Ana 31/08/2021
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Irmãos, que livro é esse??!!?......
A priori, tenho que dizer que acompanhar o raciocínio de Han exige um esforço quase sobrenatural, tendo em vista que ele trabalha a ideia de meio mundo de filósofos. Além de atenção, exige uma bagagem intelectual significativamente grande para poder compreender, de fato, o que ele diz.
Tive dificuldades para ler esse livro. Comecei ele no início de 2021 e tive que recomeçar para poder entender. Hoje, consegui compreender um pouco mais do que ele disse sobre a concepção de poder - coisa que eu não consegui há meses atrás.
Bom, nesta obra Han traz diversas perspectivas de filósofos como Habermas, Foucault, Arendt, Heidegger, entre outros, acerca do que é poder.
O livro, sendo um ensaio bibliográfico que conflui todas essas visões, também apresenta uma terceira via sob a interpretação de Byung-Chul Han, algo que caminha entre a negatividade e a positividade. É interessante destacar também que o autor disseca o poder em cinco fases: lógica, semântica, metafísica, política e ética do poder.
De início, Han escreve a respeito entre o ego (eu) e o alter (outro) e como isso estabelece uma relação de poder - que mais tarde ele demonstra na figura do senhor e do escravo. Ou seja, para que haja poder, é necessário um ambicioso e alguém que se submete às ordens ou vontades. Nesse sentido, Han deixa bem claro que o poder anda de mãos dadas com o sentimento de liberdade e que, se o detentor do poder precisa fazer uso da violência para mostrar a sua força, é porque seu 'poder' já está enfraquecido. O verdadeiro poder não faz uso da violência. O verdadeiro poder te influencia, chegando de fininho, e você nem sente, porque já absorveu tudo como se fosse ideia própria. Há um poder estrutural que cobre o mundo tais quais as nuvens do céu.
Tem muita coisa boa nesse livro. Não vou dizer tudo, mas destaquei uns trechos que gostei muito:
1. Quanto mais poder tem um poderoso, mais dá instruções em relação ao assessoramento e à participação do subalterno. Ele pode mandar bastante. Mas, por causa da complexidade crescente, na prática o poder é transmitido aos seus consultores que acabam por lhe dizerem o que ele deve mandar. As múltiplas dependências do poderoso tornam-se fontes de poder para os subalternos. Elas levam a uma dispersão do poder estrutural. (destaque ou posição 72-75)
2. O poder não é o oposto da liberdade. É justamente a liberdade que diferencia o poder da violência ou da coerção. (destaque ou posição 121-122)
3. "Exercer violência física não é uma prática comum do poder, pois expressa sua falência [...]” - Pensamento de Luhmann (destaque ou posição 145-146)
4. A violência nua visa a liquidação completa da alteridade. (destaque ou posição 270-271)
5. Entre seres humanos que se matam uns aos outros, o poder não tem lugar. Há apenas uma diferença de força física. O poder autêntico ocorre, na verdade, quando um deles, seja por medo da morte possível ou antecipando a superioridade física do oponente, se submete a este. Não a batalha que leva à morte daquele, mas a sua ausência é o que constitui o poder em sentido autêntico. (destaque ou posição 283-286)
6. O poder aumenta sua eficiência e estabilidade ao ocultar-se, ao se passar por algo cotidiano ou autoevidente. (destaque ou posição 535-536)
7. Ao ser perguntado sobre se a filosofia teria algo a dizer sobre o porquê da tendência do ser humano de exercer o poder, Foucault respondeu que quanto mais livre forem os seres humanos em suas relações uns com os outros, maior será seu desejo de determinar o comportamento dos outros. (destaque ou posição 740-742)
8. Nada lúdica é a cobiça por mais e mais que, segundo Heidegger, é característica do poder: “O próprio poder é apenas na medida e enquanto for um querer-ter-mais-poder. Assim que essa vontade deixa de existir, o poder já não é mais poder, mesmo que o dominado ainda o tenha pela violência”. (destaque ou posição 749-752)
9. O poder promete liberdade. O poderoso é livre, pois consegue estar totalmente em si no outro. (destaque ou posição 943-944)
10. A expressão corrente “poder das mídias” é enganosa. As mídias formam, na verdade, para utilizar a expressão de Schmitt, uma órbita de influências indiretas. Falta-lhes uma estrutura intencional explícita. O espaço das mídias é difuso e disperso demais. Em sua totalidade, não são comandadas por um agente ou instituição determinados. A dispersão e difusão estrutural que lhes é inerente não permitem uma atribuição explícita. São agentes e intenções diferentes demais que povoam o espaço midiático. (destaque ou posição 1132-1136)
11. As mídias podem ser cobradas pela ação no interior de uma estratégia do poder. Mas podem também operar de maneira desestabilizante para a ordem dominante. Por esse motivo, o poder totalitário procura ocupar os espaços midiáticos. (destaque ou posição 1139-1141)
12. Sem poder, sem o consentimento dos outros, a revolução está fadada ao fracasso. (destaque ou posição 1156-1157)
13. Hegel escreve: “[...] embora o estado possa surgir pela violência, ele não se baseia nela [...]. No estado, o espírito do povo são o costume, a lei e os dominantes”[159]. O poder do espírito consiste, para Hegel, em gerar um nós, uma comunidade, uma continuidade que implique e inclua a todos. (destaque ou posição 1160-1162)
14. Hannah Arendt tem bastante consciência da espacialidade do poder quando escreve: “O poder é o que nunca chega pelo cano da espingarda”. (destaque ou posição 1164-1165)
15. O poder do escravagista é a supremacia de um grupo graças a uma “organização refletida”, ou seja, graças a uma estratégia efetiva. Não é um poder comunicativo orientado pelo entendimento, mas sim um poder coletivo orientado pelo êxito. (destaque ou posição 1227-1229)
16. Nesse sentido, a violência sempre pertenceu aos meios da conquista do poder e da afirmação de uma posse do poder”[182]. Essa violência exercida na ação estratégica não é, certamente, uma violência aberta, mas uma violência que sabe até mesmo se disfarçar de poder legítimo. Habermas a chama de “violência estrutural”, que ergue discretamente os “bloqueios comunicativos”: “A violência estrutural não se manifesta como violência; ao contrário, ela bloqueia desapercebidamente as comunicações nas quais se formam e se reproduzem convicções legítimas. [...] ela pode tornar plausível que se formem convicções com as quais os sujeitos se enganam, bem como estão enganados de sua situação. [...] Nas comunicações sistematicamente limitadas, os participantes formam, subjetivamente e sem coerção, convicções, mas que são apenas ilusórias; com isso, gera comunicativamente um poder que, logo que for institucionalizado, pode ser utilizado contra os próprios participantes”. (destaque ou posição 1290-1298)
17. O processo da globalização afrouxa a ligação territorial do poder. Estruturas de poder transnacionais que parecem “quase-estados” não estão vinculados a nenhum território. (destaque ou posição 1412-1414)
18. A localização significa a criação de um espaço organizado de maneira ipsocêntrica que reúna e recolha tudo para si. (destaque ou posição 1415-1416)
19. O mercado global não tem mais formação terrestre. Mas não torna, com isso, a localização supérflua. (destaque ou posição 1425-1426)
20. A exploração não pertence a uma “sociedade primitiva e deteriorada ou imperfeita”. Como “função orgânica fundamental”, ela pertence à “essência da vida”. Ela é uma “consequência da autêntica vontade de poder que é vontade de viver”. Todo corpo vivo quer “crescer, expandirse, aumentar, ganhar peso”, e “não por alguma moralidade ou imoralidade, mas porque ele vive, e porque viver é vontade de poder”. - Pensamento de Nietzsche (destaque ou posição 1528-1531)
21. O poder possivelmente nunca estará livre de uma sensação de escassez. (destaque ou posição 1605-1606)