Da Democracia na América

Da Democracia na América Alexis de Tocqueville




Resenhas - Da Democracia na América


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Cesar Kucker Martins 06/03/2021

Um livro excelente, apresenta a história, os costumes e o pensamento que compõem o povo americano. Neste livro se tem uma noção de dentro para fora da ideologia deste povo. Indiscutivelmente uma obra prima da literatura histórica.
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Fortunato Barbosa 16/05/2022

Um Clássico indispensável sobre a história da Democracia Americana
Já fazia alguns anos que havia comprado este livro e não havia lido. Confesso que, quando comprei o livro, esperava uma leitura maçante e arrastada, já fui com esse pensamento para garantir que não procrastinaria na leitura. Mas não foi o que encontrei. Desta forma, quero pontuar os principais pontos da obra, na minha opinião.

Tocqueville começa o livro tratando dos antecedentes históricos da Democracia Americana, explicando como os emigrantes ingleses chegaram na Nova Inglaterra e qual era a visão de mundo desses peregrinos. Eles eram em sua maioria puritanos, que saíram da Inglaterra em busca de liberdade religiosa para cultuar a Deus sem que fossem impedidos pelo Estado. Para quem está familiarizado com Teologia, verá que esses cristãos protestantes tinham uma visão otimista da Nova Inglaterra, onde conseguiriam implantar logo no início das comunas as leis de Deus na sociedade, sobre todos os aspectos, enxergando naquelas terras uma oportunidade que o Deus de Israel estava dando a eles para viverem a Sua vontade. Tocqueville cita alguns dizeres desses primeiros peregrinos, que fica muito claro a percepção Escatológica e da Providência Divina. Eles não estavam indo por ir a Nova Inglaterra, estavam sendo guiados pelo Senhor para desbravar e conquistar uma promessa. E isso faz toda a diferença, diz Tocqueville. Porque eles colocavam suas vidas em riscos e as sacrificavam nessa labuta. Eles tinham convicção de que Deus era com eles. Esse elo divino entre os primeiros peregrinos e a Nova Inglaterra perpassará por toda a obra do autor. Tocqueville frequentemente fará ligações sociais, educacionais, políticas e nas leis a religiosidade americana. As primeiras leis da Nova Inglaterra eram pautadas na Bíblia. Uma parte interessantíssima é a visão puritana da Educação. O autor diz que os puritanos enxergavam na ignorância uma oportunidade diabólica para alienar o povo da vontade de Deus. A instrução era justamente para afugentar qualquer estratagema de Satanás.

O deslumbramento de Tocqueville sobre os EUA fica nítido na sua escrita. Ele faz constantemente comparações entre a Democracia Americana e as Europeias, mostrando as suas diferenças. Ele sempre desenvolve o seu raciocínio mostrando como funciona um país Aristocrático como a Inglaterra, mostrando na prática como isso impacta a vida, o cotidiano, as motivações, o povo em geral, diferente de uma Democracia. Aliás, Tocqueville sempre coloca Inglaterra e EUA lado a lado para mostrar suas diferenças, começando pela forma como o povo americano se organiza em comunas, e como o Estado não tem poder sobre o indivíduo. Os Estados dos EUA possuem uma independência da União. A União é enxergada como um mal necessário. Ela cuida praticamente de assuntos que envolvem a segurança nacional, mas, Tocqueville pontua que a recém Democracia Americana possuía uma localização geograficamente privilegiada, distante do amontoado de países europeus e suas confusões que são idiossincrasias da região. Ele diz que os americanos podem se aproveitar da experiência do passado, sem trazer consigo as suas lutas e guerras. Sem vizinhos, os EUA não precisavam investir pesadamente em Exército e frota de Navios.

Os americanos estavam obcecados pelo sucesso e crescimento, que qualquer minuto era considerado uma oportunidade perdida de viver algo diferente. A Indústria se desenvolveu muito, justamente por isso, era o meio mais rápido de ascender socialmente. Nos EUA, as pessoas cresciam e caíam constantemente socialmente, sem serem afetadas. Tudo era novo, tudo era possível, sempre havia mais a se fazer. Havia um sentimento de se conquistar algo que ainda não foi conquistado. O americano tinha um orgulho quase cego do seu país. Não gostava e não queria ouvir qualquer crítica a sua nação. Tudo e todos tinham que cooperar para o sucesso da sua terra. Eles queriam coisas práticas, o funcional, não o teórico e especulativo. Não tinham tempo para isso.

Há uma parte do livro dedicada exclusivamente a Constituição Americana. Há também outras partes falando das constituições e leis dos Estados individualmente. O Sul do EUA se sustentava na escravidão, e essa é uma parte que Tocqueville antecipa, a futura guerra civil que haveria por causa disso. Ele mostra como a questão da escravidão nos EUA é um paradoxo social, como as contradições conseguiam viver juntas, inclusive fazendo uma autocrítica ao Cristianismo, onde, sendo justamente a fé cristã que elevou o homem a imagem de Deus e contribuiu para o fim da escravidão do mundo, agora, vendo cristãos vivenciando tudo aquilo. Tocqueville não deixa de fora os índios, mas ele mostra como os índios foram muito melhores tratados na América do que nos países latino-americanos pelos Espanhóis. Ele relata como os americanos compravam as terras dos índios e não maltratavam eles. Porém, tanto o índio quanto o negro, ficavam a margem na sociedade, pois não tinham o conhecimento do americano.

Algumas curiosidades e generalidades:
- O testemunho de um incrédulo em um tribunal não era válido, Tocqueville cita um caso inclusive;
- Ele cita que o casamento nos EUA foi onde alcançou o maior grau de louvor e glória no mundo, inclusive sobre as mulheres sendo tratadas com muito respeito no seio familiar e sendo muito bem esclarecidas sobre as atribuições com esposa e mãe. O divórcio era uma anomalia;
- Não haviam editoras que quisessem publicar livros com conteúdo pecaminoso;
- Os americanos gostavam de falar de política e estavam sempre inteirados sobre o que estava acontecendo no seu país;
- Mesmo no meio de florestas era possível encontrar em cabanas um exemplar da Bíblia e obras de Shakespeare com os americanos;
- O povo americano era uma refutação viva contra autores europeus que afirmavam ser as luzes e o conhecimento o inimigo da religião. Ou seja, conforme o povo fosse mais esclarecido e livre, menos religioso seria. Tocqueville disse que os americanos eram o povo mais esclarecido, livre e religioso que conhecia. Eles não enxergavam a sua liberdade sem a sua fé, estavam interligadas;
- Haviam tempos que americanos largavam tudo e iam ouvir pregações em florestas e lançar mão das coisas terrenas em direção ao Céu;
- Tocqueville antecipa a rivalidade entre EUA e Rússia, dizendo que seriam no futuro essas duas potências que se enfrentariam. Surpreendente.

Tocqueville elogia tanto os benefícios da Democracia, quanto suas dificuldades e limitações. Ele fala muito sobre a questão da liberdade e igualdade que ela gera, mas também de como o indivíduo precisa da massa para ter voz, podendo até ser pisada por ela. A escrita é clara, não é difícil, bastante detalhada e analítica. Essencial para quem gosta de história e política.
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