Julia G 16/01/2013Sete Dias Para Uma Eternidade... - Marc LevyResenha publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com.br
"- [...] não existe nenhum bem imenso que se possa representar, Zofia, simplesmente porque, ao contrário do mal, o bem é invisível. Ele não pode ser calculado, nem contado, sem que se perca a virtude e o sentido. O bem é composto de uma infinidade de pequenas ações que, se colocadas de um extremo ao outro, talvez, algum dia, acabem por transformar o mundo. Peça a qualquer pessoa para citar cinco homens que tenham mudado o curso da humanidade para o bem. [...] poucas pessoas conseguirão citar esses nomes, sendo que lembrarão, sem problemas, dos nomes de cinco ditadores. [...] O apogeu do mal que todos nós tememos é o fim do mundo, mas parece que ignoramos que o apogeu do bem já ocorreu... o dia da criação."
Há milênios, o bem e o mal disputam espaço na Terra, sem conseguirem exatamente se sobrepôr um ao outro. Cansados desse desafio eterno, Deus e Satã fazem um acordo de mandarem, cada um, seu melhor agente à Terra para cumprirem sua missão, e aquele que vencer essa disputa final terá, enfim, poder sobre todo o planeta.
Zofia, enviada por Deus, é o que se poderia imaginar de um anjo moderno: uma pequena tatuagem de asinhas e a versatilidade na aparência para cumprir qualquer tarefa a que tenha sido designada. Do outro lado, Lucas, atraente e charmoso, impecável em seus ternos e trejeitos, mostra que cara não é coração, já que espalhar o caos lhe dá um prazer imensurável. O que os "chefões" não previram, contudo, foi que os dois se encontrariam nessa jornada, e que isso poderia mudar todos os planos.
Sete dias para uma Eternidade, de Marc Levy, conseguiu ir além do que eu esperava, e misturou emoções que mais influenciam uma leitura: diversão e romance, com uma pitada de ironia. Já havia gostado e Onde você está?, do mesmo autor, mas dessa vez me senti suspirar ao fechar o livro.
Assim como no livro lido anteriormente, a escrita característica de Levy se faz presente, rápida e inteligente, sem muitas explicações, mas com várias idéias implícitas. Trata-se daquele tipo de narrativa em que qualquer detalhe é fundamental para compreender o andamento da história. Com cenas curtas, a impressão de que o texto é superficial, mas os diálogos de impacto transportam para além do escrito, criando sentimentos e reflexões nas entrelinhas.
Zofia e Lucas são exatamente a personificação do bem e do mal; ela não consegue nunca se irritar, agindo sempre com o coração; ele possui frieza e indiferença como poucos. Mas é incrível ver como o encontro dos dois vai mudando-os aos poucos, deixando-os mais equilibrados, mais humanos... e o amor que nasce entre ambos é, ainda que estranho, divino.
Gostei da idéia de trazer os benfeitores e malfeitores como "agentes secretos", mas se engana quem pensa que isso insere mais ação na trama; pelo contrário, parece até que fica faltando algo, já que a missão fica em um segundo plano em detrimento da história da vida dos protagonistas e dos personagens secundários. Estes últimos, inclusive, também cumprem importantes funções na obra; Matilde, Reine e Jules, principalmente, completam o enredo e o fazem ainda mais bonito, com sua doçura e superação.
A capa, apesar de ser um pouco sem graça, em minha opinião, fala muito sobre o livro. Sete Dias para um Eternindade é uma história bastante leve, tocante e fofa, que vale, sim, ler.