Oblómov

Oblómov Ivan Gontcharóv
Ivan Alexandrovich Goncharov




Resenhas - Oblomov


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Vanessa.Saraiva 04/01/2024

Um dos meus primeiros contos Russo.A história de Oblomov começa a se desenrolar a partir do primeiro capítulo,a vida inerte do protagonista em uma narrativa de conhecimento e o desenrolar da vida ,nos prende do início ao fim de forma surpreendente.
Livro antigo temas atuais em torno de uma sociedade que se mostra tantas vezes superficial,tornando muitas vezes difícil para aqueles que não se adequa aos padrões .
Terminei emocionada com o no na garganta.Pretendo reler em outro momento.Certamente se tornou um dos meus preferidos.Nunca mais esquecerei de Ília Lich ?
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Daiane316 04/10/2023

Leiam Oblomóv!
Oblomóv é certamente um dos maiores; a obra retrata as transformações da Rússia em meio a mudanças sociais e políticas. Nada aqui escapa do autor, na hora em que narra-se diálogos, e no que tange em transferir as suas preocupações diante das novas gerações de seu país e os rumos no qual se encaminhava. Para além disso, criou também personagens eloquentes, carismáticos e tão reais, que a emoção não foi poupada em nenhum momento. Um baita livro sobre metamorfoses, sobre a vontade (ou a falta dela), de se adequar ou ser a mudança no meio que vive., sobre zonas de conforto e o que de mau ela pode nos causar., sobre o embate de gerações e no que nos agarramos.
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juliannerib 08/08/2021

Apesar de ser um clássico é um livroque corre fácil porém com questões profundas.

Foi impossível não pensar sobre a própria vida, se estamos desperdiçando ou vivendo e aproveitando tudo que pode oferecer.

Vamos ver.
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Jeni 11/05/2021

"Vamos falar sobre Oblómov."
?um homem de trinta e dois ou trinta e três anos, de estatura mediana, bem-apessoado, de olhos cinzentos-escuros, mas com uma total ausência de qualquer ideia precisa, de qualquer concentração nos traços do rosto. O pensamento voava-lhe pelo rosto como um pássaro livre, esvoaçava nos olhos, pousava nos lábios entreabertos, ocultava-se nas rugas da testa, depois desaparecia por completo e então parava-lhe em todo o rosto a fraca luz uniforme da despreocupação. Essa despreocupação passava do rosto para a postura de todo o corpo, e até para as pregas do roupão.?

Oblomov parece encarnar a visão da alma russa da época, impregnada de indolência, indecisão e avessa ao espírito prático. E, claro, preguiçosa, uma característica que Oblomov exibe orgulhosamente como um estandarte. Tendo na suavidade ?a expressão dominante e fundamental não apenas do rosto mas de toda a alma?, Oblomov é receptáculo de uma estranha obesidade, cA galeria de personagens que enchem o livro até que Oblomov se decida levantar da cama é de se lhe tirar o chapéu: Vólkov, ?um jovem de vinte e cinco anos, a irradiar saúde, de faces, lábios e olhos risonhos. Fazia inveja olhar para ele. (?) Ofuscava pela frescura do rosto, da camisa e do fraque?; Sudbínski, chefe de repartição, ?senhor de fraque verde-escuro com botões brasonados, muito bem barbeado, com as suiças escuras a enquadrar equilibradamente o rosto, uma expressão cansada mas calma e pensativa nos olhos, um rosto muito gasto mas com um sorriso sonhador?; Penkin, ?um homem muito magro, moreno, todo suiças, bigode e pêra. Vestia com uma negligência estudada?; Alekséiev, um homem que ouve e vê aquilo que os outros já ouviram e viram, ?uma espécie de indício incompleto, impessoal, da massa humana, um eco abafado, um reflexo impreciso dela?; e ainda Stolz, o verdadeiro contraponto de Oblomov, o seu amigo de longa data e o único em quem Oblomov verdadeiramente acredita. Será Stolz o responsável pelo virar de avesso da vida de Oblomov, forçando-o a sair do seu retiro para aproveitar a vida, dando-lhe a conhecer as aventuras e desventuras do amor.

Ainda que seja um clássico temporal, muito cingido ao espírito da época em que foi escrito, ?Oblomov? alcança a intemporalidade ao retratar, de forma singular, a alma humana ? e, neste ponto, não apenas a alma russa mas a de todo o planeta. Um pouco como as estações do ano vão dançando alternadamente, ?Oblomov? desenha um círculo perfeito sobre a vida, começando e terminando com aquilo que ela tem de mais nobre e ingénuo: o sonho. com um corpo que ?parecia demasiado efeminado para um homem.? Para ele, estar deitado fica longe de ser uma necessidade: é, antes, um estado natural.
A galeria de personagens que enchem o livro até que Oblomov se decida levantar da cama é de se lhe tirar o chapéu: Vólkov, ?um jovem de vinte e cinco anos, a irradiar saúde, de faces, lábios e olhos risonhos. Fazia inveja olhar para ele. (?) Ofuscava pela frescura do rosto, da camisa e do fraque?; Sudbínski, chefe de repartição, ?senhor de fraque verde-escuro com botões brasonados, muito bem barbeado, com as suiças escuras a enquadrar equilibradamente o rosto, uma expressão cansada mas calma e pensativa nos olhos, um rosto muito gasto mas com um sorriso sonhador?; Penkin, ?um homem muito magro, moreno, todo suiças, bigode e pêra. Vestia com uma negligência estudada?; Alekséiev, um homem que ouve e vê aquilo que os outros já ouviram e viram, ?uma espécie de indício incompleto, impessoal, da massa humana, um eco abafado, um reflexo impreciso dela?; e ainda Stolz, o verdadeiro contraponto de Oblomov, o seu amigo de longa data e o único em quem Oblomov verdadeiramente acredita. Será Stolz o responsável pelo virar de avesso da vida de Oblomov, forçando-o a sair do seu retiro para aproveitar a vida, dando-lhe a conhecer as aventuras e desventuras do amor.

Ainda que seja um clássico temporal, muito cingido ao espírito da época em que foi escrito, ?Oblomov? alcança a intemporalidade ao retratar, de forma singular, a alma humana ? e, neste ponto, não apenas a alma russa mas a de todo o planeta. Um pouco como as estações do ano vão dançando alternadamente, ?Oblomov? desenha um círculo perfeito sobre a vida, começando e terminando com aquilo que ela tem de mais nobre e ingénuo: o sonho.
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JOY 20/07/2020

"Então, quando é que se vive?"
"Quando não sabemos para que vivemos, vivemos de qualquer jeito, um dia depois do outro; ficamos contentes porque o dia terminou, porque a noite terminou, e até no sono sou engolido pela maçante questão de saber para que vivi aquele dia e para que vou viver o dia seguinte."

Uma história simples, repleta de significado. Oblómov era uma homem que fugia da vida. Um homem bom não está imune a ter defeitos e, Iliá os tem: preguiçoso, procrastinador, desinteressado. Nenhum dos defeitos o torna um homem menos nobre. Oblómov é reflexo de sua criação, de sua condição, de tudo à sua volta.

Era um homem preguiçoso ou apenas buscava paz de espírito? Há um pouco de Oblomovismo em todos nós? Afinal, procrastinamos, fugimos de problemas, sonhamos e não executamos. Mas, para Oblomov, ia além: viver era um fardo.

Os personagens podem ser caricatos e algumas cenas podem ser teatrais. Mas é um livro extremamente divertido. A relação de Iliá e seu criado podem gerar boas risadas. Porém, os personagens são previsíveis, o romance deveras chato, mas nada desses defeitos tira a beleza do livro. Embora, como um bom livro russo, trate da realidade local, com os senhores de terra, Oblomov faz uma analogia interessante a assuntos atuais, como a depressão, por exemplo.

Oblómov nos permite refletir sobre a vida e sobre como nosso comportamento pode influenciar nossa realidade. Emocionante e divertido.
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André 09/06/2020

Um épico acerca da imobilidade humana! Grande referência para debater as consequências da entrada do capitalismo num país agrário e os limites 'morais' da servidão.
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Roberta 02/06/2020

Impossível não simpatizar com o Oblómov, o inerte herói desse livro maravilhoso. É um daqueles livros que acompanham você mesmo depois da leitura.
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Amâncio Siqueira 17/05/2020

Preso em si mesmo
Ivan Alexándrovitch Gontcharov 
(em russo: Иван Александрович Гончаров; Simbirsk, 18 de Junho de 1812 – 27 de setembro 1891) publicou sua obra prima, o romance psicológico Oblomóv, em 1859. Oblomóv é um marco literário, marcando a transição de Gogol para Dostoievski e Tolstoi, e da arquitrama para a antitrama, prenunciando personagens como Brás Cubas, Hans Cartorp e Bartleby. Um romance sobre a nobreza perdida na indolência, confusa num mundo de constante mudança.
https://youtu.be/QDjxAnT7TE0
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Kazu 03/04/2020

Clássico!
Havia adquirido esse livro mais pela curiosidade, instigado pelo fato de estar sempre presente em listas de clássicos da literatura ocidental. Realmente faz jus a ser considerados uns dos grandes clássicos. Oblomov é um nobre herdeiro na Russa agrária do século XIX. É uma época de grandes mudanças, porém, o personagem é a caricatura dessa nobreza arcaica, que resiste a essas mudanças. Oblómov é um sujeito que passa seus dias deitado no sofá, vestido num roupão e assistido por seu servo em tempo integral. Tamanha letargia chega a causar revolta no leitor, mas ao mesmo tempo, a pureza e nobreza do personagem faz com que criemos uma tal empatia, que nas vezes em que autor se ocupa com os coadjuvantes, torcemos para que Oblómov volte a cena. Talvez essa empatia seja o motivo de Oblómov ter se transformado nesse personagem icônico e o livro ser o clássico que é. Ivan Gontcharóv, o autor, é um grande contador de história, pois não é fácil prender a atenção do leitor tendo um protagonista que se caracteriza por sua preguiça e letargia. Certamente foi uma tarefa hércula! Recomendo a leitura a todos.
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Polliana 30/07/2019

Um livro maravilhoso
Que livro senhores, a melhor leitura até o momento, um livro que requer dedicação,não é cheio de reviravoltas, Gontcharóv da vida a Oblómov um rico senhor de terras que mal sai do sofá e passa o dia de roupão, sendo servido, fazendo planos que nunca põe em prática.
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Julio.Argibay 08/07/2019

Ócio, criativo?
Esse livro foi escrito por Ivan A. Goncharov. Essa obra é tão importante para a literatura russa que o termo Oblomov criou um significado próprio ? sendo uma palavra que define um movimento relacionado a um tipo de organização social senhorial, talvez fútil em muitos momentos, disfuncional e que retrata uma época pré revolucionária, onde a servidão era comum e caracterizado por um modo produção essencialmente rural. (Na net só encontrei a versão dessa obra em espanhol, então, vai assim mesmo). A rotina do personagem Ilia Ilich possui algumas dessas características citadas, pois ele vive preguiçosamente, do sofá para a cama; faz suas refeições; lê e faz conjecturas sobre a vida; socializa com os amigos e servos e assim segue sua rotina de tédio e solidão. Trabalho? Ops? Em certa parte do romance ele vai a sua fazenda para cuidar da propriedade da família. Lá somos apresentados a outros personagens que passam a conviver com ele (Zajar, Shtolz, Tarantiev, Olga). Ilia após viver algum tempo lá se apaixona por Olga (pelo menos parece) e briga com seu amigo Shtolz, que também estava interessado nela (pois é né). Acredito que este episódio tenha sido o maior conflito desse livro, pois essa estória retrata na maioria das vezes: ócio, preguiça e coisas banais. Essas são as características de uma classe que foi vitimada pelo ostracismo. Representa uma época que passou e que não foi mais necessária ou perdeu sua relevância, ou seja, perdeu o bonde da história. A importância desse romance, acho eu, é justamente perceber e registrar essa ruptura, esse momento crucial de transformação da sociedade russa. Assim finalizamos essa resenha. Que venham os comunistas!!! Pobre povo infeliz. (Da extrema direita para a extrema esquerda, ninguém merece). Do álcool a perda das liberdades individuais? cada povo com sua sina.
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Bela 30/05/2018

Oblomovindo
Não tenho certeza de como começar a retratar Oblómov. Esse livro me acompanhou por quase meio ano, e me amedrontou até as 200 primeiras páginas. Oblómov é um retrato da nobreza russa no período do fim da servidão. Encurtando a história, é uma pessoa que não faz nada ? mas não só.

Iliá Ilitch Oblómov vive do mesmo modo pacato e sossegado desde seu nascimento, em Oblómovka, sempre com inúmeros servos ao redor e muita fartura. Possui uma respeitosa formação, sendo esperado seguir o destino do funcionalismo público. No entanto, Oblómov não conseguia sequer isso. Pensava, pensava, e acabava deixando para amanhã: ?cansei-me demais, afinal, com o esforço de decidir?.

Oblómov é um romance extremamente angustiante em alguns momentos. A inércia do protagonista incomoda e constrange, e, ao mesmo tempo, é incrivelmente relacionável. Mesmo no seu ápice de movimento, com o amor repentino entre ele e Olga, Oblómov até tenta se mobilizar, mas não consegue superar a, afinal, razão de sua vida.

Esse questionamento perpassa páginas e páginas, afligindo heróis diferentes. É, pois, o amor a grande razão de viver? Quando se chega ao ápice da razão, ao fim dos questionamentos, à, por que não, quietude?

Para Oblómov, sua razão sempre foi seu próprio âmago. Não seria o amor capaz de inquietar uma vida acostumada e obstinada a assim ser. Não seria sequer a amizade capaz de transformar toda uma filosofia que, por mais que trouxesse bondade e lealdade, não trazia movimento. Não há transformação em seu olhar resignado.

É, realmente, difícil se movimentar. Difícil saber para que lado ir, o que priorizar, como ultrapassar as barreiras dos conhecimentos já não adquiridos. Oblómov retrata a elite russa do século XIX, mas, com toda sua genialidade, consegue também retratar todas as angústias da atualidade.

O livro não trás nenhum acontecimento grandioso e, ao tentar descrevê-lo, não se encontra uma trama específica. É, justamente, essa a grandiosidade: não há nada de memorável, não há nada épico, mas há a vida como ela é. Há o agora ou o nunca, há a possibilidade da mudança e a comodidade da constância.

Passado o sonho de Oblómov, a leitura se desenrola facilmente, levando consigo suspiros e reflexões. Como poderia não se acomodar o nobre patrãozinho? De onde arranjar forças para se submeter às necessidades e expectativas dos ?outros?? Desde o início, Iliá se repugna ao ser comparado com ?os outros?. De fato, não há ninguém que entenda essa quietude, além do alter-ego e servo Zakhar.

A tirada cômica do livro é o confronto como a um espelho, quando senhor e serviçal se encaram e os vemos como um só em duas faces. O comportamento preguiçoso do chefe se revela no desastrado, rabugento e ignorante servo, que, no entanto, entende sua posição social como lógica e imutável - como já era de se esperar: nenhuma mudança na situação em que estão pode ser agradável para qualquer um.

É em meio a essa angústia da vida, de afinal se sentir inútil, de não saber ao certo a razão do mundo e de simplesmente existir que se desenrola a história. O romance termina com um gracejo, nos trazendo notícias não tão inesperadas. O fim de Oblómov já era assim previsto desde que nasceu, e ocorreu num sopro da maior sonolência.

Uma escrita proposital e jocosamente lenta, mas nem por isso tediosa. O sazonar dos personagens coadjuvantes no desenrolar da história, a maturação de Olga, a devoção de Agáfia, a objetividade de Stolz e, enfim, o oblomovismo de Oblómov demonstram que o fluxo da vida é confuso e apreensivo também na felicidade plena; que o movimento e a agitação podem levar, invariavelmente, à rotina. Que o ânimo, por vezes, desanima. Mas que, enfim, assim é a - satírica - vida.

É a essa angústia existencial que somos expostos ao ler Oblómov. Ainda há muito que se relatar e que refletir a respeito dessa obra, mas, por hora, vou aderir ao comportamento do personagem principal dessa história e só, grosseiramente, pensar, pensar, pensar.
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Valério 01/02/2018

Sofrimento
A leitura de "Oblómov" me fez sofrer bastante. Um homem bom, honesto e puro (teria sido daí que Dostoiévski tirou a ideia para escrever "O idiota"?).
Mas que é o rei da procrastinação e da preguiça. Frágil e sensível, não suporta enfrentar o menor sinal dificuldade, que já se esconde. Enfrentamento é palavra que não existe em sua existência.
Por causa disso, é explorado por todos os lados.
E assim, passei o livro todo torcendo por Oblómov. Mas é como torcer para um time da quarta divisão contra um time da primeira. Pode até ganhar de vez em quando, mas a derrota é quase certa.
E sofremos ao ver Oblómov não reagir, não ter atitude, não correr atrás da vida.
Contudo, os melhores livros são aqueles que mexem conosco, que nos causam desconforto. E isso Ivan Gontcharóv (amigo de Tolstói) consegue com maestria.
Além de distribuir na obra diversas passagens que são de uma beleza e filosofia:
"Quando não sabemos para que vivemos, vivemos de qualquer jeito, um dia depois do outro; ficamos contentes porque o dia terminou, porque a noite terminou, e até no sono sou engolido pela maçante questão de saber para que vivi aquele dia e para que vou viver o dia seguinte".
Ou sobre o estudo do amor:
"Embora digam que o amor é um sentimento caprichoso, inexplicável, contagioso como uma doença, todavia o amor também, como tudo, tem suas leis e suas causas. E se até agora essas leis foram pouco investigadas é porque um homem, infectado pelo amor, não está em condições de observar com um olhar científico como a sensação se insinua no espírito, como ela parece entorpecer os sentimentos da mesma forma que o sono..."
Ivan causou forte impressão à época. E posso agora dizer que continua causando-a.
Um livro que não se lê: se vive.
Natalie Lagedo 01/02/2018minha estante
Amei, amei demais essa resenha! Quero ler.


Valério 02/02/2018minha estante
Tomara que goste tanto quanto gostei. Boa leitura..Obs.: A edição da Cosacnaify é sensacional. Tem a gramatura mais agradável que já vi. E é linda.


Taci 10/09/2019minha estante
Obrigada por partilhar??




eduardo souza 20/11/2016

Oblomovismo enquanto potência
É uma coincidência interessante que Oblómov tenha sido traduzido diretamente do russo em 2013 pela Cosac Naify. A nova tradução de uma obra de 150 anos demonstra como a literatura é capaz de recontextualizar e ser recontextualizada. Portanto, embora a análise mais superficial do romance encare a inação do protagonista uma caricatura do declínio da nobreza com o fim da servidão na Rússia, defendo que ela pode ser encarada como uma estratégia de potência estética e resistência política.

Em seu curto texto Sobre o que podemos não fazer, Giorgio Agamben apresenta a potência não apenas como (1) aquilo que podemos fazer — a possibilidade de realização — e seu oposto (2) aquilo que não podemos fazer — a negação da potência, a impotência. Todavia, a negação da potência possui ainda outra face oculta: (3) aquilo que podemos não fazer — a possibilidade de negar a realização.

A terceira face da potência, a mais sutil, pode ser também a mais disruptiva. A negação foi exemplarmente incorporada em Bartleby por Herman Melville desde 1853, apresentando esteticamente — tanto no nível literário-linguístico quanto no nível político-social — o poder de ser estático conjugado ao simples “acho melhor não”. O nobre russo Iliá Ilitch Oblómov, de Ivan Gontchárov, fica ao lado de Bartleby, tanto estética quanto cronologicamente.

O oblomovismo é um modo de vida: cansar-se apenas ao preparar-se, planejar, sonhar e imaginar possibilidades, sem nunca realizá-las. O termo, apresentado pelo melhor amigo e contraparte de Oblómov, o "alemão" Andrei Ivánitch Stolz, torna-se uma palavra nefasta que incorpora toda imobilidade. Enquanto Stolz é incrivelmente eficaz — “era todo feito de ossos, músculos e nervos (…) não fazia movimento supérfluos” — Oblómov desistira de escrever uma carta para administrar sua propriedade por repetir dois ou três “o qual”.

Uma análise vulgar poderia apontar que o ócio de Oblómov é a metonímia da nobreza russa da época, enquanto a eficiência alemã de Stolz é uma ode à burguesia que crescia com o fim do regime de servidão. Gontchárov não poderia estar mais distante de tal didatismo. Ironica e deliberadamente, Gontchárov não faz de Stolz seu protagonista, tornando-o apenas uma parede sobre a qual projeta-se a personalidade tridimensional do idílico Oblómov, cujo sonho de voltar à infância e viver sempre e apenas no hoje é narrado em um dos principais capítulos do romance.

Oblómov se destaca e é levado a outro plano de tratamento estético, conforme sutilmente apontado na capa do projeto gráfico da Cosac Naify. Longe de uma indolência, o protagonista é antes um Dionísio fatalista, capaz de ver que aqueles que trabalham vão para lá e para cá é que estão presos ao cotidiano do que ele à sua impotência — que lhe oferece apenas possibilidades. Entretanto, ele também paga por seu modo de vida: sua angústia, embora não raro desdenhada pelos outros personagens e pelo narrador, é tratada esteticamente como sentimento humano extemporâneo.

Agamben aponta que operação de poder, segundo o seu Deleuze, é a separação brutal que põe, de um lado, o indivíduo e, de outro, as suas possibilidades de realização. Todavia, o contemporâneo é ainda mais brutal: separa-nos do podemos não fazer. Aquilo que ele identifica como a “flexibilidade que é hoje a primeira qualidade que o mercado exige de cada um” é o estranhamento da impotência: não somos capazes de distinguir o que não podemos e o que podemos-não-fazer. Esse é o traço que impede a resistência. Logo, negar a ação e conciliar-se com a impotência torna-se estratégia política e regime estético a um só tempo.

Uma existência governada pela teleologia é meramente um conjunto de gestos vazios. A noção de eficácia mostra-se como a principal agente das estruturas estabelecidas. Se não é permitido conciliar-se com a impotência, não é permitido criar ficções, nem refletir sobre os atos; não é permitido viver esteticamente. É a impotência — seja a impossibilidade de realização ou a possibilidade de não-realização — que permite a estética: qualquer potência do gesto consiste na sua própria impotência diante do sistema. Diante da impotência, Bartleby e Oblómov são duas perspectivas de um mesmo gesto: ambos apontam para a negação como estratégia de resistência.

site: https://animusmundus.wordpress.com/2016/11/14/oblomovismo-enquanto-potencia/
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