Agora é que são elas

Agora é que são elas Paulo Leminski




Resenhas - Agora é que são elas


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Tania Capel 27/12/2013

Uma viagem pela teoria da composição
Muita gente conhece Paulo Leminski da poesia... então é uma excelente oportunidade para outros olhares... e outros prazeres! A leitura é rápida... e a única regra é deixar de querer entender... Página após página as coisas acabam por se esclarecer, ou não.

"Agora é que são elas é uma história que desvenda o processo de todas as histórias, uma novela com começo, meio e fim, claro que, não necessariamente nessa ordem. Esta obra de ficção ou re-ficção é um romance para tocar no rádio." Assim é apresentado o livro de Leminski. Mas... ele vai muito além disso: ele brinca com Propp - o formalista russo que propôs uma norma para os contos de encantamento. O Cachorro Louco vive uma história de amor tumultuada com Norma, cheia de indas e vindas e mal-entendidos... Agora é que são elas é uma viagem surreal ao mundo da composição e ao universo leminskiano.

"Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está a fim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei tudo que tinha aprendido em Kant e
Hegel, repassei toda a teoria dos quanta, a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo do 14-bis, cheguei e não perdoei:
— Tem fogo?"

a partir daí Norma comanda a relação... ou pensa que comanda!
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jota 22/05/2022

NÃO APRECIEI MUITO a leitura que fiz dessa obra, mas pode ser que você a aprecie loucamente, quem sabe?
Lido entre 13 e 20/05/2022. Avaliação da leitura: 2.8/5,0

ATENÇÃO: o texto traz algumas citações de Leminski contendo palavrões e expressões "inapropriadas"

Nas informações bibliográficas de Agora é Que São Elas (Iluminuras, 2011), de Paulo Leminski (1944-1989), consta que a capa dessa edição foi bolada por Eder Cardoso “sobre imagens da deusa Nut, encontrada em sarcófagos de faraós no Egito”. Que as figuras representadas tinham a ver com hieróglifos egípcios, escrita pictórica que levou muito tempo para ser decifrada etc., disso eu não tinha dúvida alguma. Teria sido proposital? Porque depois de lida a obra veio a certeza: como os hieróglifos egípcios, os textos de Leminski também precisam ser decifrados, não dá para entender sua escrita logo de cara. Ah, mas tem apresentação e posfácio pra ajudar, não? Sim, iremos a eles em seguida.

A apresentação do livro e seu autor começa na capa traseira e termina em suas orelhas. É um texto escrito pelo poeta Elson Fróes, que também já traduziu para o português obras poéticas de renomados autores. Fróes inicia sua louvação escrevendo que “Leminski no círculo dos escritores mais inventivos se ombreia em talento com Joyce, Rosa ou Carroll no fabuloso Catatau, seu aclamado primeiro livro, e a um Italo Calvino ou Cortázar neste "Agora é que são elas".” Bem, lendo tudo isso só pude pensar que Agora... prometia muito. Mas entregaria? Eu pensava em encontrar nessa prosa de Leminski não a mesma excelência que encontrei no ótimo Toda Poesia (Companhia das Letras, 2013), mas ao menos algo parecido.

E Fróes prossegue: “Sempre genial no que fazia, Leminski saiu-se com esta: “O romance não é mais possível."Agora é que são elas" é um romance sobre a minha impossibilidade de fazer um romance”. E lançou então esta narrativa, em lúdico e atrevido exercício, misturando todo seu repertório e talento como poeta, tradutor, ensaísta, publicitário, músico e transgressor inventivo de diversas normas.” Agora é Que São Elas seria então para Fróes um “suprarromance”, onde encontramos, tudo junto e misturado: “paródias, ironias, citações várias, inversões de perspectivas, norma culta ou linguajar desbocado.” De fato, é isso mesmo o que ocorre nessas páginas. E nem tudo é lá muito palatável...

Você continua lendo o texto de apresentação e quando chega próximo do final, um tanto do seu entusiasmo inicial diminuiu consideravelmente porque parece que essa leitura não será muito facilitada por Leminski. Fróes confirma isso: “Além das aparências, este definitivamente não é um romance fácil ou superficial. E a crítica vem se desdobrando em análises para lhe renovar elogios. A vida como um carnaval passando pelo labirinto, dentro ou avessa a certas normas. Ficção e realidade, indagações sobre a existência. “Ao delito de deixar o dito pelo não dito” é o pensamento vivo de Leminski que conspira por aqui. Mas será que é mesmo assim?” Essa é a pergunta final de Fróes. Cabe a quem ler o livro até o final respondê-la. Ou não.

Mesmo com certas dúvidas na cabeça e pensando que talvez fosse encontrar trechos ou páginas inteiramente confusos, achei o início interessante. Porém, poucas páginas depois, fiquei com vontade de abandonar o livro. Não abandonei, mas interrompi a leitura e fui ver o que o respeitado tradutor e ensaísta Boris Schnaiderman, que escreveu o posfácio desta publicação, jogava alguma luz sobre o texto de Leminski. Quem leu a edição da Brasiliense não teve acesso ao posfácio “Em Torno de Um Romance Enjeitado”, que foi publicado no mesmo ano da morte de Leminski (1989), porém depois dela. Mas que pode ser facilmente encontrado na rede. Ah, quem enjeitou o livro foi o próprio Leminski, obviamente, já que ele foi o pai da criança. A rejeição, não sei de que proporção, veio de parte da crítica e dos leitores.

Schnaiderman inicia seu texto lamentando a morte do autor e fazendo sua louvação: “Paulo Leminski era a própria exuberância, o transbordamento, o impulso vital, o sem-medida, o incontido, a anti-repressão. Agora, vêm os balanços nos jornais, com os indefectíveis “no entanto”, “por outro lado”, “pensando bem”. Ainda no dia de sua morte, um "correspondente especial” em Curitiba não achou nada melhor a dizer do que afirmar que o Catatau era uma cópia do Ulysses de Joyce.” Bem, Catatau, lançado em 1975, é tido por muitos como uma das obras-primas da literatura nacional de invenção do século passado, mas não por todos, daí a queixa de Schnaiderman. E esses poucos, ainda segundo ele, também pensariam que Agora é Que São Elas marcaria a decadência literária de Leminski.

Daí, em defesa dele e de sua obra, Schnaiderman vai transcrevendo e explicando diversos trechos do livro (são várias páginas que usa para isso, onze, para ser exato), chegando a reconhecer que tinha de parar logo com isso porque senão “[...] acabaria transcrevendo o livro todo. Em sua aparência de brincadeira inconseqüente, em sua leveza de toque, na realidade ele aborda alguns dos temas essenciais de nosso tempo.” Um deles seria sobre o que Leminski imaginava a morte do conto e do romance tradicionais, ao mesmo tempo em que teria percebido no mundo, Schnaiderman prossegue, “[...] uma nova narratividade, ligada aos novos meios de expressão. Em vez de se deixar sufocar por eles, a palavra encontra caminhos para se afirmar.”

Com essa esperança, que seria não apenas de Leminski, Schnaiderman encerra o posfácio afirmando que é, com esse pensamento, que ele vê Agora é Que São Elas, um “[...] objeto fascinante e perturbador e que adquire nova dimensão quando penso no amigo morto e na sua trajetória.” Tudo muito bom, tudo muito bem, mas como fica o leitor diante desse suprarromance? Que nos anos 1980 foi lançado pela Brasiliense como “Ficção, re-ficção, uma história que desvenda o processo de todas as histórias, AGORA É QUE SÃO ELAS, uma novela com começo, meio e fim (não necessariamente nessa ordem, é claro). Um romance pra tocar no rádio.” Pois é, tocar no rádio naquela época, com todos os palavrões cabeludos que Leminski cunhou nessa história amalucada, isso não se deu nem nos melhores sonhos de seu editor, claro. Sonhar não paga imposto, não é?

Bem, você vai lendo e lá perto do final, algumas coisas podem passar a fazer sentido ou não, isso não importa tanto, porque a viagem chegou ao fim e isso é um conforto para o leitor. De todo modo, destaco duas ou três coisas que anotei durante a leitura porque achei que valia a pena citá-las aqui, no final desse comentário. A primeira é a cena do casamento do narrador com Norma Propp, filha de Vladimir Propp, o autor de Morfologia do Conto Maravilhoso -- autor e livro são reais. Um conto maravilhoso é justamente o oposto do que Leminski buscava, não? Sobre Norma ele escreve: “De normas, vocês sabem, o inferno está cheio.” Não apenas delas, de boas e más intenções também. Mas vamos lá, à cerimônia de casamento, à conhecida pergunta do celebrante:

“-- Se alguém tem alguma coisa a dizer contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre.
“E todos realizaram aquele nosso mais fundo desejo infantil. Um gritou:
“-- Eu tenho, reverendo! Essa mulher é uma put@!
“-- Ela trepou com o noivo antes do casamento!
“-- Ela já é casada!
“-- Ela tem um amante!
“-- Ela cobra um absurdo pra chup@r um p@u!
“Foi com muita fleugma que virei a cabeça para olhar a massa dos fiéis, donde saíam aquelas vozes.
“Nisso, uma voz gritou:
“-- Esse cara é vi@do!
“-- A mãe dele está na zona!
“-- Vi ele de sacanagem com a menininha lá fora!
“-- Ele tem filho com tudo quanto é mulher!”

É isso aí. E mais aquilo. Considerei esses diálogos uma das melhores coisas que saíram da cabeça do Leminski para essa obra. Mas tem mesmo alguma coisa a ver com Italo Calvino ou Julio Cortázar? Tenho minhas dúvidas. Mas vamos para outro trecho interessante: “Dei o braço a Norma e descemos a escada com a elegância que uma pedra de gelo exige para voltar a ser água.” Bota elegância nisso, hein! E finalmente, o trecho referente a uma lembrança que o narrador conservava do pai de sua amada, o teórico russo: “O cheiro de éter e livros velhos que emanava do professor Propp, embora não tivesse éter no consultório e as lombadas das suas coleções de livros luzissem como uniformes de oficiais em dia de parada” Mas essas lombadas também podiam brilhar como objetos de prata recém-polidos, não? Ficava mais fácil de desentender tudo. Ou não?
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Josi 31/12/2020

Festa estranha com gente esquisita
Uma das histórias mais loucas que já li. Psicodélico, inusitado, frenético, o livro te leva por caminhos inesperados, com certeza uma narrativa muito à frente de seu tempo. Engraçadissimo e surreal, pode não agradar a todos, mas tem potencial pra surpreender quem estiver aberto a novas possibilidades. Ja amava a poesia do Leminski, pretendo descobrir toda sua prosa também
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Marquesca 23/11/2015

Um leitura leve, rápida, descontraída e completamente doida.
Ao terminar o livro eu cheguei à conclusão que essa leitura tem uma única regra, que é deixar de querer entender a história. Porque páginas após páginas é narrada uma história que não há lógica nem senso temporal, tudo acontece ao mesmo tempo e as cenas fluem como em nossa cabeça, como memórias, insights, indagações e agonias. Nem o próprio narrador sabe como de fato cada coisa acontece. Há uma mistura entre ficção e realidade. Será que foi um sonho? Qual parte era verdade? Foi ontem ou semana passada?
Agora é que são elas é uma viagem surreal ao mundo da composição e ao universo leminskiano, que você simplesmente não consegue de ler.
Para quem quer conhecer o estilo de Leminski eu super indico. "Morrer é apenas umas das coisas que podem acontecer com a gente.
Talvez a menos importante.
Uma mera formalidade.
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jackpveras 29/08/2023

Muito bom
A obra de Paulo Leminski dispensa comentários, e este livro aqui é uma delícia de ser lida. Recomendo muito!!!
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Jornal Nota 16/04/2020

Leminski: escrever é estar, a todo instante, diante (e transando) com a Norma
Agora é que são elas recebeu muitas críticas quando lançado, como se fosse uma "obra menor" de Paulo Leminski. Dizia-se que a obra teria sido um "erro", fato que foi repetido, inclusive, pelo próprio autor, principalmente após a boa repercussão de Catatau, considerada por muitos o seu Ulisses.

Entretanto, alguns anos após o lançamento a obra começou a receber atenção. Agora é que são elas é, a meu ver, um grande ensaio sobre o ato de fazer um romance, e digo ensaio no sentido estrito a palavra, como se fosse a obra uma espécie de preparação de um romance que não se escreve, que permanece enquanto preparação. Em alguma medida, e isso foi apontado por Boris Schnaiderman, para quem Agora é que São Elas é um romance que se "desescreve" a todo instante. Mas do que fala o livro?

A história é dividida em alguns planos: o principal deles é sobre um homem que está sempre frente a uma festa cujas regras ele não consegue compreender. Nela, acaba por se envolver ou se ver envolvido com uma mulher, Norma. Em outro plano, ele está sendo atendido por Dr. Propp, uma espécie de psicanalista à lá Freud e acaba por se envolver com sua filha, também chamada Norma. Em um terceiro plano, o sujeito se envolve em uma história de sci-fi com uma menininha sonhadora com nome Norminha.

Ou seja, trata-se de um romance em que Leminski está a todo instante diante da linguagem, diante de um batalha frente a uma escreve e frente ao gênero romance. Sua personagens, assim como, também: está diante da Norma.

site: www.notaterapia.com.br
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Domi 06/12/2020

Viagem puríssima
Oh maravilha! Super bem ambientado, personagens vívidos. Frases cheias de armadilhas experimentais e muita doideira. Eu adoro o Leminsky, sou suspeita ^^ leiam!!!!
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Marcela Bianchini 10/10/2021

onírico espetacular
fico espantada com o baixo reconhecimento desse livro, o qual foi renegado pelo próprio leminski. tudo nele me encantou: a ausência de tempo-espaço e o protagonismo de Norma Propp (porque afinal, o livro é sobre ela). Não é uma leitura para todo mundo, mas como fui forjada lendo Douglas Adams e Bukowski eu amei.
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fernandosj 24/01/2024

Lendo livros que eu era obrigado no ensino médio, pt. 2
Mds, como um professor deixou um jovem de 14 anos ler esse livro? Hahaha
Confesso que foi difícil engatar esse, um pouco enrolado, não me pegou tanto assim, porém a escrita é boa só não foi pra mim
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