Coisas de Mineira 24/05/2020
O Lado Obscuro, da minha já querida Tarryn Fisher, é um livro forte. Um livro que faz a gente pensar. Contém uma história muito forte, e que provavelmente não agrade àqueles que preferem leituras de gênero mais leve. Aqui se é tratado vários assuntos, entre eles: Vida, Morte, Dor, Abuso, Traumas, Abandono, Sequestro, Prisão, Dor, Câncer, Mutilação, Solidão, Amor… E muito mais.
“Uma pessoa pode atacar você e usar o seu corpo, bater nele, trata-lo como se fosse lixo; no entanto, o que muito mais do que a agressão física em si é a escuridão que esse ataque espalha dentro de você.”
Tarryn Fisher tem um dom. Ainda bem que essa mulher resolveu que além de maravilhosa, ela também seria autora. Eu sou muito satisfeita em ter conhecido suas obras, e por ter podido me deleitar em obras bem construídas, e sempre com aquelas lições implícitas. Fisher não se importa de cutucar a ferida. E ela gosta de arrancar a casca quando o machucado tá cicatrizando também. Não perdoa… Você irá perceber isso em O Lado Obscuro, se ainda não havia percebido em outros de seus livros.
Em uma história de partir seu coração, iremos conhecer Senna Richards, que acorda na manhã de seu aniversário de 30 anos em um local que não reconhece. E a partir daí, Fisher começa com seu fluxo de informações, onde durante muitas páginas, não conseguiremos compreender direito o que está acontecendo. Nem a gente, nem Senna.
O Lado Obscuro não é um livro fácil de resenhar, porque acredito que essa história “bate” nos conteúdos internos de cada leitor de uma forma. Também porque qualquer deslize que eu cometa, eu possa vir a roubar um pouco da sua experiência em lê-lo. Ah! Se você poderá sofrer com essa leitura uma vez que tenha dificuldade com temas como, sequestro e estupro, talvez não seja uma obra para sua apreciação. Ele é sim um livro com muitos gatilhos. Então tome cuidado, e só continue lendo se estiver tudo bem para você.
“Quando você permite que uma pessoa entre na sua casa para verificar se há um bicho-papão escondido, você também está inconscientemente deixando essa pessoa entrar na sua vida.”
Iremos, página a página, descobrir que é necessário que Senna desvende algumas verdades. Pistas até que existem muitas. Mas, respostas… Essas ela não tem. Conforme vamos percebendo, nem a gente! Começamos a mergulhar na mente da autora, e nas dificuldades da protagonista. Senna está presa em uma casa, que aparentemente tem tudo o que ela precisa para sobreviver. Mas, ela é uma prisioneira. Senna não sabe nem onde está muito menos como foi levada até ali.
Juntamente com Senna, outra pessoa também está aprisionada nessa casa. Porém, diferentemente de Senna, essa pessoa está amarrada. Então… Esse alguém foi uma pessoa muito importante do/no passado de Senna. Alguém anteriormente lhe prestou socorro, cuidado e foi alívio em uma fase tenebrosa da vida da escritora. Até não ser mais.
“Você pode perseguir o corpo de uma mulher, mas esse predador estava perseguindo a minha mente.”
Agora, Senna e Isaac precisam ficar atentos a toda e qualquer pista nessa casa. Porque ao que parece, as respostas do por que eles estão ali, não será entregue “de bandeja”. E uma das coisas mais complicadas nisso tudo, é que Senna é uma mulher cheia de reservas e traumas. Ela não se abre muito ao mundo. Sofreu abuso e abandono. Tudo nela tem “cara” de dor. Uma mulher coberta de cicatrizes por dentro e por fora. Marcas no corpo, e na alma. Embora Isaac a conheça melhor que praticamente todo mundo.
Assim, sofremos igualmente a cada página com Isaac e Senna, em buscas de respostas. Quem teria sido capaz de fazer isso com eles? Quem conheceria a autora tão bem, que lhe confinaria ‘sabe Deus onde’, com uma das poucas pessoas que conseguiram se aproximar dela? E qual o motivo, portanto, de estarem ali, isolados, e contando meses após meses talvez desejando até a morte, do que continuar por ali?
“A espera pela morte é a pior forma de tortura que uma pessoa pode imaginar.”
Essa narrativa, sobretudo, perpassa diversos momentos da vida dos aprisionados. Iremos conhecer uma Senna devastada e cheia de feridas. Iremos conhecer um Doutor Isaac Asterholder que está sempre no lugar certo, nas horas necessárias. E iremos tentando formar um grande quebra cabeças com todas as peças que despontam ao passar das páginas. A verdade é que não conseguimos concluir muita coisa desse mistério todo, até que Fisher decida que devamos descobrir.
“- A pessoa que fez isso, seja lá quem for, é louca. Tentar encontrar sentido nas intenções de um louco também é loucura.”
Concluo assim, certa de que Fisher é uma escritora brilhante (e FASCINANTE!). Alguém capaz de tocar o íntimo do seu leitor apenas com palavras. Suas histórias são sempre pungentes. Estão sempre nos mostrando em quais lados estão às coisas boas do mundo, pois ela expõe o pior do ser humano. Finalizo aqui sim, porém sedenta em ler sua próxima obra. E vida longa a Tarryn Fisher. Suas obras merecem um lugar ao sol, mesmo que sempre esteja escrevendo o lado sombrio, O Lado Obscuro do mundo.
Será que o que acontece na casa/cabana abandonada no meio do nada, cercado de neve e abismo, ficará pra sempre somente lá?
Tarryn Fisher nasceu em Johanesburgo, na África do Sul. Quando tinha 13 anos, ela e seus pais emigraram para os Estados Unidos. Viveu na Flórida, se formou em Psicologia, teve dois filhos e escreveu seu primeiro romance. Depois disso, juntou a família toda e eles se estabeleceram em Seattle, Washington. Um dos lemas de Tarryn é: “Eu sou uma escritora e palavras são minhas armas”. Nós acreditamos!
“- Qual a diferença? – perguntei. – Entre o amor da sua vida e a sua alma gêmea?
– Um você escolhe, e o outro não.”
Por: Carol Nery
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