Atenção

Atenção Alex Castro




Resenhas -


16 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Raphael.Mendes 08/09/2020

Atenção
No dia 29/04/2019 recebi um e-mail do Skoob dizendo que havia ganhado o livro Atenção de cortesia, no sorteio que acontece sempre no site. Como bom sortudo que sou, nunca havia ganhado nenhum tipo de sorteio online, e muito menos offline. Confesso que ao ler a sinopse, cheio de preconceitos, acabei fazendo pouco caso do livro e ele ficou guardado na minha casa por pouco mais de um ano.
Durante a quarentena, comecei a ler alguns livros que estavam guardados, e um deles foi justamente Atenção, de Alex Castro. Nunca havia ouvido falar dele, nem lido nenhuma literatura sequer parecida.
O livro é de fato maravilhoso, traz 20 práticas de atenção que podemos praticar em nossas vidas, para nos tornarmos pessoas melhores para nós e principalmente para os outros. É um livro que me fez rever muitos de meus conceitos, e perceber que tenho tentado trilhar um bom caminho nos últimos anos, mas que ainda sim preciso melhorar sempre.
Recomendo para todos que ainda estão na dúvida em ler ou não, com certeza vale a pena a leitura. Não é um livro de autoajuda, nem um cara qualquer cagando regras, são práticas que devemos fazer no nosso convívio em sociedade, e que se todos aplicássemos, o mundo seria um pouco melhor.
comentários(0)comente



Nicholas.Assis 14/09/2022

Excelente!
Esse livro vai te deixar desconfortável e isso te fará muito bem! Faz refletir sobre vários padrões de comportamento que temos e como adotar novas práticas e enxergar o mundo de outra forma!
comentários(0)comente



Daniela 25/10/2023

Resenha
Vou começar a resenha pelos pontos positivos que vi no livro. Primeiramente não é um livro que eu consiga encaixar em algum gênero, algumas pessoas comentam que não é auto ajuda, mas me pareceu bastante um livro nessa área, com orientações e lições.

O autor é muito bom na escrita, foi um livro super fácil de ler, em que me senti assimilando os conceitos rapidamente, com os exemplos e comparações que ele trouxe. Gostei muito da sensação de ler, foi uma leitura prazerosa.

Esse livro desafia nosso pensamento e nossas atitudes automáticas que realizamos no dia a dia, certamente desperta um olhar crítico em relação as nossas ações e aos nossos relacionamentos com os outros. Vários capítulos fizeram muito sentido para mim, como Ser um espaço seguro, Cultivar o silêncio, Ouvir com atenção plena e Escolher agir com cuidado.

Foca muito no nosso conceito de individualidade e prega que o ser humano não é indivíduo e sim coletivo, que não há um Eu e sim um Nós. Gostei bastante e trouxe bons pontos a se pensar e aplicar nas relações.

Dito isso, não posso deixar de comentar que esse livro tem um viés religioso, que é o budismo. Muitos dos ensinamentos ou ?ensaios? são baseados em valores dessa religião, e isso pode podar linhas de pensamento diferentes.

Senti que o autor se contradiz muito no livro, principalmente atingindo metade do livro, em uma seção ele fala uma coisa, para se contradizer logo em seguida sobre assunto semelhante. Como ele escreve super bem, essas contradições podem passar batidas.

Também senti que o livro as vezes aborda de forma ingênua alguns assuntos e ignora o contexto social e mais ?realista? da vida. A leitura é como uma conversa e várias características e pensamentos são atribuídos ao leitor nesse livro, que não necessariamente são verdades, isso faz com que a gente pense que o livro não está muito alinhado com sua vida.

Enfim, foi uma boa experiência a leitura, porém teve momento que deu nos nervos hahaha
comentários(0)comente



Moitta 21/03/2019

Minhas notas do livro
Quando nos sentimos tentadas a subir no atraente pedestal do conhecimento, para assim distribuir sábios conselhos à pobre ralé lá debaixo, podemos apelar para um truque mental semelhante: listar nossas dúvidas, visualizar nossas lacunas, corporificar nossa ignorância.

E, de qualquer modo, mesmo que consigamos refrear nossos impulsos intrusivos e egoicos, será sempre uma vitória efêmera: na próxima frase, na próxima interação, na próxima pessoa, no próximo pedido de conselho, zera tudo e precisaremos, mais uma vez conscientemente, ativamente, habitar o não conhecimento.

Quando nos tornamos pessoas adultas, nossa mente é como um computador que veio de fábrica com vários programas pré-instalados. Não é nem que todos esses programas sejam lixo, mas também não é que sejam bons só porque foram instalados por pessoas em quem teoricamente confiamos (mães, professoras, amigas etc.) ou porque têm o aval da tradição e do costume.

Onde termina a omissão e começa a invasão? Essas são questões políticas que encaramos todos os dias, tanto em nossas relações humanas, quanto em nossas relações diplomáticas. Cada vez que estoura uma guerra civil ou acontece um massacre genocida, a comunidade internacional enfrenta o mesmo dilema moral que qualquer pessoa diante do relacionamento abusivo de uma amiga.

Nossa sociedade é governada por uma tirânica ditadora, constantemente julgando, criticando, oprimindo todas as suas súditas. É ela que decide que “ninguém pode namorar catorze anos sem casar” e que “toda mulher casada deve ter bebê”. Que temos que ser pessoas heterossexuais, monogâmicas, religiosas. Que precisamos ter casa própria, automóvel na garagem, emprego em tempo integral. Essa tirana, entretanto, não possui existência concreta. Ela não tem como fisicamente impor sua vontade sobre nós. Para exercer sua opressão, ela precisa converter suas súditas oprimidas em opressoras policiais do senso comum, ao mesmo tempo vítimas e algozes, eternamente julgando e condenando umas às outras, sempre implementando suas regras, seus julgamentos, suas leis. A 10a prática de atenção é conscientemente deixarmos de trabalhar para a polícia secreta dessa tirana.

Reconhecer o direito das outras pessoas de viverem livres da opressão de nossas opiniões invasivas também é uma maneira de agir politicamente no mundo.

Na caixa de ferramentas mental que utilizamos para solucionar os problemas da vida, temos ferramentas de confronto, de conciliação, de conserto. Lá no fundo da caixa, porém, raramente nos lembramos de uma das ferramentas mais menosprezadas: aceitar a realidade e nos adaptar a ela.

Ser uma boa hóspede é praticamente uma antologia das práticas de atenção: estar presente com nossas anfitriãs de maneira aberta e acolhedora; manter um olhar generoso para com elas, quase sempre tão diferentes de nós; ver em totalidade suas casas, seus objetos, suas regras; ouvir com atenção plena suas histórias e suas vivências; desapegar do Eu, de nossas vontades e de nossas manias, do nosso “jeito certo” de agir; praticar o não conhecimento e nunca presumir nada sobre elas ou sobre como suas casas funcionam; exercer a não opinião sobre sua intimidade e sobre suas regras. Ser uma boa hóspede, em suma, é aceitar a realidade e deixar de ser a constante, sempre uma das mais completas práticas de atenção.

Todas presumem que somos uma constante, e o universo, variável. Afinal, nunca ter gostado, jamais vir a gostar de ruído é uma parte permanente e imutável da essência primordial de Francisco. Diante da enormidade desse fato, naturalmente, só lhe resta mudar o mundo. Mas uma quinta solução para o problema de Francisco seria: 5. modificar-se, se transformando no tipo de pessoa que não se incomoda com esses ruídos. Vivemos em uma sociedade tão egocêntrica e autocentrada que raramente ocorre à maioria das pessoas que uma maneira de resolver qualquer problema é escolhendo tornar-se o tipo de pessoa para quem aquele problema não é um problema.

A 12a prática de atenção é apenas dar-se conta da existência da opção de não sermos sempre os sujeitos, de não sermos sempre as constantes, de aceitarmos a realidade como ela é. Ao considerar possíveis soluções para um dilema, podemos nos perguntar: de que maneira poderíamos resolver essa questão nos tornando o tipo de pessoa para quem esse problema não é um problema? Como boiar até que a correnteza se dissipe? Muitas vezes, talvez na maioria das vezes, não será a melhor solução. Mas, agora, ao menos, sabemos que existe. Está lá, em nossa caixinha de ferramentas.

Mas, se culpa é paralisante, falar de responsabilidade é energizante.

Sermos pessoas privilegiadas não faz de nós as vilãs, as monstras, as inimigas. Não significa que somos culpadas pelos crimes da nossa sociedade outrofóbica. Mas significa que, como beneficiárias desses crimes, temos a responsabilidade de nos tornar parte da solução e não do problema.

Se o privilégio é invisível por definição, a única maneira de percebê-lo é se abrindo para as experiências e relatos das pessoas que o enxergam, das pessoas que sentem a dor da sua ausência. Por isso, quando uma outra pessoa estiver relatando preconceitos que nunca sofremos e nunca sofreremos, a única reação aceitável é ouvir e acolher.

A outra pessoa deve ser tratada não como eu gostaria de ser tratada, mas como ela merece, precisa, deseja ser tratada. E como vamos saber como essa tal outra pessoa merece, precisa, deseja ser tratada? O primeiro passo é sair de mim mesma e deixar de me usar como parâmetro normativo do comportamento humano. Essa é a parte fácil. Depois, preciso abrir os olhos e os ouvidos (na verdade, o corpo inteiro) e reconhecer que existem outras pessoas no mundo, todas bem diferentes de mim, e que o único jeito de perceber o quão diferentes elas são é enxergando-as, escutando-as, conhecendo-as, com atenção plena e empatia verdadeira.

Empatia é estar dentro de outra pessoa, sentir o que ela sente, pensar o que ela pensa.

Empatia vem do grego “em” + “pathos” (sentimento), ou seja, é um penetrar, uma jornada. Entrar em outra pessoa é como visitar um país estrangeiro: temos que passar pela imigração e pela alfândega, caminhando com cuidado, de pergunta em pergunta, de sentimento em sentimento.[45] E, a cada passo, vamos exercitando todas as práticas de atenção: tentamos manter um olhar generoso e ver na sua totalidade essa pessoa, cultivamos o silêncio para poder ouvi-la com atenção plena, nossa postura de não conhecimento e de não certeza nos leva a abraçar a não opinião e a aceitar a realidade.

Assim como não dá para conhecer uma época sem conhecer sua história, não dá para conhecer uma pessoa sem conhecer sua vida.

O nosso Eu não existe, não importa. Não temos opinião: não nos comparamos a ela, não julgamos suas ações, não pensamos no que teríamos feito em seu lugar. Só entramos na prática, quando muito, vista através de seus olhos, de sua visão de mundo, de sua biografia. Como ela nos vê? O que sabe de nós? Como interpreta nossas ações ou palavras a partir de seu ponto de vista?

Para decidir quais objetos do futuro manter, uma boa regra é 60/60: se conseguimos repor o objeto em menos de sessenta minutos, ou por menos de sessenta reais, então, não é um objeto que valha a pena carregar pela vida ou guardar no armário, tirar o pó ou trazer na mudança.

O tamanho de qualquer mala de viagem é diretamente proporcional ao medo da pessoa que está viajando:

Eu vivia com medo, sempre travado no passado, sempre receoso do futuro. Passava meus dias cuidando da minha coleção de objetos do passado (sem eles, o que seria do meu passado, das minhas memórias, da minha história?!) e da minha coleção de objetos do futuro (sem eles, o que seria do meu futuro, das minhas potenciais necessidades?!). Espanava e arrumava, cuidava e catalogava, verdadeiro zelador de um museu-prisão inteiramente dedicado aos meus próprios medos. Enquanto isso, minha vida verdadeira, acontecendo ao vivo e no presente, em tecnicolor e dolby surround, passava por mim quase despercebida. Com obrigações assim tão absorventes, como poderia prestar atenção às pessoas à minha volta?

Foi bom enquanto durou. Tudo é bom enquanto dura. Nada dura.

Há dez anos, minha amiga perguntou: — Por quê? Por que viver assim? Demorei uma década para encontrar uma resposta satisfatória: — Porque acumular menos me permitiu ser uma pessoa menos medrosa e mais atenta, menos defensiva e mais generosa. Se a minha atenção não está sendo monopolizada pelo Museu dos meus Medos, então, estou livre para melhor acolher e abraçar, ouvir e aceitar as pessoas à minha volta.

Se situações de escassez concentram nossa atenção, a abundância ilusória leva ao desperdício:

Somente as minhas ações são os meus pertences verdadeiros. Não posso fugir às suas consequências. Minhas ações são o chão que fazem o meu caminho.

Se uma colega de trabalho me ofendeu hoje à tarde no escritório, essa foi uma ação dela sobre mim e, mais dia menos dia, ela vai pagar o preço: afinal, ela me fez sofrer. Mas, se hoje à noite, fritando na cama sozinha com meus pensamentos, ainda estou remoendo esse insulto e mastigando essa ofensa, então essa é uma ação minha sobre mim mesma e o preço já estou pagando agora, em tempo real: eu estou me fazendo sofrer. Mesmo em um universo tão cruel e tão aleatório, meu maior algoz quase sempre sou eu mesma: meus pensamentos obsessivos, minha mente desordenada, meu apego à minha identidade.

Nosso passado (nossa história! nossos traumas! tudo que fez de nós essas pessoas únicas que somos!) e nosso futuro (nossa sonhada aposentadoria! nosso temido câncer! tudo o que ainda vai nos acontecer!) são tão autoevidentemente relevantes, fundamentais, definidores que, na comparação, o presente torna-se um detalhe inconsequente, uma firula desimportante, um capricho tolo. Entretanto, só o presente existe: todo o resto é invenção nossa, sempre criando narrativas cada vez mais elaboradas para nos permitir fazer sentido de nossas vidas. O presente é tudo o que realmente temos. No hoje, é sempre hoje. No agora, é sempre agora. No passado, nem sempre existi. No futuro, em breve não existirei. No presente, estou sempre vivo, sempre existindo, sempre aqui.

O aqui e agora é um eterno para sempre. O para sempre é um eterno aqui e agora.

Praticamos atenção para observar essa falha acontecendo ao vivo dentro de nós. Afinal, assim como Doisneau voltando em busca da foto perfeita, só podemos voltar ao nosso estado natural de atenção se percebemos que saímos dele. Mas, para isso, é necessário, em um ato consciente de vontade, escolher onde queremos depositar nossa atenção e, fazendo frente a todos os apitos sonoros e luminosos do mundo, voltar sempre para lá.

Não somos pessoas cronicamente distraídas por causa de nossos celulares e da internet. Pelo contrário, inventamos os celulares e a internet, do jeito como são hoje, por causa de nossa distração crônica constitutiva. A meditação não é uma técnica milenar, presente em quase todas as culturas desde o início dos tempos, porque “resolve” um problema surgido em 2007. O Buda, assim como eu e você, nasceu em um mundo onde a meditação já era ancestral e, um dia, ele também decidiu sentar, aprender, praticar.

Nossa consciência é formada por um contínuo de experiências ao qual damos um nome. Por razões práticas, faz sentido distinguir uma pessoa da outra

Tudo é contingente: somos pessoas únicas não porque temos uma pretensa essência metafísica (o Eu!) qualitativamente diferente da essência metafísica das outras entidades que não-são-o-meu-Eu, mas sim porque surgimos a partir de condições únicas e de circunstâncias irrepetíveis.[68] Se o nosso Eu tivesse uma essência, então nossa natureza nunca poderia mudar: o fato de o nosso Eu ser vazio de existência intrínseca é justamente o que nos permite a liberdade de nos reconstruir, recriar, reinventar.

Nossa mão não é alheia à fome do nosso estômago, porque ambos reconhecem fazer parte do mesmo todo, mas somos alheias à fome da pessoa que está ali na calçada, porque não nos reconhecemos como parte do mesmo todo que ela. A desordem existencial devastadora de nossa civilização é ver na fome, no sofrimento, na angústia da outra pessoa um problema alheio a nós. Todas sofremos de Síndrome da Pessoa Alheia.

Quando finalmente enxergamos a miragem do Eu, cuidar das outras pessoas se torna tão natural quanto a mão que automaticamente estanca o sangue da perna que pertence ao mesmo corpo que ela.

A questão não é se eu existo (é claro que eu existo), mas sim que o meu Eu não existe dessa maneira essencial e transcendental como sinto que ele existe, no centro de um universo que gira ao seu redor, observando tudo sempre a partir de sua própria perspectiva.

A afirmação de uma fé nos convida a acreditar ou des-acreditar: a proposta de um método, se acharmos que faz sentido e que pode nos trazer benefícios, nos convida a investigá-lo e vivenciá-lo, testá-lo e corporificá-lo.

O nosso Eu só sabe amar a si próprio: ele foi criado e treinado para premiar quem lhe pode ser útil e punir quem lhe pode ser incômodo. Por isso, não existe como servir e ajudar as outras pessoas a partir de uma perspectiva egoica: o Eu não consegue ser desinteressado, porque nós o inventamos para perseguir nossos (pretensos) interesses a todo custo. É só isso que ele sabe fazer. Quando o Eu ajuda, ele ajuda para parecer uma pessoa boa, para conseguir reconhecimento, para aumentar seu cacife, para ser feliz.

Nós não estamos dentro do nosso corpo olhando para fora: nós somos o universo olhando para si mesmo.

Se afirmamos amar espinafre mas nunca compramos espinafre, nunca colocamos espinafre no prato e, quando o prato vem com espinafre, não comemos… então, não amamos espinafre. Talvez até sinceramente acreditemos que amamos. Talvez até queiramos amar. Mas não amamos. Pelo menos, ainda não. Aquilo que fazemos (não comer espinafre) importa mais do que aquilo que falamos (“amo espinafre!”).

Posso até não ter escolhido ser quem eu sou, mas eu escolho agir como eu ajo.

O que importa é o que fazemos. Por isso, poucos conselhos são mais canalhas do que “seja você mesma”. A maioria dos problemas do mundo veio de pessoas que estavam simplesmente “sendo elas mesmas”. Mais importante do que sermos nós mesmas é sermos quem queremos ser.

O que importa é o que fazemos. Por isso, poucos conselhos são mais canalhas do que “seja você mesma”. A maioria dos problemas do mundo veio de pessoas que estavam simplesmente “sendo elas mesmas”. Mais importante do que sermos nós mesmas é sermos quem queremos ser. Todas as forças do universo nos impelem a nos conformar, a aceitar as regras do mundo, a ceder, a nos moldar. Ser a pessoa que queremos ser é uma luta diária, surda, interna, contra nossos próprios preconceitos, nossas mesquinharias, nossos egoísmos. Ser quem queremos ser é o mínimo que devemos a nós mesmas. Se não somos nem isso, então não somos nada. Decidir ser uma pessoa mais empática, mais atenciosa, mais cuidadosa, entretanto, é fácil. Ser de fato essa pessoa, todos os dias, sistematicamente, é muito mais difícil.

A única coisa que conta como primeiro passo é efetivamente dar o primeiro passo. Saber que dar o primeiro passo é importantíssimo não é dar o primeiro passo. Pelo contrário, quase sempre é uma maneira de não dar passo algum. Sem compreender a diferença entre aquilo que acontece dentro de nós (sentir, reconhecer, pensar) e aquilo que efetivamente fazemos no mundo (lutar, dar passos etc.), jamais transformaremos a realidade.

“Reconhecer privilégios”, “cultivar empatia”, “despertar consciência” são excelentes chavões para colarmos em cima de fotos do pôr do sol e ganharmos biscoito na internet, mas falta fazer o bolo. Sentirmos tudo isso, e não fazermos nada, é tão patético, tão inútil, tão ridículo, quanto comprar os ingredientes, postar a foto (#fica-vai-ter-bolo) e nunca fazer o bolo. Só um passo é um passo.

“Ter consciência” não é algo para se gabar: é um privilégio que traz consigo responsabilidades.

Quem está “presa” na Prisão Monogamia não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de viver relacionamentos monogâmicos, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, vive relacionamentos monogâmicos por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é viver a Monogamia, mas ignorar a realidade que existe além dela.

Nenhum ato pode ser mais político e mais transformador do que enxergarmos e cuidarmos umas das outras. Cuidado sem atenção, porém, é no mínimo superficial, quase sempre equivocado e às vezes até nocivo. Já atenção sem cuidado, a empatia sem ação efetiva, não passa de um capricho complacente de pessoas privilegiadas.

O que é então outrofobia? Bem, alguns dos maiores problemas sociopolíticos de nossa época, como o machismo e o racismo, a homofobia e a transfobia, o capacitismo e o etarismo, têm origem em uma rejeição fundamental ao Outro, ou seja, à pessoa que é diferente, à pessoa que não sou eu.


E, se o privilégio é invisível por definição, então, a única maneira de percebê-lo é se abrindo para as experiências e relatos das outras pessoas, das pessoas que o enxergam, das pessoas que sentem a dor da sua ausência, ouvindo-as e abraçando-as, aceitando-as e acolhendo-as, sem interpelar nem minimizar. Em outras palavras, dando a elas nossa atenção.

Praticamos atenção não como um autocuidado, mas como um ato político. Praticamos atenção para lutar contra a Outrofobia.

Ao longo desses dezessete anos de escrita profissional, sete livros e diversos artigos publicados, o livro que ainda não consegui terminar foi justamente o mais pedido: o tal livro das Prisões. Eu não conseguia terminá-lo porque o projeto em si transformou a pessoa que eu era e, ao me transformar, também se transformou.

A própria série mudou de nome diversas vezes. Em um primeiro momento, troquei “aulas” por “exercícios”. (Quem sou eu para dar aulas de empatia?) Depois, troquei “empatia” por “atenção”. (Empatia é passiva e paroquial demais, como falo na 20ª prática, Dar o passo.) Finalmente, troquei “exercícios” por “práticas”. (Exercícios são atividades chatas que fazemos por obrigação, práticas são atividades transformadoras que moldam nosso estilo de vida.)

A literatura se justifica pedagogicamente porque ela ensina alteridade. Na adolescência, época formativa e impressionável, fase mais egocêntrica do ser humano, é fundamental a habilidade criativa de ser outras pessoas, de viver outros mundos, de criar outras histórias. Estamos todos acostumados a exercitar músculos e capacidades. Exercitamos os bíceps e exercitamos a memória. Por que não exercitar a empatia? Os exercícios não vão ser fáceis. Como sabem os malhadores, é preciso primeiro levar o músculo ao colapso, para que ele então se regenere e volte mais forte.
comentários(0)comente



Vinicius 28/04/2019

Resenha: atenção., de Alex Castro
A resenha de hoje é em parceria com a editora Rocco. O livro que escolhi é do selo Bicicleta Amarela. O qual será meu favorito na hora de escolher livros para parceria. Quando Mayara me enviou o e-mail com os livros lançamentos fui pesquisar a sinopse e o interesse foi instantâneo. Alex Castro é ??????? Então, não sei quem é Alex Castro e provavelmente nunca serei capaz de saber. O autor, em entrevistas, diz que é escritor de ficção e seu trabalho é contar mentiras, dentre elas a sua própria biografia. Em seu site oficial existem seis versões sobre quem seria ele. Praticamente um Fernando Pessoa. Eu achei de fato muito interessante tal perspectiva, visto que, muitos atribuem significado da ficção ao autor, mas nem sempre é assim.


Contudo, do que fala atenção.? Começo falando que o livro não é uma espécie de romance, conto e nem narrativa do gênero. É como um manual para repensarmos nosso comportamento no dia a dia, com um caráter totalmente transformador e que, durante minhas leituras, expandiu minha percepção de mundo sobre diversos assuntos. A obra traz 20 práticas para praticarmos a atenção. Cada uma com um certo grau de dificuldade. No final da introdução, o autor define que “Tudo nesse livro é difícil. Difícil é lutar contra nossos piores impulsos e resistir às tentações do caminho, para, um dia, quem sabe, conseguirmos ser as pessoas que queremos ser.” (CASTRO, 2019, p. 38)

Confesso que senti falta de um conceito do que seria atenção para o autor. Mas, certamente, os exemplos de direcionamentos dele são impactantes. Primeiramente, ele expõe que nossa atenção está sempre centrada no problema mais urgente, com isso, esquecemos de ver o outro. Depois, é mencionado alguns aspectos do que seria a Autoajuda, que, na verdade, a melhor definição seria outroajuda. Pois, afinal, nunca precisamos melhorar para nós mesmos, mas para conviver com o outro. É aquele meme: “Fazer terapia para lidar com pessoas que necessitam de terapia”.

Na introdução, o autor fala um pouco sobre si e reconhece seu local de fala como uma pessoa privilegiada:

Só pode escrever sobre um problema quem o sente na pele (p. 24)

Esse quote certamente é um dos mais fundamentais da obra e achei muito importante vir explicitado no início. Vivemos em tempos de Outrofobia, conceito este definido pelo próprio autor em outra obra com o mesmo nome. O termo genérico é utilizado para abarcar diversos tipos de preconceito ao Outro, como machismo, racismo, homofobia, elistismo, transfobia, classismo, gordofobia, capacitismo e intolerância religiosa. O cenário político atual fala muito sobre o retrato do brasileiro (em geral).

Afinal, somos as protagonistas do grande filme da nossa vida, repleto de figurantes que não se importam, com um punhado de coadjuvantes que entram e saem de cena, tudo coroado pela brilhante narração em off dos nossos fulgurantes ó-tão-importantes pessoas. p. 70

Portanto, por ora, posso classificar esse livro como uma das melhores leituras feitas por mim esse ano. As lições estabelecidas por ele cheguei a usar na construção do meu estágio supervisionado da faculdade e a lição didática sobre privilégios usarei com meus alunos da residência pedagógica. Uma leitura mais que necessária nos dias atuais. Recomendo demais.

site: https://silenciocontagiante.wordpress.com/2019/04/26/resenha-atencao-de-alex-castro/
comentários(0)comente



cintilanti 20/08/2019

Um livro necessário
Esse é daqueles livros que te impactam desde o princípio e que já na metade vc está "transformado" de alguma forma e ao final vc só quer recomendar a todos. Ele é prático, ácido e necessário e nos traz verdades urgentes de serem trabalhadas além de ser um guia de práticas. Leiam amigos ;)
comentários(0)comente



Amanda262 23/06/2020

Todo mundo deveria ler esse livro. Talvez não seja do gosto de todo mundo, mas acho que é uma leitura necessária.
Cada página, cada capítulo era um tapa na cara.
Mas eu amei.
comentários(0)comente



bia :) 17/10/2020

devorei o livro.
um livro honesto. há sinceridade nas palavras do autor, que parecem ter um propósito verdadeiro: o de se mostrar como uma coisa real, falhas & todo o resto, nesse desafio infinito de romper-se consigo para ser inteiro com o mundo, com o outro. uma leitura generosa, reflexiva, altruísta, política. recomendo forte.
comentários(0)comente



Vitoria 29/12/2021

Livro de cabeceira
Atenção precisa ser um livro de cabeceira, lido e relido, porque as 20 práticas de atenção que Alex Castro propõe são difíceis, embora à primeira vista possam parecer muito simples. O livro é recheado de provocações, que propõem novas perspectivas para a relação com o mundo.

O objetivo é que nos afastemos do entendimento e nos aproximemos da aceitação amorosa e generosa, que nos permita estar verdadeiramente disponíveis para o Outro. Antes, porém, precisamos entender que Eu e Outro são conceitos ilusórios. O mundo não gira em torno do Eu. Minha opinião, meus valores, minhas verdades não podem ser a régua de medir o mundo, nem as lentes através das quais eu enxergo as outras pessoas.
comentários(0)comente



Paulinha 12/06/2023

Indicação de leitura
Um livro que aborda questões interessantes, embora incômodas, e propõe práticas difíceis, mas importantes.

Mostra o quanto a humanidade no geral é egocêntrica e mesquinha, o quanto o EU é importante mas principalmente traz dicas práticas de como melhorar um pouco isso.

Mostra claramente a questão dos privilégios, e na fila do privilégio sempre tem alguém que é mais ou menos privilegiada que você, e reconhecer isso não te tira nada, não te diminui.

"Reconhecer os privilégios invariavelmente, acaba caindo na questão da culpa, uma imensa culpa por nossos privilégios, revelados assim tão concretamente, de maneira tão inescapável. Mas essa culpa, além de ser falsamente atribuída, não leva a nada. Não somos culpadas por nossos privilégios. Eles são resultados de ações tomadas muito antes de nascermos.

Sermos pessoas privilegiadas não faz de nós as vilãs, as monstras, as inimigas. Não significa que somos culpadas pelos crimes da nossa sociedade outrofóbica. Mas significa que, como beneficiárias desses crimes, temos a responsabilidade de nos tornar parte da solução e não do problema."

Enfim, super indico essa leitura, uma pessoa sozinha não muda a sociedade, mas muda o mundo das pessoas que ela passa a sentir como iguais, que passa a enxergar e tratar como partes iguais de um todo.

5? ??
comentários(0)comente



Lucas.Avelar 11/01/2021

"Sem atenção, não há cuidado"
Eu acompanho o Alex desde o Papo de Homem e continuo me encantando com a sua sensibilidade, com sua profundidade e, porque não, com suas ironias e provocações.

O que eu mais gostei é que ele adota uma postura de não detentor do saber, de sabichão ou guru que dominou os segredos da vida após anos de meditações embaixo de uma cachoeira.

O livro apresenta inúmeras práticas desenvolvidas pelo autor ao longo dos anos em seus encontros. Com total inspiração e origem no zen budismo, atenção nos descreve uma ideia simples e poderosa: "sem atenção, não há cuidado", que eu coloquei como título.

Atenção que só pode ser praticada no dia a dia entre as pessoas do nosso cotidiano, repensar, rever formas de ver o mundo mas, acima de tudo, doar-se ao outro para que esse outro não tenha que conviver com alguém mesquinho, cheio de raiva e egoísta - e não por "ser alguém melhor" apenas para si, afinal só existe o universo.

Aprecio a posição falível na qual o autor admite que se encontra, que as práticas são difíceis até para ele, alguém tão cheio de defeitos quanto aquele que lê avidamente em busca de respostas (estado em que eu me encontrava ao ler). E isso situa-nos em um mesmo plano, naquele em que não há "meu problema", mas sim "nosso".

Tenho muito o que pensar e mais ainda o que fazer, mas isso já não é responsabilidade de quem escreveu a obra.
comentários(0)comente



Isabella Falcão 09/04/2022

Leitura transformadora
Me recomendaram esse livro com a promessa de transformar a maneira como vemos o mundo, como nos relacionamos com as pessoas e, sobretudo, como lidamos com nós mesmos. Logo na primeira página, me peguei refletindo sobre vários temas que nunca havia pensado antes... Com uma linguagem acessível e fluida, Alex Castro nos convida a praticar a empatia, a sensibilidade no olhar sobre o outro e a reflexão de como podemos evoluir como seres passageiros no tempo e no espaço.
comentários(0)comente



Michele Alberton 10/11/2022

Muito bom!
Eu já leio os artigos do Alex pelo Substack, e são sensacionais. E esse livro é uma preciosidade, dá vontade de presentear todo mundo! São 20 lições que nos fazem refletir muito. O mais interessante, pra mim, é que os textos falam sobre cuidar do outro, cuidar do próximo. Atualmente há tanto foco no autocuidado e no autoconhecimento que é uma grande alegria encontrar algo que fala sobre o cuidar do outro.
Indico demais, é excelente!
comentários(0)comente



Amora28 07/02/2024

Teoria e Descrição Pessoal
Achei o livro bom e muito informativo. Mas senti falta de algo mais impessoal. O autor comenta muito sobre as práticas para a Atenção. Mas o faz apenas olhando para si, como ele tenta fazer e como ele interpreta casa ensinamento para tal pratica. Senti falta de opiniões de outras pessoas , talvez algumas entrevistas e explicações de como é tal pratica pra tal pessoa que também pratica tais ensinamentos para dar uma melhor percepção. Mas no fim talvez isso seja proposital para que não fiquemos na leitura de apenas um livro sobre o assunto? Se sim foi uma ótima forma pois sinto que preciso buscar mais livros que falem sobre o tema pra que eu possa realmente começar a entender e decifrar como por em prática para minha vida. ?
comentários(0)comente



Ingsson.Vasconcelos 21/04/2022

Um livro pra ler com os filtros no lugar.
É um excelente livro, com reflexões importantíssimas e que me trouxe (e continua trazendo) questionamentos que não viriam naturalmente.
Quando digo sobre filtros é por achar que certas lições do livro não me servem, mas sobre isso o próprio autor já falou e melhor do que eu, quando aborda o fato que o livro em questão não é pra ser uma lista de leis, mas de recomendações, em que cabe ao leitor filtrar o que lhe faz sentido ou não.
Pretendo reler no futuro e ver quanto de mim sobrou e quanto de lá absorvi.
comentários(0)comente



16 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR