Luiz 24/12/2022
A Liberdade que lhe torna Escravo
Livro: Libido Dominandi - Libertação sexual e controle político
Autor: E. Michael Jones
Eugene Michael Jones é um estudioso da cultura moderna e contemporânea, tem relevantes trabalhos na área do catolicismo e história da igreja, possui outro livro muito famoso o "Modernos Degenerados" recentemente traduzido e vendido no Brasil, pela Vide Editorial, assim como este livro colossal de 856 páginas de leitura fluída e instigante.
Jones, neste livro, defende a tese de que a história da Revolução Sexual, o movimento que defende progressivamente a libertação sexual de forma a combater a moralidade e o status quo da época, teve como resultado primordial o controle político daqueles que abrem mão de sua moralidade, razão e espiritualidade, para se renderem às suas paixões, sem se darem conta de que são fantoches de quem oferece e promove os meios para obter os objetos de seus mais ardis desejos, ou seja, enquanto a proposta, iniciada contemporaneamente a revolução iluminista, pregava a libertação do homem das "amarras" sociais da tradição religiosa resultou no controle político que descamba no totalitarismo, pois uma vez que as paixões e desejos sexuais são libertos, para derrubar a moral, automaticamente se é levado a anarquia e ao caos social, mas para tomar o poder e se perpetuar nele, é necessário o controle totalitário da sociedade.
O livro começa com a história de Adam Weishaupt o fundador da ordem Illuminati. Weishaupt era ex-jesuíta e tinha ligações maçônicas, e ao adaptar o método jesuíta de Exame de Consciência, somado à prática de Confissão e Absolvição da Igreja Católica, e o sistema iniciático e hierárquico da Maçonaria, cria o sistema que dará frutos às células revolucionárias em toda a Europa mesmo após o fim da Ordem Illuminati. Enquanto o exame de consciência permite que o fiel reflita sobre seus pensamentos e ações para expor na confissão de seus pecados, ao sacerdote, para ser absolvido e perdoado, no método Illuminati o adepto por meio do exame de consciência fornece ao seu superior todas as informações mais íntimas sobre ele mesmo, de forma que o sistema hierárquico, fornecido pela maçonaria, permite que sempre quem está em graus mais elevados saiba tudo sobre quem está nos graus inferiores, tornando o conhecimento limitado para os mais recentes e mais progressivo para os mais experientes, mas criando também um sistema de mútua espionagem em que seus desejos e paixões sempre são conhecidos por alguém que pode se utilizar daquela informação para objetivos particulares.
Ainda que Adam Weishaupt e os Illuminati tenham acabado entrando em colapso, seus escritos foram redescobertos, ganhando fama, sua literatura forneceu as bases necessárias para o controle político baseado nas paixões, bastava que um conjunto de filosofias e psicologias, fossem postas em vigor promovendo a libertação do homem das bases morais e sexuais para que o casamento entre essas duas vertentes (sistema Illuminati + filosofias e psicologia modernas) promovessem frutos inimagináveis nos dias atuais.
Weishaupt, nessa perspectiva, nada mais é do que a semente cujo as idéias serão aperfeiçoadas ao longo do tempo resultando numa grande árvore genealógica em quê seus frutos são: a libertação sexual das paixões, o sexo desmedido, a busca pelo prazer a qualquer custo, a abolição progressiva da tradição moral e cristã, o cientificismo como novo deus que organizará a sociedade, a engenharia social, a propaganda jornalística e comercial com base na manipulação da vontade e dos desejos, o controle de natalidade e eugenia, aborto, totalitarismo político, cinema cada vez mais apelativo sexualmente, o comunismo como forma de libertação sexual e moral, a masturbação e a pornografia como rebeldia contra o status quo, as pautas identitárias negras e homossexual como gatilho para a libertação sexual, a promoção do adultério e abandono do casamento, estudos psicológicos e sexuais manipulados para induzir a sociedade à um "espírito" libertino, e outros tantos temas, convergem para a decadência do mundo contemporâneo.
Marquês de Sade
Mary Wollstonecraft
William Godwin
Percy Shelley
Mary Shelley
Auguste Comte
John B. Watson
Freud
Jung
Eddie Bernays
Horace Frink
Margaret Sanger
Alexandra Kollontai
Max Eastman
Magnus Hirschfeld
Claude McKay
Wilhem Reich
Thomas Merton
Alfred Kinsey
Paul Blanshard
Carl Rogers
Kurt Lewin
Leo Pfeffer
São citados no livro, de forma mais delongada, enquanto outros tantos são citados porém não tão explorados, e a medida que conhecemos suas vidas particulares, com vários detalhes biográficos, percebemos a correspondência entre suas teorias e sua vida privada, assim como a sua contribuição para a degeneração da moral.
O livro é constituído de 3 partes, a primeira parte possui 7 capítulos, a segunda parte possui 25 capítulos, e a terceira, 21 capítulos.
Enquanto a primeira e a segunda parte o autor se aprofunda no contexto histórico, as teorias de base que foram evoluindo e os autores responsáveis pelo estado atual desta crise que ele aponta, na última parte, ele nos apresenta as consequências políticas dessas idéias das partes anteriores, o como que as bases citadas anteriormente foram responsáveis pela criação de leis, disciplinas acadêmicas, políticas públicas, empresas e ONGs e etc, se valendo também do papel da religião cristã, em especial do catolicismo, para combater todo esse movimento de controle político e sexual desde os anos de 1776 até 1992 aproximadamente.
É um livro diferenciado, o melhor livro que li no ano de 2022, muito extenso sim, mas repleto de informações importantíssimas, como já vinha estudando o tema do controle político e da modificação da moral, esse livro agregou de forma ímpar, principalmente aos detalhes apresentados sobre os teóricos da filosofia, sociologia, jornalismo, literatura e psicologia. Eu particularmente tento, sempre ao ler um livro, minimamente saber um pouco sobre os teóricos que estudo, mas esse livro mostra informações biográficas que dificilmente teria acesso e de forma claramente casada com a proposta do livro, impossível sair da leitura desse livro com a mesma visão de mundo, o "horizonte de consciência" é muito expandido com essa leitura, principalmente se já tiver estudado minimamente boa parte dos autores citados.
Como já li muitos livros sobre a Nova Ordem Mundial, algumas das maiores dificuldades das pessoas em entenderem esse tema é referente aos ditos "Metacapitalistas" que buscam através do capitalismo fomentar pautas políticas, em diversas partes do mundo, de seu interesse ainda que aparentemente dêem a impressão de que vão contra a política do capitalismo e livre mercado, nomes como Fundação Ford, Carnegie, Rockefeller e outras são citadas recorrentemente como grandes financiadoras de estudos, projetos de pesquisas e movimentos, com o interesse do controle político e sexual, o que ajuda o leitor à minimamente abrir os olhos pra fundações como essas.
Vale ressaltar também o como toda a Igreja, especialmente a Católica, combateu arduamente contra todo esse movimento, principalmente na questão de controle de natalidade, aborto e pornografia, tenho certeza que pra um bom católico esse livro é de grande valia histórica.
"A ideia de que o pecado é uma forma de escravidão é central nos escritos de São Paulo. Santo Agostinho, no seu magnum opus em defesa do cristianismo contra as acusações dos pagãos de que teria contribuído para a queda de Roma, dividiu o mundo em duas cidades, a Cidade de Deus, que ama o Criador até o limite da extinção do ego, e a Cidade do Homem, que ama o ego até o limite da extinção de Deus. Agostinho descreve a Cidade do Homem como "desejosa de dominar o mundo", mas, ao mesmo tempo, "dominada por sua paixão pela dominação". Libido dominandi, a paixão pela dominação, é portanto, um projeto paradoxal, invariavelmente praticado por aqueles que estão obcecados pelas mesmas paixões que incitam para dominar as massas.
A dicotomia que Agostinho descreve é eterna. Existirá pelo menos enquanto o homem existir. Os revolucionários do iluminismo não criaram um novo mundo, nem criaram um novo homem para habitar seu admirável mundo novo. O que fizeram foi adotar a cosmovisão de Agostinho invertendo seus valores."
(E. Michael Jones, p.13)
"[...] iluminismo, que começou como um movimento para libertar o homem e subitamente se transformou em um projeto para controlá-lo. Este livro é a história dessa transformação. Pode ser visto como uma história da revolução sexual, da psicologia moderna ou da moderna guerra psicológica. O que todas essas histórias têm em comum é um projeto de várias gerações, que chegaria, por meio da tentativa e do erro e de um desejo pervertido pela paixão, à mesma conclusão que Agostinho atingiu no fim do Império Romano. Um homem tem tantos mestres quanto tem vícios. Promovendo o vício, o regime promove escravidão, que pode ser transformada em controle político. A única questão remanescente era se a escravidão poderia ser aproveitada para o ganho financeiro e político, é como isso poderia ser feito. A melhor forma de controlar o homem é fazê-lo sem que ele tenha consciência de que é controlado, e a melhor forma de fazer isso é através da manipulação sistemática das paixões, pois o homem tende a se identificar com elas. Ao defendê-las, ele defendeu sua "liberdade", que usualmente enxerga como a habilidade ilimitada de realizar seus desejos, sem, na maior parte do tempo, entender como é fácil manipular essas paixões."
(E. Michael Jones, p.14)