro livro, praticamente o dobro. A segunda coisa é que esse upgrade, ao mesmo tempo, é o culpado em parte por um dos pontos problemáticos do livro. Isso porque, enquanto o primeiro volume tem um andamento bem direto, com o enredo avançando quase sem pausas e seguindo a estrada da mesma premissa, a continuação tem uma estrutura mais sinuosa, às vezes ficando difícil de visualizar para onde mais ou menos a história vai. Mas isso não é o problema em si. Muitas vezes é interessante quando uma história nos deixa sem ter a menor ideia de que caminho ela vai tomar, causa uma perplexidade boa. E com isso compartilhamos o sentimento do protagonista em cair numa rede de coisas além de compreensão. Esse é o aspecto positivo. Só que, por outro lado, há um emaranhado de situações e personagens que demoram um bocado a ficar claro como se interligam e por que estão ali, o que pode dar uma sensação (pelo menos foi o que eu senti na parte do meio do livro) de que a história passa certo tempo sem ir a algum lugar, e alguns personagens secundários entram e saem de cena sem muito desenvolvimento da personalidade deles, aí quando eles se revelavam importantes eu ficava meio "mas quem era esse, mesmo?". Em compensação, o protagonista Rafael Branco ganha um desenvolvimento bem notável e se torna um bocado mais interessante do que era no primeiro livro. E o próprio Kalciferum, embora apareça menos do que poderia (pelo menos pra mim, que gosto do personagem), também tem seu bom desdobramento.
Estou dizendo que a continuação é inferior ao primeiro livro? De jeito nenhum. Há esses pontos positivos e negativos, e o que eu coloquei como negativos valem mais para o meio do livro, que a meu ver passa muito tempo, por assim dizer, montando o tabuleiro de xadrez e não ainda jogando. Mas depois que as coisas se interligam e as peças começam a se movimentar, fica impossível parar de ler, e o clímax é completamente satisfatório.
Agora, cadê o Livro 3?