Daisy 20/09/2019Tinha tudo pra dar certo mas não deuEu queria poder falar tão bem desse livro quanto falei de Querem nos calar, mas não será assim essa resenha. Vou tentar apontar os pontos que me agradaram e desagradaram de modo a evitar ao máximo spoilers (apesar de muita coisa ficar em aberto no final).
Uma coisa que gostei bastante da escrita do Daniel Mastral, sendo este o primeiro livro que leio dele, foi o cuidado com as descrições e as contextualizações históricas. Os cenários, os momentos foram tão cheios de detalhes que permitem ao leitor compreender o porquê das coisas acontecerem do jeito que é narrado no livro. Porém, uma coisa que me irritou bastante foi o excesso de detalhes. É legal você entender a construção do pensamento de um personagem, mas fica cansativo quatro ou cinco páginas de descrições de momentos históricos que servem apenas para pontuar como um personagem é babaca ou outra personagem foge do padrão geral. Eram coisas que poderiam ser simplificadas e tornaria a leitura muito mais fluida (para mim, pelo menos).
O feminismo, a ideia de emancipação das mulheres, principalmente considerando-se que o livro se passa na década de 1950, é algo muito bem trabalhado, principalmente mostrando essa faceta da Victoria, personagem principal, de ser uma garota que não quer apenas se casar e ter filhos como uma típica americana, e sim, formar-se na faculdade e ter sua própria casa. Ela inspira até mesmo as leitoras de hoje a saírem desse lugar comum de subservientes. Victoria é muito bem construído nesse sentido, e o feminismo é até bem argumentado nesse ponto.
Mas, por mais que esse papel feminino da dona de casa dos anos 50 seja muito questionado e de forma bem feita ao longo do livro, alguns tropeços foram dados. Após uma cena que Victoria ansiava por liberdade, por ser quem quisesse, vinha uma cena de rivalidade feminina. Ao ponto de ser chato.
Os personagens apresentados, tirando Mithry no prólogo e Victoria ao longo do livro, são muito dicotômicos. Quem é bom, é muito bom. Quem é ruim, é bestial. Não havia nenhum personagem que transitava nos dois aspectos, o que fez com que eu achasse os personagens extremamente rasos e com convicções pouco convincentes.
A história presente na sinopse demorou mais de 200 páginas para começar, e foi realmente o ponto alto do livro. Acabei presa na leitura tentando saber como ela sairia da situação tão angustiante que estava vivendo, se é que sairia, mas durou pouco e o livro acabou.
O prólogo em si não fez muita diferença ao longo do livro, apenas em um momento no final, deixando MUITAS perguntas em aberto. Personagens que também foram apresentados no meio da trama, com pouca relação com a história principal parecem que foram deixados ali de forma aleatória. Muitas perguntas são feitas ao longo do livro, mas uma ou duas são explicadas, deixando não só pontas soltas, mas teorias inconclusivas e conexões muito mal desenvolvidas. Termina-se o livro sem realmente compreender se Victoria foi ou não foi outra pessoa, quem ela foi, por que ela foi e como isso aconteceu. Percebe-se claramente ao final da leitura que esse livro terá uma continuação, e espero que ao menos 60% das minhas perguntas sejam respondidas, como, por exemplo, por que Mithry saiu do reino onde vivia.
Eu queria ter gostado mais da leitura, mas não consegui me conectar à história ou a algum personagem específico. Esperava um desenvolvimento maior da história, até mesmo mais rápido, mas não posso negar que Daniel Mastral sabe escrever bem e mereceu o prêmio que ganhou (de acordo com a orelha do livro). Talvez outro livro dele possa ser mais interessante, mas A História de Mithry não foi uma leitura muito divertida, e nem seria um livro que recomendaria a leitura.
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https://mundohype.com.br/review-a-historia-de-mithry-de-daniel-mastral/