Religião sem Deus

Religião sem Deus Ronald Dworkin




Resenhas - Religião sem Deus


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Leonardo1263 15/02/2024

O Maravilhamento pela Criação
Meus posts aqui da aba FILOSÓFICOS na verdade abrange todo tipo de tema que nos convide a refletir a partir de uma obra especifica. Hoje quero convidar você a conhecer um ótimo livro intitulado RELIGIÃO SEM DEUS, escrito pelo filósofo RONALD DWORKIN. O autor tem por missão explicar o conceito de religião de uma forma menos emocional e mais pragmática. É possível termos uma religião sem Deus? O que Deus representa nessa equação? Existe um Deus sem uma religião para representá-lo?

O autor já começa nos desafiando quando apresenta que dependendo de nosso ponto de vista, a religião pode ser mais importante do que Deus. A religião em si, muitas vezes é uma cosmovisão extremamente representativa, que pauta alguns valores, escolhas, nos guia por uma série de códigos éticos e morais, que buscam explicar a ordem do universo e como surgiu. Mas nem sempre é necessário que tenha um Deus no meio de tudo para selar e validar a teoria. Há aqueles que acreditam que é há um Deus por trás da criação de tudo, mas não conseguem aceitar religião alguma como correta, são os chamados ateístas-religiosos.

O ateísmo ainda é um ponto mal visto pela sociedade. Por termos (no ocidente) uma série de valores cristãos, ao se declarar ateu a pessoa pode não convencer de que possui bons valores para a sociedade. A exemplo apresentado no livro, candidatos políticos que se declaram ateus, não conseguem convencer seu eleitorado de que ele(a) é uma boa pessoa. A tática de usar Deus/religião como selo de qualidade, ainda convence uma grande parcela, que espera que aquela pessoa tenha valores e pense igual aos que frequentam certa religião.

Ainda sobre valores, temos a explicação da atitude religiosa (que não necessariamente está atrelado exclusivamente a algum deus). Nesse ponto aceita a verdade objetiva em dois juízos centrais. O primeiro em acreditar que a vida humana tem sentido em si, e que somos responsáveis pelo nosso destino e nossas conquistas. O segundo ponto é que a natureza está posta, tudo que existe está para ser contemplado e tudo é digno de maravilhamento. A partir desses pontos, cada religião adapta a origem ao seu bel-prazer.

“SE ENTENDERMOS O BEM VIVER COMO UM FIM EM SI MESMO, A FUNÇÃO INICIAL E PRINCIPAL DE TAL DEUS NÃO É A DE RECOMPENSAR E PUNIR, MAS DE INSTRUIR, GUIAR E JULGAR.

OS QUE ABRAÇAM O DEUS DA CAPELA SISTINA SABEM EM SEUS CORAÇÕES, POR MEIO DA GRAÇA DESSE DEUS, O QUE É VIVER UMA VIDA VERDADEIRAMENTE BEM-SUCEDIDA”.

A obra em questão apresenta a visão mais cientifica dos estudiosos em relação a religião. Muitos deles atingem o maravilhamento, mas não através de um Deus, mas sim das leis da física, da ciência, do entendimento de como o universo funciona e suas leis. Esse tipo de admiração desperta um Humanismo Secular, é uma espécie de dogma da ciência estritamente técnico, colocando o homem e a ciência a frente, sendo possível uma nova teoria derrubar a anterior a qualquer momento, em prol da nova descoberta. Eles respeitam o que existe e a forma como existe, acreditam na criação de tudo de forma mais pragmática, não necessitam de contos mitológicos para entenderem o universo e por mais que ainda não saibam como tudo surgiu, ainda buscam por essa verdade dia após dia de uma forma mais racionalizada. O que os religiosos teístas tem e conseguem uma maior plenitude, é decorrente da fé. Entender tudo que existe a partir da fé, traz a tranquilidade da “verdade” decorrente ponto de vista, vivem através disso e por isso, não sofrem, nem questionam algo posto.

AS ALCUNHAS DE DEUS
DEUS PESSOAL


Nesse trecho começamos a entender um pouco a visão do autor em relação a figura de Deus. Para os teístas, Deus é extremamente pessoal, ele fez o universo e tudo que existe, te dotou de sabedoria e livre arbítrio, porém leva em consideração valores morais e éticos a todo momento, mas caso você escolha errado, as chamadas “coisas do mundo” terá grande chance de ser condenado (tortura eterna no inferno e ausência d’Ele) ou caso escolha uma vida regrada, pautada nos valores da religião imposta, será convidado ao paraíso (decorrente de sua obediência e temeridade, irá compartilhar com Ele a paz eterna). O questionamento dos céticos, partem do ponto de não entender o jogo do teísta. Por que Deus onipotente como é, capaz de criar o castigo eterno ou a paz plena, não foi capaz de nos criar como seres perfeitos? A religião cristã pelo menos, prega que éramos perfeitos, mas cometemos o pecado original (Adão e Eva) por isso perdemos o direito do convívio com Deus no Jardim do Éden. Por outro lado é possível pensar nas razões pelas quais Deus colocaria um fruto proibido ao alcance de alguém que não deveria pegá-lo (será que colocou só para testar a obediência? Se desconfiava disso, será que éramos de fato perfeitos? E por que tinha uma cobra no Jardim do Éden?) Brincadeiras a parte, claro que as histórias bíblicas utilizam-se de metáforas, contos, parábolas para passar a mensagem que necessita. O mundo nem sempre fez tanta questão de ter-se os fatos reais. A filosofia foi grande responsável por mudar a forma de se entender as coisas. Passamos do mito para o Logus e isso trouxe uma nova forma de aprender. O livro não se atualizou, mas por ter sido escrito com o objetivo de ensinar a “moral da história” com suas metáforas e parábolas, é passível de novas interpretações… o que dá certa longa vida ao prazo de validade.

DEUS IMPESSOAL


Já o Deus impessoal parece distante aos costumes e códigos de ética. O Deus impessoal é a natureza das coisas, mora ao olhar, tudo que vemos é natureza, tudo que vemos é onde Deus está. Os religiosos não teístas acreditam que toda beleza que conseguimos contemplar na natureza é a essência de Deus. Ele disponibilizou inteligência e sabedoria para que possamos entender a física, química e biologia do mundo/universo, para que assim possamos contemplar suas obras, no micro e no macro. Um ser tão onipotente não está interessado em moralidade, não está interessado em condenar ao castigo eterno, mas, interessado com a possibilidade de que sua maior obra (nós) possa compartilhar com Ele as maravilhas criadas por suas “mãos” ao conviver e conhece-lo através da ciência, ao fato de vê-lo na essência de um átomo ou na vastidão do universo registrada por um satélite.

Essa visão foi considerada uma espécie de panteísmo, por utilizar desse pensamento de que através dessa sensibilidade, poderíamos sentir em nossos corpos, através dos 5 sentidos, a essência de Deus. Somos capazes de contemplar algo belo e gigante e isso nos causa um maravilhamento. A complexidade da criação de algumas coisas naturais, nos trás emoção, e isso gera um dilema… É belo por que acho que foi Deus quem fez, ou é belo por que entendo a complexidade da obra? A simetria da natureza nos causa maravilhamento, pois os cientistas acham belo pela possibilidade de que a partir de pequenos pontos, um dia teremos acesso a beleza final de tudo.

A igreja há uns bons anos acusou o filosofo Espinoza de Ateísmo, por partilhar esse tipo de visão. Para Espinoza Deus era muito mais do que o Deus do velho testamento ou Jesus Cristo do novo testamento, para o pensador Deus estava envolvido com muito mais dadivas que os homens poderiam enxergar, sua essência estava em tudo, e tudo é contemplável e sensível.

E mesmo com tantos entraves e discussões sobre os temas, o autor ainda aborda que a religião teísta é fundamental para ajudar a entender o que é viver. Para muitos, é extremamente importante saber que aqui não é o fim, ainda há possibilidade de viver uma vez mais, no pós morte. A religião teísta dá sentido a vida no que tange a objetivos e propósitos de se estar aqui (já que tem uma diretriz oferecida pela religião teísta). Embora saibamos que guerras são travadas, e há inúmeras e incontáveis mortes por conta da religião, ainda assim é fundamental acreditar que nossas atitudes morais e éticas na sociedade estão sendo analisadas e serão julgadas depois da morte. Serve com um acalento emocional, e mais que isso, uma forma de controle de danos sociais.

Já pelos religiosos não teístas, o desejo de imortalidade também permanece, mas se traduz em algo mais prático nas relações e sensações. Cultivar uma boa vida, feliz, saudável, com ótimas relações e sentimentos, é uma forma de imortalidade. já que utilizou e contemplou tudo de bom que o mundo pode proporcionar. Entendem melhor que tudo é finito e por aceitar isso, aproveita-se mais tudo que é permanente e o que é eventual.

Um livro curto que te coloca a pensar por muitas horas. Distribuído no Brasil pela editora WMF Martins Fontes. Acredito que uma leitura bem tranquila te fará repensar alguns pontos da vida, seja ela colocada aqui por Deus ou pela natureza, é importante contempla-la.

site: https://espacols.com.br/filosoficos/o-maravilhamento-pela-criacao-religiao-sem-deus/
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